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Uma Série de Coisas

O passado cobra seu preço na nova temporada de “Yellowjackets”

A série da Paramount+ prova que o verdadeiro terror está no que ainda não sabemos

Nova temporada de "Yellowjackets" lança um episódio por semana na Paramount+Nova temporada de "Yellowjackets" lança um episódio por semana na Paramount+ - Reprodução

A terceira temporada de “Yellowjackets” estreou com a missão delicada de sustentar o mistério sem cair na armadilha da enrolação. A série da Paramount+ flerta com os limites entre o suspense psicológico e o horror, mas com a chegada de novos episódios, a produção parece comprometida em oferecer o melhor que pode com a mesma atmosfera sufocante que a tornou um sucesso. O que a diferencia de outras produções do gênero é a forma como o mistério se entrelaça organicamente ao trauma de suas protagonistas, tornando cada revelação uma peça essencial na construção do desenvolvimento da trama.

Atualmente com três episódios (sendo lançado um por semana), a nova temporada mantém a narrativa em duas linhas do tempo, revelando o passado das jovens presas na floresta enquanto acompanhamos as consequências de seus atos na fase adulta. Esse jogo de espelhos entre passado e presente mantém o espectador preso e aprofunda a complexidade emocional das personagens, tornando cada episódio uma experiência intensa. Ainda assim, a tendência é que o espaço entre as duas linhas temporais fiquem cada vez mais próximas e será decisivo ter boas escolhas criativas nesse processo. 

A temporada começa logo após os eventos da segunda. No passado, as sobreviventes tentam se reorganizar em um novo acampamento depois que o abrigo anterior pegou fogo. Natalie (Sophie Thatcher) assume a liderança do grupo, enquanto Shauna (Sophie Nélisse) luta para processar suas perdas. A Lottie (Courtney Eaton) mergulha cada vez mais na crença de que a floresta tem um propósito para elas. 

No presente, já adultas, as mulheres tentam seguir em frente depois do caos na floresta que resultou até na morte de uma das integrantes do grupo. O funeral de Nat reúne as sobreviventes, reabrindo feridas e despertando novas desconfianças. Shauna (Melanie Lynskey) se vê diante de um desafio inesperado com a presença de Lottie (Simone Kassell) em sua casa, ao mesmo tempo em que sua relação com a filha Callie (Sarah Desjardins) segue complicada. Misty (Christina Ricci) enfrenta uma crise emocional ao lado de Walter (Elijah Wood), e Taissa (Tawny Cypress) precisa lidar com o sofrimento de Van (Lauren Ambrose), que agora enfrenta uma batalha contra o câncer.

Os dois primeiros episódios da temporada, "It Girl" e "Dislocation", não estendem os mistérios desnecessariamente, cada cena tem um propósito claro, e a edição mantém a tensão sem perder o fio condutor da trama. Visualmente, “Yellowjackets” continua a evoluir cinematograficamente, com uma direção que reforça a sensação de desconforto e paranoia. 

O elenco entrega ótimas atuações, com destaque para Christina Ricci, que adiciona novas camadas à já enigmática Misty. A série prova que não precisa de sustos fáceis para ser perturbadora – seu horror está na psicologia fragmentada dessas mulheres e nas cicatrizes que carregam.

Se a terceira temporada mantiver esse equilíbrio entre mistério e profundidade dos personagens, “Yellowjackets” pode continuar a explorar os limites da sobrevivência, da culpa e do que significa realmente enfrentar o passado por mais tempo que o esperado.

*Fernando Martins é jornalista e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.

*A Folha de Pernambuco não se responsabiliza pelo conteúdo das colunas.

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