Sáb, 06 de Dezembro

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Nem 8, nem 80

Qual o segredo para o desenvolvimento (1)?

Um desenvolvimento focado na educação e no meio ambiente

Alfredo BertiniAlfredo Bertini - Rafael Melo/Folha de Pernambuco

Inspiro-me num dos maiores pensadores da atualidade. Não só compartilho com ele a precisão das ideias, sobre o caminho de um desenvolvimento com cara de Brasil. Também ouso usar suas prioridades como referências analíticas, para assumir este desafio de cronista.

Eduardo Giannetti, pensador, filósofo, escritor imortal e colega economista, é o "dono da bola". Defende sua utopia a respeito de um modo brasileiro capaz de buscar seu próprio modelo de desenvolvimento. Parece-me uma tese de reafirmação do "modernismo oswaldiano", trazido para a economia. Afinal, é algo como uma expressão de excelência cultural, que revela a proeminência de uma identidade nacional, suficiente para expurgar as amarras de um "colonialismo mental", que ainda nos assombra.

Para ser direto e objetivo, o caminho para esse desenvolvimento socioeconômico passa por duas vias de decisão política: I) uma real obsessão educacional, dada pela prioridade incondicional com o ensino fundamental; e, 2)  ações firmes que favoreçam a preservação ambiental. 

Mas, para que esses caminhos sejam sedimentados é vital que haja um compromisso nacional de fazer acontecer duas situações prévias e preparatórias: valorização da diversidade cultural e conquists de um padrão mínimo de dignidade para uma vida cidadã. Ou seja, a utopia realista que ainda nos motiva está em alcançar um mínimo de organização no processo civilizatório. Num nível tal, que reforce um compromisso  nacional pela validação da originalidade e espontaneidade, que dão o tom da nossa identidade cultural. Exatamente, o que Rousseau tratava como o "doce sentimento da existência".

Na parte que cabe ao texto de hoje, atenho-me a esses dois aspectos, na intenção de reservar para os próximos textos, os focos entendidos como necessários para um modelo próprio de desenvolvimento.

Por incrível que pareça, a premissa de valorizar a extraordinária diversidade cultural brasileira, ainda representa algo a ser considerado, por causa de ideias supremacistas e preconceitos velados, diretos ou dissimulados.

Nesse conceito geral de desprezo pelos valores existenciais do ser brasileiro, impôs-se uma métrica de sucesso, que sempre esteve calcada nos rigores econômicos do individualismo competitivo. 

Ou seja, nega-se o "modus vivendi" de uma sociabilidade, que se traduz por outras regras de felicidade, bem-estar geral. Um contexto de alta correlação com a pluralidade que dá formação e consistência à cultura brasileira. Diante deste conflito, por ter sido recalcitrante, aos olhos de quem jamais usou a régua do real bem-estar, o Brasil segue  na velha aposta iluminista, quando insiste num modelo de fora, que não lhe cabe bem.

Por outro lado, tão importante quanto esse diferencial, que assume o orgulho "vira-latista" pela ênfase cultural, o outro desafio está no enfrentamento da velha questão das desigualdades, com a certeza de que muitos brasileiros ainda carecem de um mínimo de dignidade humana para sobreviverem. 

Um exemplo dessa adversidade está na tolerância de uma realidade, onde mais da metade da população não desfruta de saneamento básico. Por já ultrapassarmos um quarto do século XXI, incompreendo o sentido de se repetir tal fracasso das políticas convencionais de desenvolvimento, posto que milhões de pessoas não exercem sua condição plena de cidadã, dividindo seu espaço com esgotos a céu aberto, falta d'água e lixo aos montes. 

Dito isso, na próxima semana, tratarei dos alvos, mais detidamente.

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