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Entre a pesquisa e o olhar histórico sobre o Baile

Lançado pela Cepe, livro “A Aventura do Baile Perfumado: 20 Anos Depois” traz depoimentos da equipe, trechos de jornais e até o roteiro do filme na íntegra

GODZILLA IIGODZILLA II - Foto: Reprodução/Adoro Cinema

 

Os 20 anos de lançamento de “Baile Perfumado”, filme pernambucano dirigido por Paulo Caldas e Lírio Ferreira, estão sendo celebrados neste ano. O longa ajudou a moldar o cenário do cinema nacional nos anos 1990, ampliando possibilidades de estilo, conceitos narrativos e estratégias de produção.

Além do lançamento do longa-metragem em nova versão, no Festival de Brasília, estão previstos uma cópia em DVD e contratos de exibição on-line - ainda não finalizados. Há outro projeto que ajuda a fundamentar a importância do filme na história do cinema brasileiro: o lançamento do livro “A Aventura do Baile Perfumado: 20 Anos Depois”.

A obra, escrita pelos professores do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Amanda Mansur e Paulo Cunha, editada pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), reúne depoimentos não apenas dos cineastas, mas também de atores e integrantes da equipe técnica, além de trechos de jornais da época do lançamento e o roteiro do filme na íntegra, com as anotações dos cineastas.

Assim, o livro, que chega as livrarias a partir desta segunda-feira, preenche uma importante lacuna na trajetória do nosso cinema: equilíbrio entre pesquisa cultural, testemunho sobre um determinado período de nossa história e ideias de quem movimentou as engrenagens naquele período. 

“Nós achamos que o filme continua vivo, instigando as pessoas que o veem pela primeira vez”, dizem os autores. “É fortíssimo visualmente e tem uma trilha sonora incrível - talvez a mais forte criada para um filme realizado em Pernambuco. Sem o ‘Baile Perfumado’, provavelmente não teríamos visto a produção posterior - porque foi esse filme que rompeu com o paradigma de que não seria viável produzir longas em Pernambuco. Estávamos condenados, há 20 anos, a rememorar o Ciclo do Recife, no começo do século 20, e o Super-8, dos anos 1970.

O ‘Baile Perfumado’ fez com que olhássemos para frente, sem esquecer o passado”, ressaltam Amanda Mansur e Paulo Cunha, destacando os dos principais movimentos associados ao cinema pernambucano.

“O livro reúne depoimentos com muitos dos participantes da produção - dos diretores aos técnicos, passando pelos atores e músicos. Cada um lembra com muita sinceridade o que aconteceu há 20 anos”, explicam. “O livro também publica documentos inéditos, entre os quais o mais importante é o roteiro original. O roteiro vem na íntegra e em fac-símile - o que permitirá aos leitores ter acesso até às anotações dos diretores, feitas durante as filmagens. Há um texto excelente e inédito de Frederico Pernambucano de Mello, o historiador que foi o principal consultor dos roteiristas do ‘Baile Perfumado’. E há centenas de imagens do fotógrafo Fred Jordão, que documentou a realização do filme há 20 anos”, detalham.

Antes de falar sobre o filme, os autores apresentam um rigoroso trabalho de investigação sobre o cenário daquele período no ambiente cultural pernambucano, destacando a ligação com o movimento Manguebeat, o conceito de “Árido movie”, criado pelo jornalista e cineasta Amin Stepple, e a inquietação da geração de cineastas que fundou o grupo Vanretrô, “uma Vanguarda Retrógrada, com a disposição de ‘fazer cinema’”.

O grupo tinha, entre outros, além de Paulo e Lírio, os cineastas Cláudio Assis e Adelina Pontual. Depois, em 1987, o também cineasta Marcelo Gomes criou o cineclube Jurando Vingar, que durante quatro anos promoveu sessões de filmes clássicos em 35 mm, na sala que se tornaria o Cinema da Fundação.

São fatos que amadureceram perspectivas de cinema e modelos de trabalho que, segundo os autores da pesquisa, podem ser associados a um padrão de “cinema independente autoral de baixo orçamento”, que continua hoje. “Temos tido o cuidado de publicar o máximo de nossas pesquisas sobre o cinema feito em Pernambuco.

Consideramos que a reflexão sobre filmes e realizadores fortalece a cena cinematográfica - é preciso pensar no que fazemos para fazermos cada vez melhor.

Esses filmes realizados em Pernambuco têm feito a diferença no contexto do cine­ma brasileiro - é um fato comprovado pela repercussão na crítica e nos festivais mais importantes do mundo. Esse conjunto se inicia com o ‘Baile Perfumado’. E se hoje temos uma enorme diversidade estética e muitos coletivos de produção é a partir de um pon­to fora da curva, que foi o ‘Bai­le Perfumado’”, ressaltam.

 

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