Corrida pela vacina contra Covid-19 mantém clima de tensão entre Jair Bolsonaro e governadores

Em mais um capítulo do imbróglio envolvendo os governadores e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), os gestores estaduais lançaram um ofício pedindo a abertura do diálogo diplomático entre o governo brasileiro e os países provedores de insumos, como China e Índia. A medida dos governadores foi mais uma das pressões direcionadas a Bolsonaro para resolver a crise das vacinas. 

A ação foi encabeçada pelo Governador do Piauí, Wellington Dias (PT), que coordena a temática de vacina no Fórum de Governadores. Ao todo, 16 Estados já assinaram o ofício: Espírito Santo, Pernambuco, Paraíba, Piauí, São Paulo, Ceará, Sergipe, Rio Grande do Norte, Maranhão, Rio Grande do Sul, Amapá, Pará, Alagoas, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Minas Gerais. A medida também acontece dias após o Governo Federal ter anunciado que estava indo buscar os imunizantes na Índia e o governo Indiano ter adiado a entrega do material.

Como resposta às cobranças, Bolsonaro voltou a minimizar o atraso do início da campanha de vacinação, decorrente da crise diplomática envolvendo o Brasil e a Índia. O presidente chegou a afirmar que as vacinas foram entregues no "D-1''. Uma referência ao que disse o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, quando afirmou que a vacinação teria início no "dia D e na hora H", mesmo sem previsão segura do início da vacinação no país. 

"A nossa Força Aérea, nesta primeira parte da entrega de vacinas no Brasil, cumpriu sua missão no dia D-1. Isso é motivo de orgulho, tendo em vista o seu planejamento, a sua organização, o seu patriotismo e o seu sentimento de defesa dos direitos humanos", afirmou.

A vacinação, porém, começou por São Paulo no último domingo, quando o governador João Doria (PSDB) impôs derrota ao Planalto. O Ministério da Saúde só iniciou a distribuição de imunizantes a todos os estados na última segunda-feira, e, mesmo assim, com atraso no envio à alguns estados.

Diante do impasse na obtenção dos insumos e atrasos na distribuição de doses, o governador João Dória, provável presidenciável em 2022, voltou a subir o tom contra a gestão federal da pandemia. Questionado sobre a possibilidade de não conseguir respeitar o cronograma de datas previstas para a primeira fase da vacinação, Doria fez uma espécie de apelo, pedindo que integrantes do alto escalão do governo federal melhorem a relação diplomática com a China. 

O governador de São Paulo já declarou que espera em até 48 horas uma resposta do governo chinês favorável ao envio de insumos utilizados para o envase das doses da Coronavac, produzida pelo laboratório chinês Sinovac.

Análise

Na avaliação do cientista político e professor da UFPE, Ernani Carvalho, o tensionamento das relações entre os políticos tem se intensificado na esteira em que o tempo vai passando e a solução para a crise sanitária não se resolve. Segundo o especialista, a instabilidade aumenta quando parte da solução para o problema - a vacina - poderia ter sido resolvida mas não foi por conta da inabilidade do governo.

"Isso me parece estar sendo posto à prova agora, porque as pessoas estão cansadas da pandemia, querem se ver livres dela e a saída mais rápida para se ver livre da pandemia é a vacina. Não só do ponto de vista das relações pessoais, mais tem a ver com as relações de trabalho, tem a ver com a própria retomada da economia. Então tudo está vinculado à vacina. Então eu acho que agora com essa tendência do governo de manter na retaguarda, a própria falta de organização, de coordenação, de compra e de distribuição da vacina tem se mostrado cada vez mais perigoso pro governo em termos de que essa blindagem começa a se diminuir."

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