Lideranças em busca do protagonismo na corrida pela vacina

Com a derrota do governo federal na disputa pelo início da vacinação, lideranças políticas adversárias do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) passaram a ver uma oportunidade de ocupar um espaço na arena política. Negacionista desde o início da pandemia, o chefe do Executivo federal e o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, perderam o domínio da narrativa, uma vez que a realidade impôs o início da imunização no Brasil. Com isso, nomes como o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia (DEM), viram a chance de ter o protagonismo no debate.

Após a autorização de imunizantes pela Anvisa, João Doria iniciou uma turnê com a Coronavac, a vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan com a Sinovac, que até o momento é a única disponível no Brasil. Nos eventos, as imagens mimetizam a original, de Mônica, com Doria de pé ao lado de um profissional de sáude sendo vacinado. No último domingo, a foto de Doria ao lado da primeira vacinada, a enfermeira Mônica Calazans, gerou irritação no governo Bolsonaro.

No início da imunização em Ribeirão Preto, Doria subiu o tom e  criticou o fato de o presidente ter colocado em dúvida a qualidade e eficácia do imunizante produzido pelo Instituto Butantan em diferentes ocasiões e lembrou que, até o momento, esta é a única vacina disponível no Brasil para vacinação contra Covid-19 -o governo federal negocia a importação de 2 milhões de doses da Oxford/AstraZeneca da Índia. "Onde estão as outras vacinas? Será que mais uma vez, além de falta de seringas, agulhas, falta de logística, testes desperdiçados com prazo vencido... Até quando vamos ter a incompetência do governo federal diante de uma pandemia que já levou a vida de mais de 215 mil brasileiros?", provocou.

Já o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) marcou uma audiência com o embaixador da China, Yang Wanming, para falar sobre o atraso no envio de insumos para a fabricação de vacinas no Brasil. O governo de Jair Bolsonaro explodiu as pontes com a embaixada, proibindo seus ministros de receber Wanming.

"O governo brasileiro interditou a relação com a China. Só fazem ataques ao embaixador. Agora está provada a importância do diálogo diplomático. Precisamos ao menos saber o que está acontecendo, qual é a razão de os insumos não chegarem ao Brasil", diz  Maia.

Análise

Para o cientista político Alex Ribeiro, diferente de outras lideranças que buscaram tomar a frente do combate à pandemia, Bolsonaro escolheu o caminho oposto e "peca pela falta de liderança". "Ele opta por um mandato ideológico. Antes da chegada da vacina, a estratégia poderia ser considerada correta. Mas, agora as movimentações apresentam riscos ao mandatário da República", avalia Alex.

Ele frisa que os erros do governo relacionados à vacina tornam-se cada vez mais evidentes e podem "elevar a sua reprovação e gerar o desembarque de algumas legendas do seu governo". "A expectativa com a vacina importada da Índia e de outros locais fracassaram. O princípio da crise com a China por conta da importação de insumos para a vacina e a intervenção de outras lideranças para resolução do caso, como a do deputado Rodrigo Maia, trazem insucessos ao seu governo", pontua.

Apesar disso, Alex Ribeiro crê que o presidente manterá a estratégia de manutenção do negacionismo. "Outros elementos podem ser criados, como o caso da culpabilização do STF sobre a autonomia dos Estados e municípios no combate à pandemia. Bolsonaro seguirá esse método", afirma.

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