Inspiração Saúde - O transplante de fígado em tempos de pandemia

Cláudio Lacerda, médico hepatologista e professor universitário - Douglas Souza

O comportamento epidemiológico e fisiopatológico do novo coronavírus surpreendeu o mundo e deixou a medicina desnorteada e perdida. Com isso, o movimento de transplante diminuiu, o retrocesso também foi imenso, porque a maior parte dos leitos de UTI estão ocupados com pacientes diagnosticados com covid. Realizávamos mais de dez transplantes de fígado por mês antes da pandemia, no Recife e em João Pessoa, esse número caiu para apenas quatro ao mês. Em consequência, aumentou muito a mortalidade em lista.

Estamos fazendo cada vez mais transplantes e a população é sensível à questão da doação. Mas, o que nos preocupa é que a fila de espera pelo fígado é sempre relativamente grande, porque nunca temos uma oferta de doadores na disponibilização de doadores que faça com que a gente diminua a lista ou de mortalidade em lista de espera. 

Mas, diante deste cenário, destaco um verdadeiro recorde, realizei junto com a equipe da Unidade de Transplante de Fígado/HOUC, em 36 horas, cinco transplantes de fígado, com doadores captados em Recife, Campina Grande e Petrolina. Para os dois primeiros casos, foi usado um único fígado dividido, pelo método split, salvando duas pessoas. Em detalhe, foi colocado uma parte do fígado no adulto e outra parte menor numa criança.

Ainda existe a dúvida de como é que se identifica uma pessoa compatível para fazer um transplante de fígado, basta a compatibilidade de tamanho e o grupo sanguíneo do sistema ABO, por exemplo, podem ser utilizados para receptores no grupo sanguíneo e assim por diante.

Historicamente no Brasil aproximadamente 50% das pessoas dizem não à doação. Geralmente os familiares fazem a escolha de enterrar o corpo do parente, ao invés de permitir que os seus órgãos sejam aproveitados para recuperar vidas. 

Como tantas que já foram recuperadas, estamos nos aproximando do marco de 2 mil transplantes, desde o começo do programa de transplante de fígado do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, em Santo Amaro, no Recife, sendo pioneiro no Norte e Nordeste e referência no país. 

Neste mesmo bairro está localizada a Associação Pernambucana de Apoio aos Doentes de Fígado (APAF), onde estou como presidente emérito. A casa de acolhimento, que também recebe pacientes de outros estados, não tem fins lucrativos. O trabalho da APAF é voltado para o suporte socioassistencial e a assistência em saúde de pacientes carentes ligados à Unidade de Transplante de Fígado (UTF), que necessitam de tratamento, aguardam em fila de transplante e que já estão transplantados. Por ano, cerca de 10 mil pessoas são beneficiadas. 

*Cláudio Lacerda é natural do Recife. Formou-se em medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Pernambuco, em 1976. Concluiu residência em cirurgia geral, no Hospital Pedro II, da Universidade Federal de Pernambuco, em 1978, e estágio no Guy’s Hospital de Londres, em 1980. Tornou-se Mestre em Cirurgia pela UFPE em 1992 e Doutor em Clínica Cirúrgica pela Universidade de São Paulo, onde trabalhou na Unidade de Fígado entre 1987 e 1991. Através de concurso público, galgou a posição de Professor Titular de Cirurgia Abdominal da Universidade de Pernambuco, em 1997. Por meio de carreira iniciada em 1980, chegou à posição de Professor Associado de Cirurgia Abdominal da UFPE. Defendeu três teses e publicou mais de uma centena de trabalhos científicos. Realizou o primeiro transplante de fígado do Norte-Nordeste em 1993 e vários procedimentos e cirurgias inéditas no Estado. Fundou e preside a Associação Pernambucana de Apoio aos Doentes de Fígado, em 2002. Estagiou no Instituto de Doenças do Fígado do King’s College Hospital de Londres, em 2003. Em 2007, passou a ocupar a cadeira 15 da Academia Pernambucana de Medicina. Dirige o Curso de Medicina do Centro Universitário Maurício de Nassau, desde 2012. É Chefe do Serviço de Cirurgia Abdominal e Transplante de Fígado do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, do IMIP, e do Hospital Nossa Senhora das Neves, em João Pessoa. Recebeu o Título de Cidadão da Paraíba, em 2016, de João Pessoa, em 2016, de Maceió, em 2018, e as Medalhas José Mariano, em 2003, Orgulho de Pernambuco, em 2009, Honra ao Mérito, de Campina Grande, em 2011, Fernando Figueira, do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco, em 2012, e Joaquim Nabuco, em 2019. Realizou mais de 1500 transplantes de fígado, colocando a sua equipe como uma das mais atuantes do mundo.


Seguem os contatos para quem deseja conhecer a instituição e ajudar a APAF:
E-mail: [email protected] 
Telefones: (81) 3184.1244 e (81) 9 8894.7939
Instagram: @amigosdaapaf

 

 

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