Rolhas de vinho

Rolha da Nomacorc é similar à charmosa cortiça - Divulgação

Em maio de 2010 já escrevi um artigo nessa coluna sobre o assunto, intitulado “Qual a melhor rolha?”. Porém,  recebi e-mails que me provocaram uma revisita ao tema, a cata de novidades. Constatando que, a despeito de alguns inconvenientes, a rolha de cortiça continua sendo utilizada em cerca de 80% das garrafas. Olhando pelo outro lado da estatística, houve um substancial aumento no uso dos outros tipos de rolha. Você talvez se pergunte a razão disso, por que deixar a clássica e charmosa rolha de cortiça? Naquele meu artigo de anos atrás já lhe dava conta do motivo.

O processo de exploração do sobreiro, árvore de onde se extrai a cortiça, é muito lento e custoso. Custo que é transferido a você, consumidor.  Por outro lado, segundo a International Wine Chalenge (IWC), maior concurso de vinhos do mundo, entre 5 e 6% das garrafas abertas nesta contenda apresentam algum defeito no fechamento da garrafa, sobretudo o “sabor de cortiça” (ou “bouchonné) e a oxidação/redução do vinho. O primeiro é provocado pelo TCA (tricloroanisol, tetracloroanisol ou tribromoanisol), liberado pelo contato de um fungo com químicos da cortiça, conferindo ao vinho um gosto de “jornal mofado”, “papelão úmido”, ou “cachorro molhado” (argh!), que pode comprometer até 2,5% das garrafas. É pouco, diria você. Pode ser, mas queria ver sua cara, abrindo um gabaritado vinho ao lado de sua amada companheira, numa bela noite de luar e descobrir que ele estava com gosto ruim! A bem da verdade, há hoje processos modernos que reduzem bastante o risco de TCA, mas o custo e outros problemas continuam lá. Um deles diz respeito à oxigenação. Todo vinho precisa “respirar”.

Os vedantes da garrafa precisam permitir uma sutil entrada de ar, de forma lenta e gradual - se eu acrescentar segura você vai me acusar de partidário do Geisel, né? Mas tem que ser na medida e a cortiça é heterogênea. Além disso, se a cortiça secar, perdendo sua desejável flexibilidade, entra demais e oxida o vinho. Por esse prisma, as rolhas de rosca (“screwcap”) parecem ideais. Mas ela peca por não deixar entrar ar nenhum, gerando o indesejável processo químico inverso, a redução do líquido, com seu gosto de ovo podre! As baratas rolhas sintéticas ou semissintéticas (mistura de cola ou silicone com cortiça reciclada) carecem de flexibilidade e vedam mal. Nesse imbróglio, surgiram opções em vidro e plástico (tais como Vino-Lok e Zork) que também são caras. E não são “ecológicas”! Daí, uma empresa chamada Nomacorc lançou uma nova categoria de vedantes, intitulada PlantCorc™. Feita a partir de matéria prima de cana de açúcar, oferece modelos que permitem diferentes velocidades de oxigenação, conforme o desejo do produtor para amadurecimento de seu vinho nas garrafas. Ademais, a Nomacorc se denomina sustentável (olhe aí, D. Susana!).

Acrescento outro mérito, seu aspecto bastante similar à charmosa cortiça (ver foto). Essa rolha se junta a outras, atualmente conhecidas como tampas técnicas. Vamos aguardar o futuro para ver se ela de fato ocupa o espaço que se propõe. Seria bom que sim, pois nosso maior produto agrícola, a cana de açúcar, teria mais um mercado. E, voltando a meu artigo de 2010, em vez de alumínio e plástico, eu teria rolhas bonitas da minha coleção para mostrar aos bisnetos. Que estão longe de chegar, mas um dia... Tim, tim, brinde à vida.

*Murilo Guimarães é médico e enólogo e escreve quinzenalmente neste espaço

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