Adilson Ramos celebra 80 anos com desejo de seguir "Forte, saudável e vivo!"
Cantor e compositor nascido no Rio, tem o coração em Pernambuco, onde mora há mais de quatro décadas

Jack, um Lulu da Pomerânia, “abriu a porta”. Ivani, “namorada, noiva, esposa e maior fã” veio em seguida ao lado de Adilson Ramos, o mais recente ‘oitentão’ da música romântica do País Pernambuco e do Brasil, que o conhece desde os tempos roqueiros em Campo Grande, Rio de Janeiro, sua terra de nascimento.
Porque a de coração, há quatro décadas, é por aqui.
“Podemos bater um papo”?, pergunto. “Claro! Mas vai ter fotografia também?”, responde o artista.
E eis que um pente estrategicamente lançado do bolso deixa nos “trincs” uma cabeleira que outrora fez sucesso com topetes, em ares cariocas e ainda como roqueiro. Era como aflorava, à época, Adilson Ramos de Ataíde - o aniversariante deste 7 de abril de 2025.
Em plena forma artística aos 80 anos, ele celebra trajetória que segue ativa e acompanhada por fãs de todas as gerações, em palcos diversos, de festivais a redutos que remetem a salões de baile por onde, durante décadas, casais rodopiavam ao som de hits como “Fim de Festa” e pout porris com “Leda”, “Solidão” e “Olga”.
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“Eu acho que dessa vez está até demorando”, ressaltou Adilson, ao ser questionado sobre o romantismo de outrora da música brasileira, em bate-papo com a Folha de Pernambuco em seu apartamento, em Boa Viagem.
A conversa aconteceu no reduto afetivo de memórias dedicadas à música: um cômodo da casa tomado por relíquias de carreira, com discos, troféus, fotografias e quadros na parede com os títulos de Cidadão do Recife, de Jaboatão e de Pernambuco.
O início
O ponto de partida foi em abril de 1960, quando o primeiro disco solo ("Adilson Ramos") foi lançado e o romântico e a imortal “Sonhar Contigo” adentravam no universo da música - para nunca mais sair. Antes, porém, foi em Os Cometas que ele deu start, aos 11 anos de idade, e com um dos clássicos dançantes de seu repertório, “Olga” - a primeira faixa do disco.

“Os Cometas, isso me traz muita recordação, porque foi onde começou tudo, há 65 anos, antes da Jovem Guarda. Darcy, Arnaldo e Elói me chamaram para cantar e no ensaio começamos ‘Oh, Olga, Olga meu bem’, a primeira de tudo”, conta ele, complementando sobre a origem do nome da música.
“Todos perguntam se foi uma namorada, mas Olga é minha sobrinha e afilhada. Minha tia queria muito uma menina, depois de ter tido quatro meninos. Cheguei com meu acordeon e a melodia, e meu tio, deu letra à ‘Olga’ e assim foi feita a música que daria o nome da filha dele, nascida pouco tempo depois”.
Apesar de ‘meio’ rock'n roll e dos passeios em seu ‘Karmann Ghia’, Adilson assume que não era boêmio e suas saídas ocorriam em meio à família.
“Gostava de sentar na praia, cantar, meus pais gostavam de me ouvir tocando acordeon”, relembra, sobre o instrumento recebido do pai no aniversário de 9 anos. A partir de então, até chegar a Orlando Dias (1923-2001), uma de suas referências, um romântico inveterado não tardaria a surgir na música.
“Comecei cantando Orlando Silva (...) E em passeio com meu pai, em um parque de diversões, pedi para cantar uma música e acabei cantando cinco. Tinha uma pessoa da TV Tupi assistindo, que me levou a um programa, e foi a minha primeira vez na televisão”.
Do Rio para Recife
“O meu filho mais velho chegou aqui tinha 14 anos. Meus netos e bisnetos nasceram aqui. Ivani e eu vivemos muito mais em Pernambuco do que no Rio. Aqui estamos há mais de quarenta anos”, exalta Adilson, pai de três filhos, avô e bisavô.
“É aqui em Recife e em Belém do Pará onde faço mais sucesso”, entrega ele, ao relembrar sobre o último trabalho, em CD, com a então Banda Calypso (anos 2000).
Memórias Afetivas
Ao apontar para a capa do primeiro disco como cantor romântico e com a atemporal "Sonhar Contigo" entre as faixas, Adilson se remeteu a memórias contidas no espaço em que guarda afetividades de carreira.
“Por vezes me sento, fico pensando, meu Deus do céu, que caminhada! São 65 anos descritos aqui”, enaltece, emocionado, ao passear os olhos pelo acervo e chegar ao primeiro troféu, o de 1963, pela “música mais ouvida, mais tocada no Brasil inteiro”, como descreve o próprio ao remeter a “Sonhar Contigo”.
“O primeiro, aí começou a chegar outros”, deleita-se, enquanto segue mostrando o Disco de Ouro que ganhou em Sílvio Santos, fotos, vinis e um item apontado como especial. “Todo acabadinho… mas está aqui. O Disco de Ouro que ganhei das mãos de Chacrinha. É uma das lembranças que me emociona”.
Para a próxima década, Adilson Ramos almeja continuar nos palcos “pulando”. Mas acima de tudo, deseja seguir ao lado da família, em especial de sua Ivani, a “namorada, noiva, esposa e maior fã” há seis décadas, desde as marchinhas do Carnaval carioca.
“Desci na estação (de trem) e nos cruzamos na rua. Passei a mão na mão dela (...) e fiz o convite: ‘Podemos nos ver amanhã?’ Ela aceitou e dali em diante, permanecemos até hoje nos amando”.