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Crítica: 'Yonlu' revela as angústias de um jovem músico

Baseado em fatos reais, longa 'Yonlu' conta a história de um músico gaúcho que em 2006 foi incentivado a cometer suicídio por anônimos em uma rede social

Cena do filme 'Yonlu'Cena do filme 'Yonlu' - Foto: Rodrigo Marroni/Divulgação

Depois de "Ferrugem", que através da ficção trouxe reflexões sobre o impacto da tecnologia e das redes sociais na formação emocional de adolescentes, entra em cartaz "Yonlu", filme baseado em fatos reais que recupera a história de Vinicius Gageiro Marques, mais conhecido como Yonlu, um adolescente gaúcho de 16 anos que tirou sua própria vida. O longa-metragem, dirigido por Hique Montanari, é lançado no mês da campanha de prevenção ao suicídio, o Setembro Amarelo.



O que há de mais interessante no filme é a maneira como, ao contar a história de Yonlu, um jovem e promissor artista, reflete sobre a adolescência, período de transformações fundamentais. Yonlu se matou no dia 26 de julho de 2006, e sua decisão de se suicidar foi incentivada por pessoas anônimas em uma rede social, que estimularam o jovem a fazer essa escolha trágica. Ficou de legado cerca de 60 canções, que já foram lançadas no Brasil (2007) e no exterior (2008).

"Na hora que ele mais precisava de um abraço amigo, ele recebeu empurrões de anônimos irresponsáveis na internet, que não se sentiam responsabilizados por suas postagens", diz Hique. "Esse assunto é muito atual, urgente e precisa ser discutido. Chega ao ponto de ser utilidade social, a partir do momento que promove reflexões sobre esse tema delicado, chamando para uma conversa clara e adulta, inclusive dentro dos lares, nas escolas", destaca.

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No papel de Yonlu está o ator Thalles Cabral, que dá vida às angústias do jovem. "Já conhecia a história do filme. Conheci o trabalho de Yonlu quando estava fazendo faculdade de cinema, em 2012. Conheci primeiro as músicas dele, só depois que fiquei sabendo da história", diz o ator. "Tenho costume de procurar sempre bandas novas. Conheci o trabalho dele através do YouTube. Depois que me dei conta que ele era brasileiro, porque as canções dele eram em inglês. Achei muito legal, foram músicas que me tocaram, me identifiquei com a poesia dele", ressalta.

A maneira como Thalles interpretou Yonlu foi uma parte importante do processo de definição do personagem. "É como qualquer processo de composição de personagem. Você tenta entender as motivações, os objetivos dele, a parte física, corporal", diz Thalles.

"Nesse projeto, o que tinha de mais desafiador para mim é que por ser uma história delicada, baseada em um caso real, tinha uma responsabilidade maior. Tivemos um cuidado grande para tentar fazer o melhor possível, fazendo justiça ao artista que ele foi, sem fazer nenhum julgamento", ressalta.

Ao lidar com suicídio, a equipe de "Yonlu" teve cuidado de não gerar polêmicas ou problemas na representação. "Como se trata de um tema delicado, que devia ser tratado com respeito, foi muito debatido durante o roteiro, com leituras junto ao pessoal da saúde mental", diz Hique.

"Antes de ir para as salas de cinema, fizemos também uma sessão com psicólogos, psicanalistas, reunimos um público bem específico. Sempre fomos orientados a não cair nos erros, que às vezes nem são opções conscientes, de glamorizar ou romantizar o suicídio. É uma linha tênue que separa. Tivemos esse cuidado de chegar para trazer esse assunto à tona e gerar essa reflexão", destaca.


 

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