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Doralyce e Bia Ferreira: duas forças da revolução negra

As artistas trazem ao Recife o show Preta Leveza, que será apresentado no Terra Café Bar, nesta sexta-feira (6), às 20h

Bia Ferreira e Doralyce Bia Ferreira e Doralyce  - Foto: Arthur Mota

Cota não é esmola e o padrão de beleza vigente precisa cair. Esses são alguns dos pensamentos que permeiam as canções ativistas e necessárias de Bia Ferreira e Doralyce. As artistas trazem ao Recife, pela primeira vez, o projeto Preta Leveza, criado para celebrar um ano da união das duas. Com discurso que prega uma revolução afetiva, amorosa, pautada no diálogo, elas sobem ao palco do Terra Café Bar (rua Bispo Cardoso Ayres, 467 - Boa Vista) nesta sexta-feira (6), às 20h. Os ingressos esgotaram ontem. Na hora, haverá quantidade limitadíssima.

Mulheres negras, lésbicas e militantes: além do amor e da parceria na música, compartilham o apreço pelas causas sociais. As suas carreiras caminham lado a lado, em paralelo ao desejo de um mundo melhor e mais justo para as minorias políticas. Em comum, também, a intenção de levar conhecimento para as mulheres pretas que não tiveram o mesmo acesso à informação.

"Canto pela tia que é silenciada, dizem que só a pia é o seu lugar. Pela mina que é de quebrada, que é violentada e não pode estudar. Canto pela preta objetificada, gostosa, sarada, que tem que sambar. Dona de casa, limpa, lava e passa, mas fora do lar não pode trabalhar", brada Bia na canção “Não Precisa Ser Amélia”. É isto: juntas, Bia e Doralyce são duas forças da natureza, dois furacões da revolução negra e feminista.

As artistas se apresentam no Terra Café Bar

As artistas se apresentam no Terra Café Bar - Crédito: Arthur Mota

 

Doralyce

Pernambucana e dona de uma arte poderosa, Doralyce cursou, no Recife, ao mesmo tempo, as faculdades de Direito e Ciências Sociais. “Essa carga cognitiva me atravessava na arte, mas também me distanciava da oportunidade de estar perto dos palcos por precisar atender a essas demandas acadêmicas”, explica, justificando a mudança para o Rio de Janeiro, em 2014. Lá, teve a oportunidade de começar a trabalhar com música para teatro, o que lhe possibilitou uma ida ao México com a produção. “O teatro me capturou”, revela.

Foi em 2017 que ela fez a sua principal música de trabalho: “Miss Beleza Universal”, do primeiro álbum, "O Canto da Revolução”. “Mode on High Tech. Modelo Ocidental. Magra, clara e alta. Miss Beleza Universal. É ditadura! Quanta opressão”, sentencia o hit. No segundo disco, lançado este ano, “Pílula Livre”, o sucesso ganhou nova versão, em afrobeat. Doralyce, na canção, passeou por um universo que não era o seu. “Eu vim do coco. Fui para o funk fazer um som carioca, mas era a linguagem que eu entendi que eu poderia bater de frente com o patriarcado e teria espaço de fazer as pessoas mexerem o corpo e a mente”, lembra.

Muito dessa força e vontade vem dos exemplos, inspirações na vida e carreira. Entre as suas referências artísticas e literárias, estão Mãe Beth de Oxum, Vilma Piedade, Audre Lorde, Milton Santos, Conceição Evaristo, Nação Zumbi, Isaar, e muitas contemporâneas: Bell Puã, Gabriela Hebling, Edgar o Novíssimo. A sua música, sua arte, é a sua maneira de fazer a revolução. E de espalhar os ensinamentos que vieram da vida - nunca da maneira mais fácil. "A gente entende que nós, mulheres, somos a base e a força humana de toda a estrutura, porque nós somos maioria. Para acontecer uma revolução, é necessário apenas que elas se olhem, se identifiquem e caminhem juntas", pontua.

Bia Ferreira

Natural de Minas Gerais, Bia carrega o Nordeste na sua história. Radicada em Sergipe e residente do Rio de Janeiro atualmente, a cantora, compositora e produtora, começou a trabalhar profissionalmente com música há 10 anos, quando ainda tinha 16. “Eu compreendi a música como uma possibilidade para a manutenção da minha vida, de ganha pão [...] As pessoas começaram a se identificar com o que eu dizia. E eu entendi a música como uma ferramenta de transformação”, comenta.

Bia lida com ataques racistas diretos há um tempo, principalmente de extremistas religiosos. À violência, ela responde com bandeira de amor, pintada de coragem, seguindo os ensinamentos de Jesus Cristo: solidariedade, amor ao próximo. "A gente vem falar sobre as boas novas, de uma revolução que prega o amor, o respeito como tecnologia de sobrevivência nesta sociedade doente que a gente vive", justifica.

Na sua música de trabalho, “Cota Não é Esmola”, com quase 8 milhões de visualizações no YouTube, Bia faz um convite afiado, um chamado: “Existe muita coisa que não te disseram na escola. Experimenta nascer preto na favela pra você ver! O que rola com preto e pobre não aparece na TV. Opressão, humilhação, preconceito Cota não é esmola!”. Sua voz e seu discurso ecoam e aproximam negras, negros. Sacodem as brancas. Desafiam os brancos. É seu modo didático de ensinar e mudar a realidade, ainda mais porque está "enfrentando uma sociedade que não tem mais vergonha de ser preconceituosa". Para ela, a revolução já está em curso.

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