O melhor do melhor

Lecticia Cavalcanti - Cortesia

 

Semana passada, referi as minhas preferências gastronômicas em Portugal. Cada um tem as suas. Gosto não se discute. Respeita-se. Daí a grande dificuldade que tiveram os portugueses, em setembro de 2011, de eleger as 7 Maravilhas Gastronômicas do país. A exigência era que fossem receitas tradicionais. E com mais de 50 anos de história.

Produzidas a partir de ingredientes próprios das muitas regiões do lugar. “Uma justa homenagem a este patrimônio único dos portugueses que resulta dos hábitos que gerações aperfeiçoaram ao longo dos tempos”, afirmou Luís Segadães, organizador da iniciativa. Para constar, foram essas as maravilhas escolhidas:
· Alheira de Mirandela (região de Trás-os-Monte e Alto Douro). Servido quase sempre como entrada. Assada na brasa (suave) ou frita em azeite, aproveitando sua própria gordura.
· Queijo da Serra da Estrela (Centro do país). Preparado com leite cru das ovelhas da região (raça Bordaleira), coalhado com flor do cardo e sal marinho. Um queijo imortalizado por muitos escritores importantes, como Gil Vicente e Eça de Queiroz.
· Caldo Verde (região do Minho). Tem como ingredientes azeite, alho, cebola, chouriço, couve-galega, água e sal. Tudo posto no fogo em tradicional panela de ferro. E usando, para mexer, apenas colher de pau. O poeta Arnaldo Ferreira descreve a sopa, num poema que ficou conhecido pela voz de Amália Rodrigues, “Uma Casa Portuguesa”, que diz assim: “Basta Pouco, Poucochinho p’ra alegrar, uma existência singela... É só Amor, pão e vinho, e um Caldo Verde, verdinho a fumegar”.
· Arroz de Marisco (da Praia de Vieira, em Leiria). Arroz (do tipo Carolino) cozido em tacho de barro, junto com ameijoas, camarão, lagosta, coentro e pimentão.
· Sardinha Assada (região de Setúbal). “Puxar a brasa para nossa sardinha” é, no sentido literal e figurado, importante e determinante no preparo da receita: colocar a sardinha com barriga pra dentro, usando grelha dupla; assar em fogo brando; virar de vez em quando, até que estejam assadas. Servir em cima do pão, também tostado na brasa.
· Leitão da Bairrada (Beira Litoral). Cerca de três mil leitões (especialmente os da raça Bisara) são servidos, por dia, nos restaurantes da região. Temperados apenas com alho, pimenta e sal, espetados em vara de madeira e assados muito lentamente, em forno de lenha (de eucalipto ou vide). Depois de assados, são cortados em pedaços e servidos em travessa, com a pele sempre virada para cima. Bem crocante. Acompanha batatas cozidas com a pele, laranja e salada.
· Pastel de Belém (Lisboa). Receita original do Mosteiro dos Jerônimos (em Belém), que passou a ser conhecida a partir de 1834 (quando foram extintas todas as ordens religiosas de Portugal). É que, para sobreviver, os pobres padres passaram a vender os tais pastéis, que ficaram conhecidos como “Pasteis de Belém”. Até hoje, feitos segundo uma receita “secreta” do convento, exclusivamente conhecida por seus mestres pasteleiros .
Difícil foi escolher apenas 7. Bom lembrar que este número, desde a mais remota antiguidade, é sobretudo um símbolo. Para Pitágoras, por exemplo, seria a própria perfeição. Para Hipócrates, “mantém no ser todas as coisas; dá vida e movimento; influencia os seres celestes”. Para os egípcios, representação da vida eterna, fechando um ciclo completo. O mundo foi criado em sete dias (seis de trabalho, mais um de descanso). Cada período lunar tem esses mesmos sete dias. Como sete são os dias da semana. E as cores do Arco Iris - vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta.

Oceanos são cinco, mas os “grandes mares” são mesmo sete - Adriático, Arábico, Cáspio, Golfo Pérsico, Mediterrâneo, Negro, Vermelho. O número aparece, também, em muitas passagens da Bíblia. Sete são as chagas de Cristo, os sacramentos (batismo, confirmação, eucaristia, sacerdócio, penitencia, extrema-unção, matrimonio), as virtudes (castidade, generosidade, temperança, diligencia, paciência, caridade humildade), os pecados capitais (vaidade, avareza, ira, preguiça, luxúria, inveja, gula). Na Grécia, sete eram os sábios - Thales de Mileto, Bias, Cleopulo, Misom, Quilon, Pitaco, Sólon. E as cerimônias do culto a Apolo se davam, sempre, no sétimo dia de cada mês - o que nos lembra que devemos celebrar nossos mortos no sétimo dia de suas mortes.
Sete são também as notas musicais, as maravilhas do mundo antigo (Jardins suspensos da Babilônia, Estátua de Zeus, Templo de Diana, Mausoléu de Halicarnasso, Colosso de Rodes, Farol de Alexandria e Pirâmides do Egito) e as do mundo moderno, escolhidas no dia 07/07/2007 (Machu Picchu, Taj Mahal, Chichén Itzá, Cristo Redentor, Grande Muralha da China, Ruínas de Petra, Coliseu de Roma). Deveríamos nos inspirar nos portugueses e pensar também em escolher as nossas 7 Maravilhas Gastronômicas de Pernambuco. Aceita-se sugestões. Escrevam.

 

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