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Espetáculo "O filho" traz o Teatro da Vertigem a Pernambuco

Sessões serão realizadas desta terça a domingo, no Espaço Cultural Tancredo Neves. A montagem é inspirada em “Carta ao pai”

A Esposa (2019)A Esposa (2019) - Foto: Divulgação

 

Em 2010, o Teatro da Vertigem iniciou um na­moro com o universo de Franz Kafka (1883-1924), levando ao palco “Kastelo”, inspirado no livro “O cas­telo”. Depois de seis anos, essa relação se solidifica e o grupo paulista renova seu interesse pelo autor tcheco com o espetáculo “O filho”, que tem direção de Eliana Monteiro e dramaturgia de Alexandre Dal Farra. A peça integra a iniciativa “Kafka na estrada - um projeto de viagem”, que chega a Caruaru através do 26º Festival de Teatro do Agreste (Feteag). As sessões serão realizadas de hoje a domingo, no Espaço Cultural Tancredo Neves.
A montagem é inspirada em “Carta ao pai”, publicação póstuma de um texto escrito por Kafka para seu pai, em 1919, e nunca enviado. Com dramaturgia do premiado Alexandre Dal Farra e elenco formado por Edison Simão, Mawusi Tulani, Paula Klein, Rafael de Bona e Sergio Pardal, “O filho” lança um olhar sobre a debilidade da paternidade moderna. O enredo explora os conflitos vivenciados por três gerações de uma mesma família.
Na trama, Bruno (Sergio Pardal) procura o pai (Edison Simão) para cobrar anos de ausência. Enquanto isso, seu filho (Mawusi Tulani) se sente a cada dia mais abandonado por ele. “Chegamos à conclusão de que, se na época de Kafka o patriarcalismo era muito forte, hoje há um desgaste da família. O Dal Farra traz essa carta para a atualidade, mostrando como essas relações se constroem e desconstroem com tanta rapidez”, afirma a diretora, que pas­sou 20 dias em Praga, visitando lugares frequentados pelo escritor.
Em mais de duas décadas de trajetória, o Teatro da Vertigem tem desenvolvido em seus trabalhos a ocupação de espaços não convencionais, tais como igrejas, hospitais abandonados e presídios desativados. Em Caruaru, o grupo utiliza como locação uma antiga fábrica de tecidos transformada em centro cultural. “Estreamos no galpão do Sesc Pompeia, em São Pau­lo, onde também funcionava uma antiga fábrica. Tem um sentido simbólico nisso, porque o pai do Kafka, certa vez, comprou um fábrica para que o escritor a administrasse. Ele era um empreendedor e queria que o filho seguisse o mesmo caminho. No entan­to, foi a literatura o que ele escolheu”, aponta Eliana.
O cenário da montagem é um grande depósito de móveis antigos, que podem ser u­tilizados pelos espectadores como assento. Os atores cir­culam por esse amontoado de tralhas, driblando sofás ras­gados, cadeiras velhas, eletrodo­mésticos ultrapassados e brinquedos quebrados. “Es­sas pe­ças vão sendo recolhidas em brechós e bazares beneficentes. A ideia é carregar o ambiente com a memória des­ses móveis, que um dia fo­ram utilizados e depois jogados fora, fazendo uma a­na­lo­gia com a efemeridade do vín­culo familiar nos dias de hoje“, explica a diretora, que escolheu sete atores locais de­pois de um laboratório reali­zado na cidade, para partici­par do elenco de apoio da peça.

 

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