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Espetáculo "O filho" traz o Teatro da Vertigem a Pernambuco
Sessões serão realizadas desta terça a domingo, no Espaço Cultural Tancredo Neves. A montagem é inspirada em “Carta ao pai”
Em 2010, o Teatro da Vertigem iniciou um namoro com o universo de Franz Kafka (1883-1924), levando ao palco “Kastelo”, inspirado no livro “O castelo”. Depois de seis anos, essa relação se solidifica e o grupo paulista renova seu interesse pelo autor tcheco com o espetáculo “O filho”, que tem direção de Eliana Monteiro e dramaturgia de Alexandre Dal Farra. A peça integra a iniciativa “Kafka na estrada - um projeto de viagem”, que chega a Caruaru através do 26º Festival de Teatro do Agreste (Feteag). As sessões serão realizadas de hoje a domingo, no Espaço Cultural Tancredo Neves.
A montagem é inspirada em “Carta ao pai”, publicação póstuma de um texto escrito por Kafka para seu pai, em 1919, e nunca enviado. Com dramaturgia do premiado Alexandre Dal Farra e elenco formado por Edison Simão, Mawusi Tulani, Paula Klein, Rafael de Bona e Sergio Pardal, “O filho” lança um olhar sobre a debilidade da paternidade moderna. O enredo explora os conflitos vivenciados por três gerações de uma mesma família.
Na trama, Bruno (Sergio Pardal) procura o pai (Edison Simão) para cobrar anos de ausência. Enquanto isso, seu filho (Mawusi Tulani) se sente a cada dia mais abandonado por ele. “Chegamos à conclusão de que, se na época de Kafka o patriarcalismo era muito forte, hoje há um desgaste da família. O Dal Farra traz essa carta para a atualidade, mostrando como essas relações se constroem e desconstroem com tanta rapidez”, afirma a diretora, que passou 20 dias em Praga, visitando lugares frequentados pelo escritor.
Em mais de duas décadas de trajetória, o Teatro da Vertigem tem desenvolvido em seus trabalhos a ocupação de espaços não convencionais, tais como igrejas, hospitais abandonados e presídios desativados. Em Caruaru, o grupo utiliza como locação uma antiga fábrica de tecidos transformada em centro cultural. “Estreamos no galpão do Sesc Pompeia, em São Paulo, onde também funcionava uma antiga fábrica. Tem um sentido simbólico nisso, porque o pai do Kafka, certa vez, comprou um fábrica para que o escritor a administrasse. Ele era um empreendedor e queria que o filho seguisse o mesmo caminho. No entanto, foi a literatura o que ele escolheu”, aponta Eliana.
O cenário da montagem é um grande depósito de móveis antigos, que podem ser utilizados pelos espectadores como assento. Os atores circulam por esse amontoado de tralhas, driblando sofás rasgados, cadeiras velhas, eletrodomésticos ultrapassados e brinquedos quebrados. “Essas peças vão sendo recolhidas em brechós e bazares beneficentes. A ideia é carregar o ambiente com a memória desses móveis, que um dia foram utilizados e depois jogados fora, fazendo uma analogia com a efemeridade do vínculo familiar nos dias de hoje“, explica a diretora, que escolheu sete atores locais depois de um laboratório realizado na cidade, para participar do elenco de apoio da peça.