Após suspensão, Jimmy Kimmel volta à TV e faz defesa emocionada da liberdade de expressão
Apresentador retorna ao comando de programa que leva seu nome, na emissora ABC, em episódio com participação surpresa de Robert de Niro
O apresentador Jimmy Kimmel, um dos nomes mais conhecidos da televisão americana, voltou ao comando do programa noturno "Jimmy Kimmel Live!", na última terça-feira (23). Foi a primeira aparição do profissional após a rede ABC, que pertence ao grupo Disney, suspender a atração por tempo indeterminado na semana passada.
A decisão da emissora aconteceu depois que duas grandes empresas de comunicação, a Nexstar Media Group e a Sinclair Broadcast Group — que controlam afiliadas da ABC em várias cidades dos Estados Unidos —, se recusaram a transmitir o programa. O motivo foi uma piada de Kimmel sobre o suspeito do assassinato de Charlie Kirk, um influente ativista conservador. Mesmo após a Disney reverter a suspensão, as afiliadas mantiveram o veto ao programa.
Durante seu monólogo na noite do dia 15 de setembro, Kimmel disse que o MAGA (referência ao movimento pró-Trump Make America Great Again) estava tentando tirar proveito político da morte de Kirk. O ativista ultraconservador foi baleado e morto no dia 10 de setembro, durante um debate na Universidade do Vale de Utah. Três dias depois, as autoridades anunciaram a prisão do suspeito pelo crime. "Chegamos a novos patamares de baixaria no fim de semana, com a gangue MAGA tentando retratar esse garoto que matou o Charlie Kirk como qualquer coisa que não seja um dos deles", ironizou Kimmel.
Retorno à TV
Na volta ao ar, Jimmy Kimmel foi recebido com aplausos de pé e gritos de "Jimmy". Ele brincou logo no início: "Quem teve 48 horas mais estranhas, eu ou o presidente da Tylenol?"
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Visivelmente emocionado, o apresentador agradeceu o apoio de amigos e fãs — inclusive de nomes que normalmente discordam dele politicamente, como o senador republicano Ted Cruz e comentaristas conservadores como Ben Shapiro e Candace Owens.
Kimmel frisou que nunca foi sua intenção debochar da morte de um jovem, referindo-se a Charlie Kirk, e se desculpou se seu comentário soou "inoportuno ou confuso". Ele destacou que o crime foi cometido por "um homem doente que acreditava que a violência era uma solução".
Em tom crítico, disse que sua suspensão representou um ataque à liberdade de expressão: "Nosso governo não pode controlar o que dizemos ou deixamos de dizer na televisão. Isso não é legal, não é americano. É antiamericano."
Ele também mencionou a pressão do ex-presidente Donald Trump, que teria incentivado a demissão de Kimmel e de sua equipe. Segundo o apresentador, Trump chegou a dizer que gostaria de ver outros colegas, como Jimmy Fallon e Seth Meyers, fora do ar.
De forma irônica, Kimmel contou que havia apenas uma condição para seu retorno: ler uma nota da Disney. O texto, na verdade, era um guia sobre como reativar contas do Disney+ e do Hulu — plataformas de streaming que perderam assinantes em protesto contra a suspensão.
O episódio ainda incluiu uma participação surpresa de Robert De Niro, em tom de sátira, interpretando o papel de presidente da FCC (órgão regulador das comunicações nos EUA). A cena criticava o que Kimmel chamou de "táticas de máfia" para tentar calar vozes críticas.
Apesar da repercussão, Kimmel não chegou a pedir desculpas formais — o que, segundo o grupo Sinclair, seria condição para recolocar o programa no ar em suas afiliadas. Horas antes da gravação, Kimmel havia publicado no Instagram uma foto com o lendário produtor Norman Lear, morto recentemente, lembrado como defensor da liberdade de expressão na TV americana.
A polêmica gerou forte reação dentro dos EUA. Personalidades de Hollywood, colegas apresentadores e até ex-executivos da Disney criticaram a suspensão, chamando-a de "ato de covardia corporativa".
A própria Comissão Federal de Comunicações se dividiu: Anna Gomez, única integrante democrata, afirmou em nota que o órgão "não tem autoridade para policiar conteúdos ou punir emissoras por falas que o governo não gosta" e chamou a decisão da ABC de "vergonhosa rendição".

