Em Bananeiras/PB, uma escola que planta o futuro da educação

Educandos em pesquisa de campo - Arquivo Pessoal

Conversamos com a educadora Leila Rocha Sarmento, membro do Comitê Gestor da Escola Nossa Senhora do Carmo em Bananeiras (ENSC Bananeiras), na Paraíba.

Hoje uma escola comunitária mantida por parcerias e doações, nasceu como projeto social das Irmãs Carmelitas, localizada na zona rural do município de Bananeiras, agreste paraibano, a 120 quilômetros de João Pessoa.

A ORIGEM DO PROJETO PEDAGÓGICO

Leila tinha um projeto de extensão de alfabetização de adultos na universidade onde dava aulas. Foi quando junto com um grupo de amigos foi chamada para integrar o projeto social. Começaram dando aulas na sala da casa de um lavrador da região. Logo, os adultos perceberam que poderiam incluir seus filhos também. Assim, pela manhã eram atendidas as crianças e a noite o EJA (Educação de Jovens e Adultos).

No início, eram 47 crianças. Hoje, já são mais de 230 atendidas na escola. “O desejo era fazer uma escola nova, diferente, fundamentada nos ideais de Paulo Freire, construída com os sujeitos e não apenas para os sujeitos”, conta a educadora Leila.

Assim, foram buscar referências pedagógicas no Brasil e no mundo, como a Escola da Ponte em Portugal e outras na França, Rússia, Itália e Inglaterra.

Então, em 2015, o projeto se tornou formalmente uma escola rompendo com as estruturas: na Nossa Senhora do Carmo não há séries, professor em sala de aula ou prova. “A lousa aqui é mural. O ponto de partida de toda ação pedagógica é a curiosidade da criança. Perguntamos a ela o que quer aprender e assim montamos a sua Ficha de Interesse”, detalha a educadora.

As Fichas de Interesse trazem o que o educando quer aprender, o porquê, o que o educando já sabe do assunto e o que gostaria de saber, e como pretende desenvolver sua jornada de aprendizado. Com a Ficha é possível definir um projeto de pesquisa, com roteiros de aprendizagem que duram em torno de três semanas. As áreas de conhecimento como a matemática, as ciências e a língua portuguesa são trabalhadas de forma transversal.

Quando a criança chega na escola, a primeira coisa que faz é olhar seu roteiro e organizar seu dia. Ela apresenta o plano para o tutor, que o valida. O educando é autônomo para desenvolver seu estudo. Terminado o dia, ele volta para o tutor para fazer a Roda de Apreciação, normalmente em pequenos grupos de estudantes, momento importante de avaliação da aprendizagem e rica troca de saberes. Ao final, há um bate papo individual de tutoria, onde existe um feedback de todo o roteiro. “Não trabalhamos olhando para o conteúdo, mas para as habilidades. Se termina um projeto, começa outro” sintetiza a educadora.

Estudantes na oficina de cinema | Arquivo Pessoal

A RELAÇÃO COM A PANDEMIA

“Todos nós fomos pegos de surpresa, anestesiados, porque tínhamos notícias do início da pandemia na Ásia, mas não nos preparamos”, disse Leila. No entanto, como a ENSC Bananeiras trabalha com processo pedagógico centrado no educando, a ruptura do modelo presencial para o remoto talvez tenha sido mais suave.

Os alunos levaram para casa suas Fichas de Interesse logo nos primeiros dias após suspensão das aulas presenciais no município e deram continuidade aos seus estudos. “Continuamos acompanhando pelo Whatsaap. Não precisamos parar para pensar no que fazer. A metodologia funcionou, mesmo à distância”, relata Leila.

E assim foi até essa semana. Nesta segunda-feira, 26 de julho de 2021, os estudantes retornam ao presencial, ainda em modelo híbrido. Com certeza, uma decisão coletiva construída de forma democrática.

Também durante a pandemia, foram desenvolvidos projetos sobre emoções, envolvendo psicólogos, psicopedagogos e outros profissionais. “Dessa forma, a acolhida vem acontecendo desde que paramos com as crianças, com os pais e com os educadores. Com uma boa relação com as famílias, deste ponto de vista, vivemos uma pandemia mais amena”, afirma Leila.

Ainda segundo a educadora, “a pandemia escancarou muita coisa, e uma das poucas coisas boas foi a percepção de que precisamos correr atrás, não dá mais para a escola não se inserir nas tecnologias. A dificuldade que vivenciamos não foi dos educandos, e sim nossa, dos educadores. Temos que equilibrar, trazer a escola de fato para a era digital e vencer as dificuldades provocadas pela desigualdade”.

SONHOS PARA O FUTURO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

“Sem querer parecer pretenciosa, mas mais como desejo, espero que possamos disseminar no país a nossa metodologia. Esse ensino bancário não se sustenta para esse século XXI, isso é outra coisa que a pandemia escancarou, o modelo atual passivo não dá mais”, reflete Leila.  E continua: “esse é nosso sonho, cujo primeiro passo de um processo educacional seja o coração da pessoa humana, que olhe o sujeito na sua integralidade” conclui.

Sendo assim, há um grande esforço para tornar o projeto mais conhecido. “Desde quando nos tornamos em 2017 uma escola comunitária, temos o sonho de ter um prédio próprio com todas as características coerentes com nosso modelo pedagógico, sem salas, sem paredes, integrada ao campo” afirma.

“Hoje, temos um projeto de escola sonhado por toda a comunidade escolar. Já ganhamos o terreno e agora iniciamos a construção. As crianças querem pistas de skate, piscina, quadra, parquinho e teatro. Até o momento construímos 2 espaços cobertos que nos abrigam da chuva. Vivemos inteiramente de doações e parcerias. Matamos um leão por dia para sobreviver. Sobrevivemos com muito sacrifício e com trabalho voluntário” conta a educadora.

Mutirão capinando o terreno da Escola dos Sonhos | Arquivo Pessoal

Em 2016, a ENSC Bananeiras foi reconhecida pelo Ministério de Educação (MEC) em Inovação e Criatividade. Em 2017, foi premiada como uma Escola Transformadora pelo programa da ASHOKA correalizado no Brasil pelo Instituto ALANA, como uma das 21 escolas destaques do Brasil e única da Paraíba. Em 2019, foram selecionadas para integrar a Rede de Escolas Transformadoras Escolas 2030. 

OPINIÃO PAPO DE PRIMEIRA

Realmente, há algo de muito revolucionário na ENSC Bananeiras. Confesso que me emocionei ao escrever este texto. Paulo Freire certamente ficaria orgulhoso destas novas sementes. São as sementes de uma educação do futuro e para o futuro, construída de forma colaborativa pela sociedade.

Abaixo o link do projeto da Escola dos Sonhos:

https://drive.google.com/file/d/11SwSla3Q3f76cQu6hpscfvZAGa4NjaGP/view

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Banco do Brasil

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