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'Coisa Mais Linda' narra a trajetória das mulheres em uma sociedade machista

Série brasileira se passa no auge da Bossa Nova, em 1959

Maria Casadevall, Pathy Dejesus, Fernanda Vasconcellos e Mel Lisboa fazem parte do elenco de "Coisa Mais Linda"Maria Casadevall, Pathy Dejesus, Fernanda Vasconcellos e Mel Lisboa fazem parte do elenco de "Coisa Mais Linda" - Foto: Divulgação/Netflix

“Homem é mais focado, mais profissional”, “O homem é o provedor da casa” e “Mulheres só falam sobre moda”. Frases machistas como essas são mais comuns do que se imagina. Ainda que populares em décadas passadas, elas continuam presentes nos dias de hoje. Na nova série nacional da Netflix, “Coisa Mais Linda”, somos apresentados ao Brasil de 1959, no auge da Bossa Nova e da dominação de uma sociedade onde o homem domina e a mulher é percebida como o sexo frágil.

Coisa Mais Linda” é a quarta série brasileira que carrega o selo original Netflix e talvez seja a que mais se aproxima da realidade que um dia foi mais cruel quanto às questões de gênero, questões essas que ainda estão longe de ter um fim. A protagonista, Malu (Maria Casadevall), foi roubada pelo marido, que fugiu sem deixar qualquer explicação, e se muda de São Paulo para o Rio de Janeiro. Forçada a sair da zona de conforto, ela conhece a Bossa Nova e se inspira em abrir um clube de música ao lado de sua recém-amiga Adélia (Patrícia Dejesus), uma mulher negra e moradora de favela que trabalha para sustentar a irmã e o filho.

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Pelo fato de a história ser um recorte brasileiro, estranha-se a escolha da produção de priorizar uma versão de Amy Winehouse (não me levem a mal, adoro a cantora) da música “Garota de Ipanema”, quando temos versões bem representadas nas vozes de Vinicius de Moraes ou Tom Jobim. Entretanto, ao longo dos episódios, isso se justifica quando notamos que “Coisa Mais Linda” é uma série gravada para ser vista sob um olhar “gringo”, que ressalta atrações conhecidas pelos turistas, como o samba fortemente presente na trilha sonora, assim como praias e pontos turísticos, valorizados  em plano aberto na impecável fotografia.

Nada disso apaga o peso que a trajetória das personagens carrega. “Coisa Mais Linda” deixa claro que o foco está nas histórias de vida e superação dos vários tipos de mulheres representadas nos episódios. Além das duas amigas já citadas e de seus dilemas completamente distintos, temos Lígia (Fernanda Vasconcellos) e Thereza (Mell Lisboa). O roteiro desenvolve intencionalmente a empatia dos telespectadores quando coloca essas mulheres, tão diferentes na aparência e na personalidade, unidas com o propósito de ajudar umas as outras a irem contra o que a sociedade espera delas, lutando por independência.



Nenhuma personagem fica apagada, todas têm seus arcos valorizados. Mas a curta temporada, que vinha numa progressão instigante, digna de maratona até o penúltimo episódio, acaba quebrando o ritmo com um final um pouco apressado, e soluções pouco convincentes para problemas que foram interessantes de acompanhar. O equívoco poderia ser resolvido com o formato padrão de 10 episódios (“Coisa Mais Linda” fecha em sete) que as séries estrangeiras costumam ter na Netflix.

Ainda assim, o último momento da temporada deixa um gancho que simboliza aquilo que vem sendo tratado não somente durante a temporada, mas também pela história da nossa sociedade na vida real: quantas vezes a verdade das mulheres pode ser roubada e negada por atitudes e preceitos patriarcais?

Coisa Mais Linda” é uma série para se assistir de uma só vez, pois fisga a atenção não só por apresentar personagens próximos à realidade, mas por incentivar a discussão e a reflexão sobre assuntos como preconceito racial, abuso sexual e psicológico, igualdade de gênero, e os privilégios dos ricos ofuscando a classe pobre. Por ser carregada de conteúdo e questões importantes, acaba por transcender a tela, deixando o público com o olhar vago e pensativo no final da temporada.

Ah! E para balancear as frases infelizes do início desse texto, finalizo com uma – das várias – "tapas na cara" que a série dá: “Nunca deixem os seus maridos controlarem o seu dinheiro, muito menos as suas vidas”.

COISA MAIS LINDA (NETFLIX)
Número de temporadas: 01.
Episódios: 07.
Média de duração: 45min/ep.
Cotação: 4/5.

*Fernando começou a assistir a séries de TV e streaming em 2009 e nunca mais parou. Atualmente ele acompanha mais de 200 produções e já assistiu mais de 6 mil episódios. A série mais assistida - a favorita - é 'Grey's Anatomy', à qual ele reassiste com qualquer pessoa que esteja disposta a começar uma maratona. Facebook: Uma série de Coisas. Instagram: @umaseriedecoisas. Twitter: @seriedecoisas_ Portal: Uma Série de Coisas.

*A Folha de Pernambuco não se responsabiliza pelo conteúdo das colunas.

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