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Nem 8, nem 80

Sem vez e sem voz

A falta de oportunidades serve para tornar dissimulado um modo discreto de preconceito

Alfredo BertiniAlfredo Bertini - Jose Britto/Arquivo Folha

Peço licença aos leitores e às leitoras pelo teor mais incisivo posto no texto de hoje, justo pelo que preciso dizer a respeito das opiniões e crônicas econômicas, que tomam conta do nosso cotidiano. Talvez até, possa ser um pouco ácido "no carregar da tinta", mas há momentos em que a sequência de rotinas parece chegar à exaustão. Mesmo assim, prometo um esforço a mais, no agir de modo ponderado, bem na essência do nem 8, nem 80.

O que me deixa incrédulo nos comentários, textos e falas de colegas economistas e/ou professores, sobretudo, quando estimulados por alguma demanda da imprensa, são pelo menos dois pontos: a discriminação da livre opinião e a parcialidade do interesse. Assim, penso que falham quem procura pela informação e quem faz uso dela de forma viesada.

Sobre a procura, impressiona-me que as escolhas quase sempre recaem para nomes do eixo Rio/São Paulo e, muitas vezes, de instituições e mercados que, para o conhecedor, já transparece óbvia a mensagem. É evidente que o eixo tem enorme grandeza sobre as decisões econômicas, mas essa ponderação tão plena de si, não representa o país e, na maioria das vezes, não exprime uma verdade. Seria, no mínimo ousado, que os meios de comunicação pudessem contemplar economistas gaúchos, mineiros, candangos, nortistas e nordestinos. Por que não? São nessas horas que passa despercebida uma certa dose de dissimulação de atitudes discriminatórias ou preconceituosas. Na realidade, o peso do CEP ser daquele eixo faz todo sentido, mesmo que não se tenha um mero registro de alguma indisposição por não se valorizar as opiniões de outros quadrantes do Brasil. Pior que isso, só mesmo a triste lembrança da reação que houve à época, quando o Presidente mineiro Itamar, escolheu o pernambucano Krause para ser seu Ministro da Fazenda. Aquilo sim, foi um escracho descabido.

O segundo aspecto por tratar está no viés de serem algumas escolhas parciais. Acho um equívoco somente se consultar referências profissionsis do mercado financeiro, para tratar de análises da política econômica. E essa falha de procedimento tem duas direções. A primeira, porque será pouco provável encontrar analistas que saiam da sua "zona de conforto" dada pelo "mundo monetário". A segunda, porque nessa vivência do sistema financeiro e mesmo no contexto privado geral, poucos têm noção do que seja a '"economia do setor público". E não é só por desconhecer regras estruturais de Estado e Governo, pouco flexíveis diante de modelos privados mais leves. Há quem até não tenha noção dos estorvos burocráticos, posto que ignoram uma cultura diferente, como o exemplo dos fluxos de simples notas de empenho. Afinal, estamos no seio da complexa armadilha que representa o setor público brasileiro.

Enfim, penso que esse assunto cabe reflexão.

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