Crítica: 'Ferrugem' traz história sobre bullying e redes sociais
Dirigido por Aly Muritiba, o longa-metragem 'Ferrugem' reflete sobre os impactos que a exposição da intimidade tem na vida dos adolescentes
"Ferrugem" trata de questões urgentes: o bullying, a exposição da intimidade através das redes sociais, os impactos emocionais que essas questões complexas geram no processo de amadurecimento de adolescentes.
O longa-metragem, que venceu três prêmios no Festival de Gramado (melhor filme, roteiro e som) e foi exibido no prestigiado Festival de Sundance, estreia nesta quinta-feira (30) nos cinemas do Shopping Boa Vista e Cinépolis Guararapes.
Na história, um vídeo íntimo de Tati (Tiffanny Dopke) é vazado na escola e ela sofre com a repercussão. Em entrevista para a Folha de Pernambuco, o cineasta Aly Muritiba fala sobre suas inspirações e a repercussão que o filme vem tendo.
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Além de diretor, você também assina o roteiro. Como surgiu essa história?
A história surgiu de um desejo que eu tinha de me conectar e de me comunicar com a geração dos meus filhos. Tenho um filho que chegou agora aos 15 anos, uma filha de 10, na pré-adolescência. Fui professor de ensino fundamental, durante cinco anos, e esse período coincidiu com a chegada dos smartphones na escola. Todas as questões que envolvem essa molecada hiperconectada me fizeram pensar no que é ser adolescente hoje em dia, com toda essa exposição, e me fez pensar no que fazer em relação aos meus filhos, se permitia ou não que eles usassem. Foi essa inquietude que me levou a escrever o roteiro.
O enredo toca em questões contemporâneas urgentes, crises na adolescência. O que te atrai neste tema?
Entre uma série de coisas que podem ser discutidas a partir do filme, uma delas é justamente o papel da paternidade e da maternidade no mundo contemporâneo. Talvez seja um bom momento para nos perguntarmos como estamos educando os nossos filhos e para o que estamos educando eles; estamos formando cidadãos ou apenas peças para o mercado de trabalho? Nesse mundo hiperconectado, os pais também estão hiperconectados: são presenças, mas são presenças ausentes, porque estão sempre com smartphones na mão. Ou então pais que têm relações com seus filhos sempre intermediadas por um smartphone. É algo que parece estar criando uma geração doente. Não é à toa que o número de casos de depressão e o número de crianças com déficit de atenção cresceram exponencialmente nos últimos 10 anos. Está rolando uma medicamentalização da infância e da adolescência que é muito grave.
É uma história que se aproxima do gênero drama, mas de forma sutil e rigorosa. Fala um pouco sobre sua perspectiva de cinema, o que lhe atrai a esse gênero e estilo.
Como espectador, gosto muito de histórias sérias e dramáticas. São as histórias que eu comumente vejo mais. Eu tenho também uma personalidade meio dramática, então acabo escrevendo mais histórias dessa natureza. Mas, ao mesmo tempo, procuro ter cuidado técnico e artístico ao compor minha obra, porque quero muito contar histórias, quero ser um contador de histórias, mas para mim não é tão interessante apenas contar uma história, é importante também decidir como contar essa história, sendo atraente do ponto de vista estético.
O filme vem tendo uma boa repercussão, vencendo prêmios e gerando comentários positivos. De que forma um filme dessa natureza pode afetar ou refletir sobre o real?
Existem filmes que são capazes de disparar as mais diversas emoções e impressões na gente. Acho que esse filme trabalha muito com a questão da empatia. Você consegue, eu imagino, se colocar no lugar da menina, e depois do menino. E quando você provoca empatia você se abre para a conversa, para o diálogo. E numa época em que se conversa tão pouco e que se grita tanto, estar aberto ao diálogo é interessante. Acho que por isso o filme está chamado tanto a atenção. É um filme cuja temática é relevante para os dias atuais, mas a abordagem da temática também convida as pessoas para o diálogo. É um filme que tem servido como um gatilho para conversas entre jovens e também intergeracionais: pais e filhos, professores e alunos. Em todas as vezes que a gente exibiu ele, no Brasil ou no exterior, sempre rolou momentos em que as pessoas vinham perguntar "quando vai passar aqui?", "preciso levar meus filhos", ou "meus alunos". Acho que o filme provoca um desejo de diálogo grande. Nos Estados Unidos, foi um fenômeno. Foi exibido em seis festivais, e em todos, quando terminava a sessão, eu era cercado por pessoas querendo saber como podiam passar esse filme.
Cotação: bom
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