O Quarto "D" da Trágica História da Cultura Como Atividade Econômica (3)

Sobrevivência na Diversidade das Produções Culturais e a Baixa Assimilação dos Conceitos Econômicos

Nos dois textos anteriores, ao expor os conceitos econômicos e algumas das falhas no entendimento do que possa ser hoje uma política cultural efetiva (eficiente + eficaz), constato que a verdadeira percepção do que seja economia da cultura é ainda uma simples miragem. E de algo que pouco ou nada evoluiu nas duas últimas décadas, independente da ideologia de quem esteve ou ainda está no poder. É até um exercício de anacronismo dizer isso com tanta ênfase, mas nada foi e continua a ser tão verdadeiro. A teoria a respeito bem que evoluiu, expandiu sua maneira de olhar pelas lentes da grandeza da cadeia produtiva do audiovisual, mas na prática cotidiana, "ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais", como bem versejava Belchior.

Nesse contexto em que reforcei a tese do 3 D (desconhecimento, desinformação e desinteresse), todos agentes sociais envolvidos têm lá sua dose de responsabilidade pela inércia. Se até mesmo integrantes da cultura mantêm suas indisposições (ideológicas ou não) com relação à aceitação dos conceitos econômicos, o que dizer de uma ampla parcela da sociedade, que ignora a mesma combinação de fatores de produção na cultura, tanto e quanto se nota noutros setores? Afinal, quem produz uma atividade artística a faz de modo igual a qualquer outro produtor. A satisfação, talvez diferenciada pela sensação de estar no ócio, de quem apenas consome o bem cultural, não pode e nem deve ser vista para os que mobilizaram recursos para oferecer ao consumo. Infelizmente, com ou sem preconceito velado, essa é a percepção de parte da sociedade. Uma visão que não contribui para o entendimento de que cultura é economia.

Se esses vértices sociais não conseguem perceber a importância econômica, o vértice final, de quem faz a política pública acontecer, apenas consagra o desinteresse de distintos governos e das três esferas, em teatar o setor cultural como uma prioridade. Ao não fazê-lo meritório dessa decisão política, põe-se num plano inferior a relevância de se tratar a identidade nacional não apenas como uma questão de estratégia ou soberania. Essa opção de por à margem algum meio de se priorizar a cultura, na percepção de um paradigma de desenvolvimento, é também negar o conceito da sustentabilidade. Da mesma maneira com a qual os defensores da causa do desenvolvimento enxergam o papel da educação. Ambas, caminham juntas, quaisquer que sejam as premissas de uma modelagem apropriada ao desenvolvimento sustentável. 

Infelizmente, as políticas públicas se mantêm míopes. Quando não há omissões quanto ao viés econômico que se deseja, o histórico das demais intervenções foram e continuam a ser absoluramente falhos.  No exemplo de se tentar corrigir falhas na concentração dos incentivos do mecenato, as situações corroboram a tese da ferradura: ideologias opostas tendem a confluir em dado momento para o mesmo alvo. Antes, não fazia sentido a centralização dos recursos captados para um fundo único, aplicado ao interesse do gestor ou seus comitês homogeneizados (uma tentativa não realizada, que se deu no Governo Dilma). Agora, não há o menor sentido na relação de causalidade entre baixar limites de captação como forma de desconcentrar os recursos (atual governo). Situações descabidas que só reforçam o modelo 3 D vigente.

Muito além dessa situação, é o risco iminente de inserção de um outro "D" - o da destruição setorial. Totalmente identificado pela intenção ideológica de parte de uma sociedade que extrapola aquele 3 D convencional. O sentido do quarto D (destruição) expõe razões políticas que agem como combatentes de dois outros contextos com a letra D - a democracia e a diversidade. Estas, genuinos pilares, que extrapolam a cultura e fazem da sociedade um ambiente fortalecido para a sustentabilidade do desenvolvimento. 

Apesar do sentimento de que a pregação no deserto seja óbvia, mantenho-me inspirado no humor e na sabedoria do Mestre Ariano. Nem a tolice do otimista, nem muito menos a chatice do pessimista. Sigo como "um realista esperançoso".

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