Val d’Orcia (Toscana)
Conhece, leitor? Não? Pois considere passar lá uns três dias, numa próxima viagem. Está difícil, né? Eu entendo: faturamento baixo e Euro nas alturas... a equação não fecha. Então se lembre disso na próxima eleição e escolha melhor o presidente!
Bem, na minha faixa etária, filhos criados, fazer extravagâncias, de vez em quando, é oxigenar a vida. Na Páscoa, fui marcar presença no Ano Jubileu e de Roma estiquei para essa parte privilegiada da Toscana. Patrimônio Mundial da UNESCO desde 2004, o Val d’Orcia é conhecido por suas paisagens onduladas, enriquecidas por belos ciprestes, campos dourados de trigo, lindos vilarejos medievais e vinhedos.
Sim, lá é berço de dois dos mais cultuados vinhos tintos da Itália, Brunello di Montalcino e Vino Nobile di Montepulciano. Com os quais você já pode ter se deliciado. Se ainda não, ao menos ter ouvido falar. Mas antes de explorar o tema enofílico, deixa eu dar vazão a meu lado turístico.
Essa região, a norte de Siena, além da bela paisagem, sedia algumas charmosíssimas vilas medievais. Destaco Pienza, conhecida como a "cidade ideal" do Renascimento, minunciosamente planejada por ordem do Papa Pio II, no século XV, que é também afamada pelo queijo Pecorino.
San Quirico d'Orcia, lar dos belos jardins Horti Leonini e da Capela de Vitaleta, um dos cenários mais fotografados da Toscana. Bagno Vignoni, uma vila termal com águas quentes
naturais e uma piscina histórica no centro da praça. Montepulciano, a maior delas, famosa pelo vinho Nobile di Montepulciano e por sua linda atmosfera medieval.
E Montalcino, berço do vinho Brunello di Montalcino, que tem um belo centro histórico, com vistas do vale e uma impressionante fortaleza medieval, a Fortezza la Rocca. Os primeiros registros da vila, no caminho de peregrinação Via Francigena, datam do século IX. Tudo indica, edificada pelos monges da vizinha Abazia de Sant’Antimo, imponente igreja que merece ser visitada.
Como merecem ser comprados os bombons de aniz – saudade de mamãe – feitos no local. Me reportando à típica culinária da região, focada nas massas (especialmente pici),
carnes de caça, trufas e queijo pecorino. Há ótimos restaurantes, alguns com estrela Michelin, tanto nas vilas, como nas vinícolas.
Que exploram o enoturismo, ofertando hospedagem em charmosas construções medievais, rodeadas por campos de videiras, oliveiras e ciprestes. Cenário de filme, amigos. Aliás, alguns,
como o Gladiador, exploraram a exuberante natureza local. Restando falar mais de vinho.
O Nobile, como o nome sugere, foi o tinto dos nobres da Toscana, entre eles os Medici. É feito com um mínimo de 70% da uva Sangiovese, conhecida em Montepulciano como Prugnolo Gentile. Outras castas, tintas e brancas, completam o corte. Precisa ser maturado durante 24 meses, resultando em um vinho muito saboroso, porém mais leve que seu “vizinho” Brunello. Este, produzido obrigatoriamente com 100% da uva Sangiovese Grosso, à qual se deu o nome de Brunello por sua casca mais escura.
É amadurecido, no mínimo, por 5 anos, entre tonéis de madeira e garrafa. Sobre o Brunello já lhe falei mais nesse espaço. Hoje quero destacar vinícolas que merecem visita e degustação (quiçá hospedagem): Biondi Santi, Ciacci Piccolomini d’Aragona, Casanova di Neri, Castiglion del Bosco, Castelo Banfi, Conti Costanti, Fattoria dei Barbi, Frescobaldi e Mastrojanni.
Só faltando dizer que Montepulciano e Montalcino produzem um segundo vinho, o Rosso, também de alta qualidade. Com uma boa taça de Brunello e a memória viva do estonteante cenário do Val d’Orcia, tim, tim, brinde à vida.