A Teatralização da Dialética em Nome da Política e Economia

Muitos exemplos históricos na Política e Economia aqui no Brasil representam bem um puro exercício dialético. A síntese que se extrai de tantas contradições desperta uma espécie de Hegel que há nos protagonismos das cenas, nas duas áreas. Teses e antíteses fazem parte desse "mar dialético", cujos capitães chegam sãos e salvos aos seus destinos. Embora, na maioria das vezes, o porto não seja tão seguro assim, sob o ponto de vista da rota inicialmente traçada.

De modo geral, a nau Brasil não costuma partir   amparada em sinais meteorológicos que apontem para uma calmaria. Ademais, está quase sempre sob o comando de simples "marinheiros" amadores e em primeira viagem, imbuídos do espírito de capitães. Os ventos que sopram do poder, sobretudo de Brasília, costumam revelar que "há menos peixinhos a nadar no mar" que as contradições em forma de um marouço avassalador. Essa é a realidade que emerge na costa que abriga o poder.

As sínteses que se extraem da Política recente representam bem o primeiro ato desse teatro dialético. Não que a lógica seja o respeito ao contraditório entre pensamentos diferentes. O método dialético está entre os mesmos, por mais incrível que pareça. Ou seja, a filosofia hegeliana de reproduz até dentro de uma linha ideológica que se "vende" ao público de uma forma, mas age de outra. 

Nesse sentido, ao se olhar para as ações governamentais, percebe-se que à medida que o tempo avançou, a sobrevivência política ficou determinada pelo processo eleitoral de 2022. Não que as atitudes e os atos correspondentes não estivessem alinhados com esse objeto desde o primeiro dia de governo. Mas, o desgaste múltiplo  decorrente da incontinência das verborragias (digitais e de cercadinhos), do amadorismo na gestão e do ideário desconectado com a sociedade empurrou o governo para uma nova composição política com o chamado "Centrão". Sempre pronto para assumir a tripulação do barco.

De fato, em nome de um alto preço político para mirar no mar e alcançar o horizonte de um desejado êxito eleitoral, o governo fez (e ainda faz) seu teatro em plena regência dialética. O mesmo "Centrão", que se renova como uma espécie de "pirata dos mares", outrora alvo dos governantes e seus aliados, tornou-se agora um parceiro inseparável. Tudo gradualmente conquistado, da esplanada ao orçamento. Tese e antítese se viram sintetizadas no mero interesse pela perpetuação do poder entre seus protagonistas, de marinheiros amadores a capitães experimentados. Na teoria, vale o "populismo do cercadinho', que rende brados inflamados dos fiéis seguidores. Na prática, o velho conchavo do "toma lá e me dá cá", que rende supostos dividendos eleitorais.

O segudo ato desse teatro dialético, na plenitude de um ambientee econômico, onde se esperava um pouco mais de racionalidade, nada tão diferente tem acontecido. Surpreende apenas pelo fato da equipe econômica ter sido respeitada nas ideias e enfática nas teses. Isso, no início de gestão, quando além de "posto de abastecimento para a nau", seu "capitão" era visto como solução para tudo,. Tal e qual a peça publicitária de certa rede de venda de combustíveis. Como verdadeiro "marinheiro amador" em gestão pública, viu então suas funções serem minimizadas.

Aconteceu que o tempo nesse setor também permitiu que fossem geradas antíteses. E também por sobrevivência política, fez-se como resultante uma síntese contraditória aos ideais do time. De liberais adeptos do "laissezfairismo" a pragmáticos defensores (ou novos revisores) do papel de um Estado, que serve a um nacionalismo anacrônico, a uma teocracia de fachada e a um populismo com viés corporativista. Síntese de um modelo econômico que também se contradiz no seu discurso econômico original em favor do liberalismo.

O certo é que até mesmo numa falsa interpretação de números e conquistas pontuais, a Política e a Economia se abraçaram com as contradições. Hegel se tornou o senhor da razão. Essa é a realidade.

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