Que mundo caberá aos netos? PARTE 2
Os erros de uma velha sociedade que negligenciou com a educação
No texto anterior, expressei a essência de uma enorme preocupação. Justamente, esse mundo de "pernas para o ar", que está em preparo e será entregue à geração dos nossos netos. A volta para um passado de ideias autoritárias associada à escalada cotidiana dos preconceitos estruturais e de uma violência de múltiplas facetas, são pormenores que causam espanto e indignação. Parece-me que esses "líderes da soberba", erraram no tipo e na forma da reciclagem. Propositalmente, ignoram o sustentável para trazerem de volta a barbárie.
De tudo há um pouco. São as posturas preconceituosas vistas na alçada étnica-racial. É a persistência da violência contra estratos sociais tratados com subserviência e estupidez. Enfim, um conjunto de fatores sociais que, atuando num rigor que se julgava superado, faz-nos lembrar de fatos históricos que se viram envolvidos com os tempos das Cruzadas, da Vassalagem e da Inquisição. Vivemos, enfim, o supra sumo das contradições. Como dizia Cazuza: assistimos ao "futuro repetir o passado", como "um museu de grandes novidades".
Diante desse "mundo que não pára", a pergunta que não quer calar: onde erramos? Bem, penso que há respostas em três direções gerais. Modesta opinião deste discreto cronista, que tenta se afastar de tantos olhares obtusos. Os pontos erráticos podem ser explicados:
1. na nossa incapacidade de enxergarmos, pelas lentes avassaladoras das transformações promovidas no mundo, os contrapontos às nossas ideias e daí não poder ajustá-las para a dimensão das novas realidades - subestimação impensável;
2. na minimização intelectual atribuída à evolução das teses negacionistas, que usaram e abusaram dos recursos da revolução e da comunicação digital, para propagar suas ideologias refratárias à humanização - desleixo pragmático;
3. na falta de percepção de um ambiente de embate teológico criado, de modo progressivo, para fazer prevalecer o dogma de uma verdade absoluta, que fosse capaz de guiar a sociedade para situações que registram o tamanho do retrocesso - ignorância religiosa.
A generalidade desses apontamentos, não pode e nem deve retirar a verdadeira essência do problema. Refiro-me às velhas negligências da sociedade, com relação à educação. A mesma que avançou na expansão do conhecimento e da inovação tecnológica, mas que tem também proporcionado a falta de humanização. Faz-se necessário fortalecer um modelo de ensino básico rigoroso e interdisciplinar, no preparo de uma geração capaz de valorizar o pensamento crítico e se engajar na realidade de um desenvolvimento sustentável.
Enfim, evoluímos na sapiência do tecnicismo às custas de uma baixa sensibilidade no agir como humanos. Só as bancas escolares transformam a formação cidadã. De criança a gente aprende a respeitar e entender que o coletivo é reflexo da vida em sociedade. Apesar de tantos pesares, possamos crer na realidade possível das utopias que os netos ainda possuem.
Fazer o mundo se mover não significa se empoderar, para se achar capaz de alterar os movimentos do planeta, como a Física já nos ensinou. Mover o mundo está na capacidade de agirmos como seres humanos. A própria Ciência Econômica há de agradecer.