“Desafio é ir além da palavra de ordem”, diz Randolfe

Senador Randolfe Rodrigues - Lula Marques/ Agência PT
Presente na 12ª Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, o senador e líder da oposição, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), defende a unidade do campo progressista para as próximas eleições e se mostra disposto ao diálogo com as siglas de oposição. Para isso, o parlamentar defende a construção de uma agenda política e programática. Em entrevista à Folha, o senador ainda critica a reforma da Previdência e avalia que a PEC paralela terá dificuldades em passar na Casa Alta.

Após a derrota do campo progressista em 2018, o senhor vê a possibilidade dos partidos de esquerda se unirem em um único projeto?

Acho que os democratas do país têm que se reunir em torno de um único projeto. Vai além do espectro de direita e esquerda. Acho que nós temos conquistas sociais que estão ameaçadas no Brasil. Então, eu acho que temos a necessidade de unir todos os democratas do País que veem os valores democráticos, a preservação da Amazônia e do meio ambiente e a recuperação do tecido social.

A Rede foi um partido crítico aos governos do PT. Isso prejudica uma aliança entre as siglas ou o diálogo é possível?


Nós temos atuado em conjunto, como temos atuado na reforma da Previdência, por exemplo, a que veio no Senado. Acho que é necessária a unidade em torno de uma agenda e de pautas. Não tenho preconceito com quem quer que seja, só que eu acho que o dilema e o desafio da oposição é ir muito além do que palavras de ordem. O problema não são as alianças, o problema é que temos que fazer alianças que vão além da palavra de ordem.

Como o senhor vê essa crise entre os Poderes, que teve como episódio mais recente a declaração do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot de que pensou em matar o ministro Gilmar Mendes?

É lamentável. Esse tipo de postura não é adequado, mas, da mesma forma, é condenável. O Supremo Tribunal Federal não pode utilizar de um artifício do regimento interno para fazer uma busca e apreensão na casa de quem quer que seja e utilizar um instrumento claramente inquisitorial (inquérito das fake news, que apura ameaças a ministros do Supremo) contra os cidadãos. Qualquer ameaça democrática por parte de um, merece o repúdio e não pode ter como resposta da parte de outro a utilização de instrumentos autoritários.

A oposição do Senado conseguiu aprovar apenas o destaque do abono salarial no 1º turno da Previdência. Como o senhor avalia o texto final aprovado? E qual a estratégia da oposição no 2º turno?


Vamos apresentar outros destaques que perdemos no primeiro turno e perdemos por muito pouco. Por exemplo, a pensão especial para aqueles que estão expostos a agentes nocivos a sua saúde, é um dos temas que vamos representar. E nós vamos primeiro exigir o comprimento interstício para ir fazer a votação e poder garantir e minimizar os prejuízos que já se tem os trabalhadores com essa reforma.

O senhor acredita que a PEC paralela corrigirá eventuais falhas ou omissões da reforma?

É uma PEC da balela. Sabe o que é a PEC dita paralela? É o seguinte, como o constrangimento é tão grande com a retirada de direitos no texto principal, eles dizem que vão corrigir na PEC paralela. Daí, lança tudo (na PEC). A julgar por ela, vai ser quase uma outra Constituição, de tantos direitos que lá vão ser contemplados. Trabalharei para que ela saia, mas não acredito completamente que ela prospere.

Como o senhor vê o pleito dos governadores para a aprovação da MP da cessão onerosa?

É legítimo porque a federação brasileira está em frangalhos. Nós vamos para o ano que vem com a lei orçamentária com o País com a menor capacidade de investimento em 60 anos. A política rentista de arrocho imposta desde a lei do teto dos gastos desidratou a federação. Então é legítimo que governadores e prefeitos queiram encontrar alternativas para o drama das finanças públicas estaduais, o que é legítimo. O que não aceitaremos é barganhar direitos por isso, o que nós não aceitaremos é que o governo faça chantagem com isso. Não aceitaremos trocar a cessão onerosa por fim do abono salarial para os trabalhadores, fim da pensão por morte para as viúvas, fim da aposentadoria especial para aqueles que trabalham diante de agentes nocivos à saúde. Não vamos barganhar isso, direitos conquistados pelo povo brasileiro.

Como o senhor vê essa disputa por protagonismo e como é essa disputa tributária para o senhor?

Sem sentido. E até agora não vimos uma reforma tributária que atenda os que mais precisam. Qual o problema do sistema tributário brasileiro? É que aquele mais pobre paga proporcionalmente mais tributo que aquele mais rico. E aquele mais rico, muitas vezes, não paga. O problema do sistema tributário brasileiro é que o Brasil é um dos únicos países do mundo que o sistema tributário penaliza os mais pobres e favorece os mais ricos. O problema é que aqui iate não é tributado, jatinho não é tributado. Nenhuma das propostas atinge o cerne da questão,nenhuma diz ‘vamos começar a taxar grandes fortunas’, nenhuma fala nisso. Todos estão voltados para 1% da população e não para os outros 99%.

O senhor acredita que há ambiente para a nomeação de Eduardo Bolsonaro para o cargo de embaixador em Washington?

Em condições normais, eu acredito que não. Mas Jair Bolsonaro já não é uma condição normal, embora tenha sido eleito democraticamente. É uma condição atípica que o levou à Presidência da República. Então, a condição do seu governo também é atípica, como atípico é alguém querer indicar o filho para o principal posto diplomático brasileiro no exterior. Qual o atributo que tem esse rapaz? Me encontre um? Acho que ele não está preparado para esta função, e acho que, por isso, ele não tem condições de assumir.

Com toda a polêmica da bienal do Rio de Janeiro, qual a importância da bienal em Pernambuco?

Primeiro que Pernambuco é a terra da liberdade, os ideais de liberdade floresceram neste solo sagrado aqui desde o século 16 e 17. Foi aqui que foi forjada a Nação nas batalhas de Guararapes. Foi aqui que os ideais da Revolução Francesa, com mais força, aportaram no continente americano nos ideais da Confederação do Equador, que sonhava em construir uma sociedade libertária. Pernambuco foi penalizado pelos seus ideais libertários, os líderes da confederação foram fuzilados e esquartejados, e o próprio território de Pernambuco foi separado entre as outras províncias do Nordeste. Então essa é uma terra onde os ideais libertários floresceram. Não é a toa que essa bienal tem como título ‘resistência’ e, vamos combinar, nos dias atuais, realizar uma bienal com o titulo de resistência em uma terra de tantas batalhas por resistência, tem um teor de subversão, e a subversão é sempre um ato revolucionário no caminho da liberdade.

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