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Saúde e bem-estar

Gordura no fígado: sintomas, diagnóstico e prevenção para obesos e que não usam álcool

O médico Rafael Coelho alerta que a gordura no fígado é silenciosa

Gordura no fígado: exige prevenção com hábitos saudáveisGordura no fígado: exige prevenção com hábitos saudáveis - Canva
Descubra como identificar e prevenir a gordura no fígado (MASLD), doença silenciosa ligada à obesidade e ao estilo de vida, e conheça as novidades científicas sobre o tratamento e os hábitos que ajudam a reverter o quadro.

A gordura no fígado é uma condição silenciosa e cada vez mais comum, muitas vezes descoberta por acaso em exames de rotina. O problema, conhecido tecnicamente como Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica (NAFLD) ou, mais recentemente, Doença Hepática Gordurosa Associada à Disfunção Metabólica (MASLD), ocorre quando há acúmulo excessivo de gordura nas células do fígado sem que o álcool seja o causador. Apesar de discreta, a doença pode evoluir para quadros mais graves, como inflamação hepática, fibrose e até cirrose, caso não seja tratada a tempo.

Sintomas
Os sintomas nem sempre são evidentes, mas há sinais de alerta que merecem atenção. Cansaço frequente, desconforto leve na parte superior direita do abdômen, inchaço abdominal e exames laboratoriais mostrando elevação de enzimas hepáticas podem indicar o problema. Ainda assim, a maioria dos casos é assintomática, reforçando a importância dos check-ups e da avaliação médica regular.

Diagnóstico
O diagnóstico é feito por meio de exames de sangue, que avaliam as enzimas hepáticas, e de imagem, como o ultrassom, que detecta a presença de gordura no fígado. Em situações mais complexas, podem ser solicitados exames como elastografia hepática (fibroscan) ou até biópsia, especialmente quando há suspeita de inflamação ou fibrose.

Fatores de risco
A obesidade é o principal fator de risco para o desenvolvimento da gordura no fígado. Isso acontece porque o excesso de tecido adiposo favorece a resistência à insulina e o acúmulo de gordura no órgão. Além dos obesos, pessoas com síndrome metabólica, diabetes tipo 2, colesterol alto, triglicerídeos elevados e hipertensão também estão mais suscetíveis. O problema, contudo, pode atingir indivíduos magros com maus hábitos alimentares, sedentarismo e consumo exagerado de alimentos ultraprocessados.

Prevenção
A prevenção é o caminho mais eficaz e, felizmente, também a principal forma de tratamento. A perda de peso moderada (de 5% a 10% do peso corporal) já é capaz de reduzir significativamente a gordura hepática. A prática regular de atividade física, aliada a uma alimentação equilibrada, com baixo consumo de açúcares simples, refrigerantes, frituras e alimentos ultraprocessados, é fundamental. O padrão alimentar mediterrâneo, rico em frutas, verduras, azeite de oliva e peixes, tem se mostrado um dos mais benéficos para a saúde do fígado. Quando o diagnóstico é precoce, há cura. A reversão completa é possível com mudanças no estilo de vida, controle do peso e acompanhamento médico. No entanto, quando há progressão para inflamação e fibrose, o tratamento torna-se mais complexo, exigindo intervenções medicamentosas e monitoramento contínuo.

Novidades
Duas novas pesquisas ganharam destaque na imprensa internacional e trouxeram esperança e alertas importantes sobre a gordura no fígado. Um estudo publicado no Business Standard mostrou que os medicamentos para emagrecimento à base de agonistas de GLP-1, como a semaglutida, melhoram significativamente a saúde hepática em pacientes com MASLD e MASH (forma inflamatória da doença). Uma reportagem do portal News Medical acendeu um sinal de alerta ao revelar que tanto as bebidas açucaradas quanto as adoçadas artificialmente estão associadas a um risco maior de desenvolvimento de fígado gorduroso. Ou seja, até mesmo refrigerantes diet e produtos “zero açúcar” podem comprometer o metabolismo hepático e contribuir para o avanço da doença. Essas descobertas reforçam o quanto o equilíbrio alimentar é essencial. Substituir o açúcar por adoçantes artificiais de forma indiscriminada não é a solução e pode gerar efeitos metabólicos negativos. A melhor estratégia continua sendo adotar hábitos alimentares naturais e sustentáveis, com foco em alimentos in natura e minimamente processados.

A gordura no fígado é um problema silencioso, mas totalmente prevenível e, na maioria dos casos, reversível. Mais do que tratar os sintomas, é preciso repensar o estilo de vida. Manter o peso adequado, praticar exercícios, evitar o consumo de bebidas adoçadas e priorizar alimentos saudáveis são medidas simples que preservam a função hepática e previnem complicações graves. Cuidar do fígado é cuidar de todo o metabolismo. Afinal, ele é o grande responsável por filtrar toxinas, metabolizar gorduras e equilibrar a energia do corpo. Quanto antes as mudanças forem feitas, maiores as chances de manter esse órgão vital em perfeito funcionamento.

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Acontece

Encontro sobre gordura no fígado

No próximo dia 5 de novembro, a partir das 7h30, o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE), unidade vinculada à rede da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), sediará a edição pernambucana do Brazilian Mash Road, evento itinerante pioneiro que conecta cirurgiões bariátricos e hepatologistas para discutir estratégias de diagnóstico e tratamento da doença esteatótica metabólica (gordura no fígado) e seu impactos na saúde. O encontro é apoiado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) e pela Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH).


Fertilidade feminina: envelhecimento biológico reduz chances de gravidez após os 35 anos

O relógio biológico feminino torna a gestação mais difícil a partir dos 35 anos. Nessa faixa etária, a chance de engravidar de forma natural em um ano cai para 55%, contra 86% aos 25 anos, e aos 45 anos, o índice é de apenas 6%. A possibilidade de infertilidade também aumenta: de 10% aos 35 anos para 55% aos 45 anos. O adiamento da maternidade no Brasil acompanha essas mudanças biológicas. Dados do IBGE mostram que a idade média ao ter o primeiro filho passou de 26 anos em 2000 para 28 anos em 2022, e o número de nascimentos de mulheres entre 35 e 39 anos cresceu nas últimas duas décadas. Para manter as chances de engravidar, especialistas recomendam a avaliação da reserva ovariana e, se indicado, o congelamento de óvulos. “Depois dos 35 anos, a perda de folículos acelera e a qualidade dos óvulos diminui, dificultando a gestação e o nascimento de bebês saudáveis”, explica  Verônica Ferraz, diretora da Clínica Geare, integrante do FertGroup. O congelamento de óvulos tem se tornado cada vez mais procurado. Dados do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio) apontam que os ciclos de criopreservação quase dobraram no Brasil entre 2020 e 2023, passando de 2.193 para 4.340, com aumento significativo em Pernambuco (8,7% ao ano) e Paraíba (94,3% ao ano). O momento do congelamento é crucial. A taxa de aborto espontâneo aumenta com a idade, permanecendo estável em torno de 10% até os 30 anos, subindo gradualmente após os 35 e ultrapassando 70% após os 44 anos. “O ideal é realizar o procedimento o quanto antes para garantir maior qualidade dos óvulos e melhores chances de sucesso”, orienta  Verônica Ferraz.


Artigo

Saúde bucal e Alzheimer: o que a ciência está revelando sobre essa ligação silenciosa

Por André Gomes, cirurgião dentista, mestre e especialista em implantodontia

Por André Gomes, cirurgião-dentista, mestre e especialista em implantodontia - Foto: Divulgação

Você já imaginou que uma simples gengivite poderia estar relacionada ao desenvolvimento do Alzheimer? Pesquisas recentes estão lançando luz sobre uma conexão surpreendente entre a saúde bucal e as doenças neurodegenerativas, uma descoberta que pode mudar a forma como entendemos e prevenimos o declínio cognitivo. Um estudo recente identificou a presença da bactéria Porphyromonas gingivalis — principal agente causador da periodontite crônica — em amostras cerebrais de pacientes com Alzheimer. Essa bactéria, que normalmente vive na cavidade oral, foi encontrada nos cérebros acompanhada de suas enzimas tóxicas, conhecidas como gingipains. E mais: a quantidade dessas toxinas estava diretamente associada a marcadores clássicos da doença, como a proteína tau alterada e o acúmulo de beta-amiloide, que formam as conhecidas “placas” cerebrais do Alzheimer.

Como a infecção pode chegar ao cérebro
A P. gingivalis é uma bactéria oportunista. Durante atividades cotidianas como escovação, uso de fio dental, mastigação ou até procedimentos odontológicos, pequenas quantidades dela podem penetrar na corrente sanguínea. Uma vez na circulação, tem a capacidade de migrar para diferentes órgãos — e, segundo o estudo, até para o cérebro. Em experimentos com camundongos, os cientistas observaram que, após a infecção oral, a bactéria conseguiu colonizar o tecido cerebral e provocar o aumento da produção de beta-amiloide, a mesma proteína envolvida nas placas características do Alzheimer humano. Essas descobertas sugerem que o Alzheimer pode não ser apenas uma doença degenerativa de causa genética ou metabólica, mas também ter um componente infeccioso, iniciado possivelmente anos antes dos primeiros sintomas de perda de memória e confusão mental.

Novas perspectivas de tratamento
Diante dessa hipótese, os pesquisadores desenvolveram inibidores de pequenas moléculas que bloqueiam a ação das gingipains — as enzimas tóxicas da bactéria. Nos testes, esse bloqueio reduziu a carga bacteriana no cérebro, diminuiu a produção de beta-amiloide, controlou a inflamação e protegeu neurônios do hipocampo, região crucial para a memória. Esses resultados abrem caminho para novas estratégias terapêuticas no combate ao Alzheimer, incluindo o desenvolvimento de medicamentos que visam não apenas os sintomas, mas uma possível causa infecciosa da doença.

O papel essencial do dentista - embora a ciência ainda esteja aprofundando essa relação, uma verdade se destaca: cuidar da saúde bucal é cuidar da saúde cerebral. A periodontite — inflamação crônica das gengivas — é uma das doenças infecciosas mais comuns no mundo, mas frequentemente negligenciada por não causar dor nas fases iniciais. O diagnóstico e o tratamento precoces são fundamentais para evitar complicações locais e sistêmicas. Manter consultas regulares com o dentista, realizar limpezas profissionais, escovar os dentes corretamente e usar o fio dental diariamente não são apenas hábitos estéticos ou de higiene — são práticas preventivas que podem ter impacto direto na saúde geral, incluindo o cérebro.
Os resultados da pesquisa não significam que a doença gengival cause o Alzheimer em todos os casos, mas indicam uma associação relevante que merece atenção da comunidade médica e odontológica. À medida que novas evidências surgem, a integração entre odontologia e neurologia se mostra cada vez mais necessária. Em outras palavras: um sorriso saudável pode ser também uma mente saudável.

Referência científica:
Dominy, S. S., Lynch, C., Ermini, F., Benedyk, M., Marczyk, A., Konradi, A., … & Potempa, J. (2019). Porphyromonas gingivalis in Alzheimer’s disease brains: Evidence for disease causation and treatment with small-molecule inhibitors. Science Advances, 5(1), eaau3333.

André Gomes é cirurgião-dentista, mestre e especialista em implantodontia 



A Coluna "Saúde e Bem-estar" é atualizada semanalmente no Portal Folha de Pernambuco
Colaboração: jornalista Jademilson Silva
[email protected]
@jademilsonsilva

 

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