É preciso reconhecer, respeitar e falar sobre o luto pela perda de um pet

Não existe uma fórmula pronta para superar perdas. Mas é sabido que, com apoio, a caminhada fica menos sofrida. - Aitoff/Pixabay

Imagine se ver diante da dor que é perder alguém e, ainda por cima, ter que ficar calado. Não poder externar um sentimento tão doído assim é agregar ainda mais sofrimento. E é isso o que acontece com muitas pessoas quando perdem um pet. A falta de compreensão da sociedade, ainda nos dias de hoje, acaba reprimindo e gerando mais dor. 

Em geral, o luto é um processo vivenciado quando você está diante do rompimento de um vínculo importante. E só quem pode dimensionar a intensidade desse vínculo é quem vive a relação, seja ela com um familiar, um amigo ou um pet. 

"O luto pela perda do pet é tão sofrido quanto a perda de um humano. E, quando alguém subestima a dor, é mais sofrido. Na clínica, a gente escuta bastante as pessoas dizerem 'Não posso nem chorar porque os amigos dizem que era só um cachorro'. O luto é um grito de que a sociedade está falhando. Se a gente tivesse esse suporte emocional, de acolher a dor do outro, aceitar que existem momentos difíceis, poderia ser menos difícil”, diz a psicóloga do luto Simône Lira. 

Segundo ela, julgamentos sociais como “era só um cachorrinho” ou “mas você pode ter outro” soam como uma violência e podem aumentar o sofrimento do enlutado. “Você pode até ter um outro animal, mas no momento em que se sentir bem. Primeiro tem que sentir a dor daquele que partiu, é um rompimento. A incompreensão pode piorar, porque o processo de luto requer que o enlutado fale sobre. O luto por animais de estimação ainda acaba entrando no chamado luto não reconhecido. Não validado pela sociedade muitas vezes. As pessoas ainda agem com certa estranheza, embora tenha diminuído um pouco.”

Não existe uma fórmula pronta para enfrentar o luto. Cada pessoa é única em suas reações. Simône explica que hoje é considerado um modelo dual, no qual é reconhecida uma oscilação de sentimentos entre o pesar pela perda e a necessidade de seguir a rotina. 

“Ao contrário do que muitas pessoas pensam, não existe um tempo determinado que você ‘possa’ ficar sentido e depois ‘tenha’ que agir normalmente. É um equilíbrio entre esses dois polos e pode acontecer de você sentir mais tristeza em determinados momentos, sobretudo em datas especiais, momentos marcantes que desenvolvam mais recordações”, detalha. 

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Quando a pessoa está muito entristecida, porém, com dificuldade para encontrar um suporte emocional e para seguir a rotina, é importante buscar ajuda. Esse apoio pode vir através de um profissional, como Simône, ou de grupos de apoio que reúnam pessoas com experiências semelhantes, que possam compartilhar, no caso, o mesmo contexto de luto. 

"Em se tratando do luto pela perda do pet, a própria ritualização não ajuda. O rito, o velório, a despedida, serve como um suporte. As pessoas vão lhe visitar, prestar apoio, compreendem o momento. Em relação ao pet, isso não vai acontecer, exceto em alguns casos, como na cremação”, pontua Simône. 

Ter vivido um rito de despedida é justamente o que está ajudando a estudante Priscila Aureliano a enfrentar a perda da gata Nina, que faleceu no último mês de agosto, aos quatro anos, em decorrência de complicações renais.

Priscila optou por um serviço novo no Recife, que é a cremação de animais de estimação, oferecido pelo Vila Pet, empresa do Grupo Vila, do Rio Grande do Norte, que administra também o Cemitério Morada da Paz, no Paulista. 

Priscila Aureliano e Nina. Foto: Acervo Pessoal 

"Passei pelo menos uma semana inteira chorando depois que ela partiu. Mas, mesmo mal, tentei manter minha cabeça em ordem para organizar o que era necessário. Meu irmão é médico, estava em Cuiabá (MT), e decidi esperar para fazer a cremação quando ele viesse, o que aconteceu alguns dias depois. O Vila Pet organizou e disse que não tinha problema, que seria no nosso tempo. Eu quis fazer isso, era uma coisa minha, pessoal. E serviu para dar um adeus. Doía muito. Quando conseguimos fazer a cerimônia, a família toda presente, senti que era o que tinha que fazer”, diz ela, que costuma ajudar animais de rua e resgatou Nina ainda filhote, com cerca de dois meses. 

"Sepultar um pet é um crime ambiental e não é moralmente correto. Muitos optam por incinerar, mas mistura com tudo, com lixo… Nina era como um membro da família. E não devemos nos despedir de um membro da família de qualquer forma”, completa a estudante, que nunca antes havia tido um animal de estimação.

O Vila Pet está em funcionamento no Recife desde o final de 2019 e entrega as cinzas do animal à família em cerca de dez dias. Esse é um recurso inovador, estimulado justamente pela presença cada vez maior dos pets nos lares, inseridos como membros das famílias. 

Independente de qual seja a sua relação com animais domésticos, é importante compreender que cada ser é único em suas relações, emoções e dores. E, mais importante do que compreender, é respeitar. O pet que para você é só mais um pode ser o amor de alguém. Neste Dia de Finados, por que não refletir sobre isso e começar a praticar a empatia?  

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