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Ao som dos ritmos latinos

Entre as diversas ligações que existem nas cidades do Recife e de Olinda, estão as festas embaladas pelo gênero musical

Prefeito Geraldo Julio (PSB) anuncia o Passe Livre para bolsistas do ProUni RecifePrefeito Geraldo Julio (PSB) anuncia o Passe Livre para bolsistas do ProUni Recife - Foto: Andréa Rêgo Barros/PCR

Trajado de sapato bico fino e chapéu estilo panamá, Edinho Jacaré se posiciona próximo à entrada do Clube Bela Vista, no bairro de Água Fria, para receber o público que vai à Noite Cubana, criada por ele há quase 25 anos e que hoje já é tradição entre a comunidade local. Aberto às 18h, o espaço é povoado inicialmente pelos frequentadores mais antigos, que se acomodam ao lado esquerdo do salão.

O calçado masculino social de salto, que vai até os 3 centímetros, é considerado adereço essencial para deslizar na pista, assim como a saia rodada é a peça mais usada pelas mulheres. A indumentária faz parte do ritual latino quase já esquecido, mas hoje está cada vez mais vivo entre Recife e Olinda devido ao sucesso das festas que investem em ritmos latinos.

“Comecei a Cubana em 1992, porque a gafieira estava muito ausente. Comecei a dançar aos 10 anos de idade, já estou com 72 e continuo achando gostoso o som cubano, por isso consegui juntar o pessoal mais velho com o público mais jovem”, observa Edinho Jacaré, que, além de fundador da Cubana, é DJ residente da festa ao lado de Valdir Português.

 

O sucesso da festa se deve, principalmente, ao rico acervo de música cubana que Edinho coleciona desde a infância, estimulado pela admiração aos cantores cubanos Celia Cruz e Bienvenido Granda, sempre enfatizando ritmos como a salsa e guaracha. Por onde discotecou, o DJ foi somando seguidores ao seu projeto e, pelas suas contas, há cerca de 10 anos as gerações mais jovens descobriram o Clube Bela Vista e também passaram a frequentá-lo fielmente nos primeiros e terceiros domingos de cada mês, quando acontece a Cubana.

Desde então, o lado direito do lugar costuma reunir os mais novos dançarinos da Cidade, cujos passos improvisados pelos pés descalços ou vestidos em sandálias e tênis são vistos com graça pelos mais experientes.

Dona de uma ampla discoteca de vinis de cumbia e pesquisadora do estilo, a DJ Catarina Dee Jah também enxerga a aproximação recente dos jovens como consequência das circunstâncias culturais do Estado somadas a moda das lambadas dos anos de 1990 para cá.

“A nossa geração tinha a coisa do forró e pegou o boom da lambada, mas me lembro que nos primeiros bailes da Academia da Berlinda as pessoas ainda ficavam com vergonha de dançar. Acredito que com esse movimento se criou mais a tradição dos jovens dançarem juntos de novo e frequentar aquele núcleo do Bela Vista. Ali se quebra um pouco do individualismo, mexe com a sensualidade de uma forma que não seja só pejorativa ou sexual”, analisa.

O acervo de cumbia da pernambucana foi uma das principais fontes para a construção da sonoridade da banda Academia da Berlinda, que acredita que a afinidade olindense com o ritmo vai além da estética.

“Em Cuba, a educação é bem forte, por isso, a música de lá é coisa fina. A cumbia é mais popular e tinha mais a ver com a nossa própria vida, a nossa linguagem. Em termos políticos e culturais mesmo você pode ver que Olinda se parece mais com a Colômbia do que com Cuba”, observa o tecladista da banda Hugo Gila.

No auge da Era do vinil, o principal selo que publicava a música latina era o norte-americano Seeco, cujos lançamentos no Brasil eram feitos pela pernambucana Mocambo, da Rozenblit. Por isso, desde os anos de 1960, o Estado tem a tradição de disseminar a música latina para o restante do País. Essa aproximação histórica permitiu a riqueza de várias festas do gênero, além da própria Cubana.

“Rolavam umas noites cubanas em Olinda também, no Mercado Eufrásio Barbosa, no Clube Atlântico. Quando comecei não havia tanto público, mas foi crescendo, tanto que hoje muitos DJs já incorporaram a música latina no seu set”, avalia Ubirajara Marinho, de 32 anos, que atua como o DJ Camarones desde 2009.

 

 

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