Conta não fecha
"Renascer" entrega texto primoroso, elenco preparado e inovações pertinentes, mas audiência não decola
A aposta crescente no formato de séries e o crescimento das plataformas de streaming vêm, ano após ano, mudando os hábitos de consumo dos telespectadores. Com isso, a tarefa de prender o público à frente da tevê fiel e diariamente para acompanhar as telenovelas é uma tarefa cada vez mais desafiadora. De uns anos para cá, a Globo passou a investir em adaptações de sucessos do passado, talvez pensando em surfar em um sentimento de nostalgia em parte dos brasileiros ou, quem sabe, pela falta de novas sinopses que sejam mais instigantes. Funcionou bem com “Pantanal”, mas derrapou em “Elas por Elas”, na faixa das 18h, apesar de se tratar de um folhetim com qualidade e elenco bem escolhido.
Agora, em “Renascer”, que vem sendo exibida desde janeiro no horário nobre do canal, a sensação é mais ou menos a mesma: a história agrada, o texto respeita a escrita original de Benedito Ruy Barbosa, mas sem deixar de atualizá-lo quando necessário, e os atores, em sua maioria, surpreendem positivamente. A audiência, porém, não corresponde às expectativas do horário, acumulando apenas entre 25 e 26 pontos de média geral até aqui.
É claro que isso pode ter a ver com o fato de que muitos telespectadores de hoje se recusam a manter o clássico hábito de assistir às novelas no horário em que os capítulos vão ao ar. Afinal, para quem assina a plataforma de streaming Globoplay, tudo é disponibilizado pouco tempo depois da exibição pública e sem blocos de comerciais. Mas é verdade que “Renascer” foge um pouco da velocidade com a qual as tramas são apresentadas em outros folhetins atualmente.
A saga de José Inocêncio, papel de Marcos Palmeira, é contada desde sua juventude até o seu fim, com espaço para desenvolver embates e questões enfrentadas principalmente pelos filhos e rivais dele. As cenas de ação não são tão constantes, mas isso não significa que a produção não seja capaz de prender a atenção de quem assiste.
Outro ponto curioso em “Renascer” é que não há, ainda, um casal romântico que puxe a torcida do público. O romance ganhará mais espaço a partir do capítulo 100, previsto para o dia 16 de maio, fato que, normalmente, marca um ponto de virara em novelas. “Renascer” agora abre terreno para uma das duplas que mais encantou o público na versão original, exibida em 1993: Iolanda, a Dona Patroa defendida por Eliane Giardini, e Seu Rachid, vivido pelo saudoso Luiz Carlos Arutim. Agora interpretado por Camila Morgado e Almir Satter, o casal já demonstrou ter química e tem tudo para arrebatar a torcida de uma boa parte dos fãs da trama.
Ainda nessa onda romântica, aproxima-se a fase em que João Pedro e Sandra, personagens de Juan Paiva e Giullia Buscacio, ficam de fato juntos. Na década de 1990, a química entre Marcos Palmeira e Luciana Braga, que davam vida aos papéis, foi tamanha que não teve como programar um final feliz para o filho rejeitado de José Inocêncio com Mariana, atuação de Adriana Esteves, hoje a cargo de Theresa Fonseca. E a aproximação cada vez mais intensa de Buba e José Augusto, papéis de Gabriela Medeiros e Renan Monteiro, também vem chamando atenção.
A história dela, aliás, foi um grande passo na modernização do texto original. Na época uma pessoa intersexo, agora ela é uma mulher trans. Esse é um tema que ainda vai ganhar espaço ali e que deve ajudar a fazer “Renascer” virar tema de muitas conversas de bar ou, já na realidade do terceiro milênio, figurar nos principais trending topics do Brasil nas redes sociais.
“Renascer” – Globo – Segunda a sábado, na faixa das 21h.