"Emilia Pérez": ausência de atriz Karla Sofía Gascón em prêmio espanhol repercute no tapete vermelho
No Goya, artistas condenam declarações da atriz, mas saem em sua defesa: 'há um linchamento que deve ser freado', diz Juan Antonio Bayona, diretor de 'A sociedade da neve'
A 39ª edição do prêmio Goya, um dos mais importantes do cinema europeu, aconteceu na noite deste sábado (8) em Granada, no sul do país. 'Ainda estou aqui', de Walter Salles, foi premiado como Melhor Filme Ibero- Americano.
Protagonista de " Emilia Pérez", vencedor como Melhor Filme Europeu, a atriz espanhola Karla Sofía Gascón, no entanto, não esteve presente na cerimônia. Após recente escândalo suscitado pelo resgate de postagens ofensivas e de teor racista da atriz indicada ao Oscar nas redes sociais, Gascón teve sua imagem afastada da campanha de divulgação do filme.
No início da semana, fontes já indicavam que ela não teria sido convidada para a premiação. Diante de tanto barulho, ela optou pelo silêncio dias atrás, conforme anunciou em comunicado em suas redes.
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A polêmica começou no final de janeiro, quando antigos tuítes críticos a muçulmanos e afroamericanos nos Estados Unidos vieram à tona, e cresceu até quarta-feira (5), quando o diretor de "Emilia Pérez", Jacques Audiard, se distanciou de Gascón e descreveu suas mensagens como "indesculpáveis" e "cheias de ódio".
A ausência de Karla Sofía no tapete vermelho do Goya, entretanto, foi mais comentada do que a de Penélope Cruz — que não pôde ir à cerimônia, onde apresentaria um prêmio, por causa de uma forte gripe — ou de Pedro Almodóvar. Apesar de opiniões divididas, muitos dos convidados saíram em defesa da atriz, condenando suas declarações anteriores, mas também o "desproporcional linchamento virtual", destacando o papel da cultura acima de qualquer polêmica.
O diretor Juan Antonio Bayona, premiado no ano passado por "A sociedade da neve", declarou que "Karla estava errada e suas mensagens são indesculpáveis", mas que há um linchamento em torno deles que deve ser freado.
Atriz de "Casa en llamas", premiado como Melhor Roteiro Original, Macarena García também declarou não ser a favor de "linchar ninguém a este nível": "Os tuítes são terríveis e muito repreensíveis. Quando alguém escreve algo assim, há consequências. Mas, ao mesmo tempo, acho que há algo desproporcional no que aconteceu", disse.
Para a atriz Aitana Sánchez-Gijón, que recebeu o prêmio de honra na cerimônia, Karla Sofía Gascón recebeu uma "onda destrutiva excessiva nas redes". Marta Nieto, diretora do filme "La mitad de Ana", também criticou a reação pública: "por mais distantes que estejamos de suas opiniões, o cancelamento não é produtivo, não cria novas narrativas, não concilia", declarou.
Carolina Yuste, premiada como Melhor Atriz por "La infiltrada", acredita que Karla está sendo mais condenada por ser uma mulher trans: “É importante reconhecer e reparar. Ao mesmo tempo, há outras pessoas que não estão sendo punidas desta forma.” Sobre os polêmicos tuítes, o diretor e ator Javier Calvo defendeu que “devemos refletir sobre as opiniões e a necessidade de expressá-las. Temos que ficar um pouco mais calados, de todos os lados”, disse Calvo, que ainda assim defendeu que se tivesse empatia com a atriz.
Afastada dos holofotes
Após o escândalo, a Netflix removeu a atriz da campanha promocional do filme nos Estados Unidos, de acordo com a imprensa americana.
Esta semana, a artista trans, indicada ao Oscar de Melhor Atriz por seu papel como uma traficante mexicana que quer mudar de sexo e desaparecer, pediu desculpas a "todos aqueles que foram feridos ao longo do caminho", e disse que espera que seu "silêncio permita que o filme seja apreciado pelo que ele é, uma bela ode ao amor e à diferença".
"Emilia Pérez", filmado na França e ambientado no México, é o filme com mais indicações, 13, na cerimônia do Oscar de 2 de março. Vencedor de quatro Globos de Ouro, o filme também se envolveu em outra polêmica no México, onde recebeu muitas críticas pela maneira como retrata questões como tráfico de drogas, migração e corrupção.