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Nem 8, nem 80

Encarar de Frente uma Vergonha Nacional

O BNB se Compromete em Aumentar os Investimentos em Saneamento Básico

Arquivo/Agência Brasil

Dada a maior vergonha nacional, que faz da educação um exemplo grotesco da distância que separa os discursos políticos das práticas governamentais, ainda me sinto um cidadão envergonhado quando o tema migra para o saneamento básico. Em pleno século XXI, o Brasil convive com indicadores de padrão iguais aos esquecidos países africanos, quando a régua revela números inacreditáveis, em termos de esgotamento sanitário, acesso à água potável e tratamento de resíduos. Uma história secular de abandono das políticas públicas comprometidas com essas causas.

Para esse ponto de descrença geral no papel que cabe ao saneamento, confesso que tenho meu próprio enredo. Entre 1990/91, compus um grupo técnico de economistas da UFPE, de perfil ideológico de centro-esquerda, que foi encarregado de elaborar um plano de governo, que no qual sobressaissem uma aposta desenvolvimentista, de compromissos sociais e assegurado por valores democráticos. Este último ponto, no sentido de ouvir os mais diferentes agentes da sociedade, nas suas proposições específicas. Diante disso, confesso que esse desafio foi, profissionalmente, marcante, enriquecedor e frutífero para mim. E foi, precisamente, num desses contatos que ouvi, repetidas vezes,  opiniões sobre não dar relevância de proridsde para o saneamento, no bojo das políticas de governo.

Claro, que não me cabe aqui expor quem pôs o saneamento em plano secundário. Todavia, já naquela época, a vergonha dos números alcançados pelo setor, não se traduzia na intenção de uma reversão, considerada a alegação de que a invisibilidade das obras de saneamento não gera votos nas urnas. Isso sem desconsiderar a tese dos altos custos dessas obras, independente dos recursos públicos existentes ou da disposição de empresas privadas interessadas por esse tipo de investimento. 

Enquanto essa indisposição se propagava, com ela também cresciam os baixos resultados de outros indicadores sociais, tais como os de  desigualdades e pobreza. Campos férteis  para dar ao saneamento ainda mais inferioridades. O fato hoje é aceitar e"engolir" que um direito da população, cuja universalização do acesso não foi alcançada. Afinal, quando mais de 100 milhões de brasileiros não fazem coleta de esgoto e outros 15 milhões não possuem água potável e tratada nos seus domicílios, é porque parte da sociedade ignora a realidade impregnada pela desigualdade de renda.

Num quadro de tamanha adversidade, no qual a região Nordeste tem um peso relevante, conta a favor de um esforço de superação a proposta do Banco do Nordeste (BNB) em favorecer os investimentos para o setor. Esse anúncio de ampliação dos recursos, ofertados pelo nosso agente público financiador do desenvolvimento regional, é um passo que, mesmo discreto, faz por mudar aqueles velhos conceitos.

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