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Uma Série de Coisas

“Beleza Fatal” tem trama com ritmo de streaming e coração de novela

Produção da Max aposta em um formato ágil, testando os limites da novela tradicional no streaming

Giovanna Antonelli, Camila Pitanga e Camila Queiroz fazem parte da nova novela brasileira da MaxGiovanna Antonelli, Camila Pitanga e Camila Queiroz fazem parte da nova novela brasileira da Max - Divulgação/Max

A Max estreou sua primeira novela brasileira, “Beleza Fatal”, e a dúvida inevitável surge: estamos diante de uma novela ou série? A resposta é que a produção transita entre os dois formatos, combinando um folhetim clássico com a agilidade e estética cinematográfica do streaming. A trama, escrita por Raphael Montes, aposta em um modelo mais enxuto, sem os tradicionais 140 capítulos das novelas de TV aberta, mas mantém a essência do melodrama, recheado de reviravoltas, traições e personagens inescrupulosos.

O enredo acompanha Sofia (Camila Queiroz), movida por um desejo de vingança contra a prima Lola (Camila Pitanga), responsável por colocar sua mãe, Cléo (Vanessa Giácomo), injustamente na prisão. O pano de fundo é o universo dos tratamentos estéticos, um cenário repleto de vaidade, obsessão e poder. E se o tema já sugere exageros, a produção não economiza em cenas intensas, incluindo sexo e nudez, algo que dificilmente teria espaço na TV aberta nos moldes em que é apresentado aqui. O streaming, mais uma vez, se firma como um ambiente onde os limites do folhetim tradicional podem ser testados sem tanta restrição.

O formato acelerado de “Beleza Fatal” faz a diferença. São 40 capítulos – até a publicação desta coluna, já foram liberados 15 deles, 5 por semana –, o que mantém o espectador sempre em suspense, sem tempo para as típicas "barrigas" narrativas. Mesmo com um visual sofisticado, “Beleza Fatal” não tem medo de se assumir como um novelão. A construção dos personagens segue o modelo clássico do folhetim: mocinha injustiçada, vilã maquiavélica, aliados traiçoeiros e segredos que surgem a cada capítulo. 

A naturalidade no uso de palavrões e a liberdade para cenas ousadas tornam a experiência crua e intensa, algo que dificilmente sobreviverá quando a novela for reexibida na Band em um horário mais restritivo.

A direção de Maria de Médicis aposta em um bom ritmo, sem o compasso lento das novelas tradicionais. No elenco, Camila Queiroz entrega uma protagonista carismática e determinada, enquanto Camila Pitanga se diverte ao interpretar Lola, uma vilã que reúne o cinismo de Nazaré Tedesco com a frieza de Flora, célebres antagonistas da dramaturgia. Marcelo Serrado, Caio Blat e Herson Capri completam o time de personagens que são pura vilania, reforçando o tom exagerado que combina bem com a proposta. Ainda vale citar Vanessa Giácomo e Giovanna Antonelli, que entregam ótimas cenas de drama em seus arcos narrativos. 

O impacto de “Beleza Fatal” no mercado de novelas e streaming

A chegada de "Beleza Fatal" ao streaming representa uma expansão do formato e reflete uma transformação no consumo de novelas, que há décadas reinavam absolutas na TV aberta, mas que agora precisam se adaptar a um público que deseja tramas ágeis e bem produzidas, sem os longos meses de exibição tradicional.

É verdade que o sucesso de novelas no streaming já havia sido testado por obras como “Todas as Flores” e “Verdades Secretas” na Globoplay, mas, em “Beleza Fatal”, a estética cinematográfica e a narrativa dinâmica a tornam um produto competitivo, capaz de disputar espaço com séries internacionais.

Além disso, a decisão de exibir a novela posteriormente na Band indica que as emissoras abertas ainda enxergam valor no formato tradicional, mas precisam encontrar formas de integrá-lo a novas plataformas. Se a estratégia funcionar, pode abrir caminho para que mais novelas sigam esse modelo híbrido, garantindo vida longa ao gênero mesmo fora da TV aberta.

No fim das contas, “Beleza Fatal” é uma novela enxuta que não perde a essência dramática que faz o público amar (ou odiar) o gênero. É um produto que se adapta ao streaming sem abrir mão das raízes tradicionais, mostrando que as novelas ainda têm espaço na era digital, desde que saibam se reinventar sem perder sua alma.

*Fernando Martins é jornalista e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.

*A Folha de Pernambuco não se responsabiliza pelo conteúdo das colunas.

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