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Carnaval

Em SP, segundo dia de desfiles tem retorno da Vai-Vai e enredos com críticas sociais

Após rebaixamento, maior campeã do carnaval de São Paulo fará homenagem aos povos africanos

Carnaval no Sambódromo em São PauloCarnaval no Sambódromo em São Paulo - Foto: Nelson Almeida/AFP

O Sambódromo do Anhembi recebe neste sábado, a partir das 22h30m, mais sete escolas do Grupo Especial do carnaval de São Paulo. A segunda noite de desfiles promete muita emoção após um ano de avenida vazia, com a volta da Vai-Vai à elite do samba paulistano e enredos com críticas sociais e homenagem à cultura afro-brasileira.

Foto: Nelson Almeida/AFP

Sob grande expectativa, a Vai-Vai será a primeira a estrear na avenida do Anhembi. A maior campeã do carnaval de São Paulo, que foi surpreendida com um rebaixamento em 2019, e depois conquistou o título do Grupo de Acesso, em 2020, prestará uma homenagem aos povos africanos com o samba enredo “Sankofa - volte e pegue”, de autoria do carnavalesco Chico Spinoza. “Sankofa”, um pássaro sagrado africano com a cabeça voltada para trás, carrega como significado o ensinamento de que “nunca é tarde para voltar atrás e buscar o que ficou perdido''.

“É uma grande missão recuperar a dignidade dos povos africanos, que em tempos antigos saíram soberanos de suas terras —  da grande mãe África, levando sua cultura e valores para o resto do mundo. Estes homens e mulheres tiveram o elo de suas vidas rompido dramaticamente pelo episódio da escravidão. Ao reunir os pedaços de suas memórias, pretendemos restabelecer esta conexão, unindo seus descendentes-herdeiros com as civilizações ancestrais”, diz o texto da escola de samba.

Foto: Nelson Almeida/AFP

A partir das 23h35m, a Gaviões da Fiel começa a ocupar a avenida com o samba-enredo “Basta”, que fala sobre desigualdade social, racismo, fascimo e outros preconceitos enraizados na sociedade brasileira. Segundo a escola, o projeto assinado pelo carnavalesco Paulo Barros traz para a avenida uma crítica social sobre temas que estão em debate no cenário atual do país e também do mundo.

A escola de samba, ligada à torcida organizada corintiana Gaviões da Fiel, se envolveu em uma polêmica na semana passada, após o cabeleireiro carioca Neandro Ferreira, de 55 anos, anunciar que interpretaria o presidente Jair Bolsonaro (PL) como uma pessoa gay. A escola, no entanto, negou a informação e disse que o enredo traz uma mensagem cultural, “não tratando de questões políticas ou de apoio partidário em geral”.

Nas redes sociais, a possibilidade de ter um “Bolsonaro gay” na avenida foi alvo de críticas. Alguns disseram que a ideia reforçava o “estereótipo do gay caricato”. Outros questionaram o fato de uma caricatura do presidente como gay ser usada para desmoralizar o presidente. “Ser gay é demérito, motivo de chacota?”, escreveu um usuário do Twitter.

A Mocidade Alegre, terceira agremiação a desfilar, abre a madrugada do carnaval paulista com uma homenagem à cantora Clementina de Jesus. A partir de 0h40, com o samba-enredo “Quelémentina, Cadê Você?, a escola vai contar a história de vida de Clementina, desde o nascimento, no interior do Rio, até se tornar a “rosa dos palcos”.

A escola promete um desfile esteticamente diverso, com homenagem à ancestralidade presente no repertório musical da cantora. A composição surgiu de uma parceria formada por Márcio André, Fabiano Sorriso, China da Morada, Marquinho, Biel, Lucas Donato, Daniel Katar, Bello e Marcelo Valencia.

Em seguida, à 1h45, a escola de samba Águia de Ouro chega ao Anhembi prometendo uma reverência à cultura afro-brasileira. “Afoxé de Oxalá No ‘Cortejo de Bàbá’ Um Canto de Luz em Tempos de Trevas” é o primeiro samba-enredo afro da escola, que trata da religiosidade africana.

A letra tem como fundamento os ritos e mitos de Oxalá, orixá ligado à paz e à proteção. O intuito, segundo a própria escola, é falar da paz sob o olhar do continente Africano, ou seja, sem os símbolos ocidentais, como a tradicional pomba branca. O samba da campeã do Carnaval 2020 ainda exalta a diversidade étnica e faz um manifesto contra a intolerância religiosa.

Entre os autores estão Dominguinhos do Estácio, Jorginho Moreira, João Perigo, Lico Monteiro, Leandro Thomaz, Telmo Augusto, Lucas Valentin, JotaPê, Lanza RafaBerê, Araken Kaoma, Solano Laranjo, Serginho Rocco, Rosali Ahumada Carvalho, Lequinho, Júnior Fionda, Dedé, Rafael Santos, Chocolate, W. Corrêa, Vieira e Rafa Machado.

Quinta a chegar na avenida, a partir das 2h50m, a Barroca Zona Sul vai homenagear Zé Pelintra, uma das mais importantes entidades de cultos afro-brasileiros. O samba-enredo “A evolução está na sua fé... Saravá Seu Zé" é assinado por Sukata, Thiago Meiners, Morganti, Jairo Roizen, Luan, Marcos Thiago, Pixulé e Emerson Franco. Franco morreu em 2021, mas teve o nome incluído mais uma vez no samba-enredo da escola como forma de homenagem.

A ideia do projeto, de acordo com a escola, é contar a história e as particularidades de Zé Pilintra, malandro boêmio cultuado como entidade nas religiões de matriz africana.

Foto: Nelson Almeida/AFP

Às 3h55m, a penúltima a entrar na avenida é a Rosas de Ouro, cujo samba-enredo, “Sanitatem” (cura, em latim), do carnavalesco Paulo Menezes, é inspirado na pandemia de Covid-19. A escola vai trazer ao Anhembi os rituais e caminhos até a cura, desde a antiguidade até os dias de hoje. “Pelas mãos, pela alma ou pela mente, o homem sempre buscou uma coisa: a cura”, como diz um dos trechos do samba. O enredo promete trazer “festa, esperança e agradecimento”, segundo Menezes. Principalmente após mais de dois anos de pandemia.

Última escola do segundo dia do carnaval paulista, a Império de Casa Verde começa a entrar às 5h no Sambódromo do Anhembi, onde trará o enredo 'O Poder da Comunicação - Império, o Mensageiro das Emoções’. Além de contar a história da comunicação, desde os seus primórdios, a escola preparou uma homenagem ao influenciador Carlinhos Maia e também uma novidade para o público, que poderá interagir com um dos carros alegóricos por meio de um QR Code.

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