Séries

Autora de 'Bridgerton' diz que a série tornou sua obra mais inclusiva

Julia Quinn afirma que nunca teve uma recepção como a dos brasileiros

Phoebe Dynevor e Regé-Jean Page em cena de 'Bridgerton'Phoebe Dynevor e Regé-Jean Page em cena de 'Bridgerton' - Foto: Liam Daniel/Netflix

Jovens, nobres e casamenteiros, os protagonistas de "Bridgerton" ganharam as telas recentemente, mas já existiam na imaginação de Julie Pottinger, 51, há mais de 20 anos.

A autora, que assina os livros que inspiraram a série com o pseudônimo Julia Quinn (em inglês, o sobrenome pronuncia-se igual à palavra "rainha"), voltou às listas de mais vendidos depois que a adaptação estreou fazendo barulho na Netflix.

Lançada no final de dezembro, a série foi a quinta maior estreia da plataforma, se tornou a mais vista do streaming em todos os tempos e já teve uma segunda temporada confirmada.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, a autora conta que não esperava que essas obras, já com alguns anos nas costas, ainda fossem render tanto. Antes da série, ela já tinha alcançado o topo da lista de mais vendidos do New York Times, mas nunca por mais de uma semana. O livro "Duque e Eu", no qual a primeira temporada é inspirada, já está pela terceira semana no topo do ranking (outros dois livros dela também aparecem na lista).

"Nem em sonhos eu achava que ele voltaria às listas de mais vendidos", diz a autora. "Sempre foi um livro popular, que foi vendendo bem ao longo do tempo, mas nunca imaginei que ele ia virar série de TV e teria uma trajetória como essa."

O fenômeno se repetiu no Brasil, onde cinco livros protagonizados pela família Bridgerton entraram na lista de mais lidos da PublishNews. Por aqui, a Editora Arqueiro, do grupo Sextante, já publicou 29 títulos de Quinn em seis coleções. Em 2021, serão mais quatro, com a chegada da trilogia "Damas Rebeldes" (que tem o primeiro livro de Quinn) e um livro de contos com a história de um dos personagens que aparece na trilogia.

Na próxima quinta-feira (4), a autora participará de uma live com o público brasileiro, dentro da Semana Amazon de Literatura. "A única coisa que me deixa triste é que quando vou pessoalmente ao Brasil ganho brigadeiros", brinca.

Enquanto toma café em uma caneca com uma foto de São Paulo, com o nome da cidade escrito -ganhei de um fã quando estive aí", diz-, ela lembra que já esteve no país duas vezes, em 2015 e 2017, para divulgar seus livros e diz jamais ter experimentado algo igual.

"Nunca tive uma recepção assim", afirma. "Eu entrava nas livrarias e tinha filas enormes. Quando me viam, os fãs começavam a gritar. Nos Estados Unidos também vai bastante gente, mas as pessoas costumam ser mais reservadas. Eu fiz um vídeo e mandei para a minha família dizendo: 'Olha isso, sou importante aqui no Brasil!'."

Formada em história da arte em Harvard após trancar o curso de medicina, ela consegue ver o lado dos leitores. "O romance de época é um subgênero muito popular", defende, lembrando de nomes como Jane Austen e Georgette Heyer. "Era isso que eu gostava de ler, então foi isso que eu tentei escrever."

A americana, nascida em Nova York, conta que precisou fazer uma pesquisa profunda antes de se aventurar nesse tipo de escrita. "Tinha que saber como alguém se dirigiria a um duque, o que diria a uma pessoa como essas, mas isso não é algo que um britânico médio saiba também", ponderou. "A maioria das pessoas por lá não sai por aí com o Duque de Hastings (risos)."

Na série da Netflix, ela atuou como consultora. Isso significa que não escreveu os roteiros, mas recebeu todos eles antes das gravações para dar seu parecer. "Se tivesse algo de errado, eu teria dito, mas eles deixaram meu trabalho bem fácil", diz sobre a equipe do criador Chris Van Dusen. "Só dei pequenos toques, como que alguém não falaria 'sir' seguido por um sobrenome, senão pelo primeiro nome. Realmente não tive muito o que fazer."

No processo de ver sua obra nas mãos de outras pessoas, Quinn diz ter sido ajudada também por uma característica dela ao escrever. "Não sou uma autora muito visual", afirmou. "Não tinha uma imagem dos personagens na cabeça enquanto escrevia. Quando assisti à série eu descobri como eles eram. 'Ah, então a Daphne [vivida pela atriz Phoebe Dynevor] é assim!'."

Sobre a mudança de cor de alguns dos personagens, como o próprio duque, vivido por Regé-Jean Page -um ator negro-, ela diz que ficou positivamente surpresa. "Quem mais poderia ser o Simon?", diz. "Ele é perfeito."

"Acho que parte dos motivos para a série ter se tornado tão popular é que ninguém tinha feito algo para a TV dessa forma", elogia. "Teve que vir a Shondaland [produtora de Shonda Rhimes, de 'Grey's Anatomy'] para apostar e dizer: 'Espera um minuto, as pessoas adoram ler esses livros, por que não gostariam de uma série de TV também?'."

"Sou grata por terem usado meu livro nesse projeto", afirma. "As pessoas falam muito do elenco diverso, mas por trás das câmeras também havia variedade de cores, gêneros e orientações sexuais. Eu sou apenas eu, uma pessoa, é o mais diversa que posso ser. Mas esse grupo me ajudou a tornar o que escrevi algo maior e mais colorido."

"O legal desse tipo de romance é que, em última instância, ele existe para que as pessoas possam ver um final feliz e, com sorte, imaginar a si mesmas tendo um final feliz", explica. "Quero que o maior número possível de pessoas tenha a capacidade de se ver nesse final feliz, e a série me permitiu fazer isso de uma forma que eu não era capaz de fazer nos livros."

A autora rebate as críticas de pouca fidedignidade histórica, especialmente nos retratos das mulheres, que parecem muito mais modernas do que a época permitiria. "Eu realmente dou a elas algo que ansiar, para que elas tentem escapar do que a sociedade está dizendo que elas têm que fazer", defende. "Elas podem ter essa abordagem moderna, mas ainda têm que lutar contra as estruturas de seu tempo. Não acho que seja totalmente irreal."

Por outro lado, uma cena da série causou polêmica ao mostrar uma imagem de sexo não-consensual, na qual Daphne obriga o marido, Simon, a fazer algo que ele não queria na cama (sem spoilers!). A cena, que já aparecia de modo mais ou menos parecido no livro, só chamou a atenção agora.

"Nós, como sociedade, ganhamos um novo entendimento do que significa consentimento", avalia. "Acho que em 2021, é mais difícil entender a falta de poder que a Daphne tinha naquela sociedade, de modo que fica mais difícil empatizar com ela. Mas também acho que é bom que estejamos chegando a esse momento em que é mais difícil alguém entender a total impotência de uma mulher."

Quinn diz que ainda não sabe se os Bridgertons continuarão aparecendo em seus próximos livros. Embora a série de livros protagonizados pela família tenha se encerrado em 2013, eles sempre dão as caras em outras obras da autora. "Juro que ainda não sei qual vai ser minha próxima novela", afirma.

O próximo projeto ela adianta que será a publicação nos Estados Unidos da graphic novel "Miss Butterworth and the Mad Baron" ("A Senhorita Butterworth e o Barão Louco", em tradução livre), ilustrado por sua irmã, Emily Cotler. Trata-se de uma publicação que frequentemente aparece sendo lido pelos personagens de seus livros, mas que ela não tinha pensado em escrever de fato. "Os fãs começaram a pedir", conta.

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