Fábulas e mitologias populares eram inspiração para obras de Brennand
A história de Chapeuzinho Vermelho, simbologia das forças masculina e feminina, eram uma espécie de obsessão
Complexo monumental, a Oficina Francisco Brennand é uma antiga olaria herdada pelo artista de seu pai no bairro de Várzea, na Zona Oeste do Recife que funciona como museu e ateliê, e se tornou um ponto turístico importante no Recife. As esculturas de cerâmica eram a parte mais robusta e mais conhecida da produção do pernambucano Francisco Brennand, que morreu, nesta quinta-feira, aos 92 anos, no Recife.
São totens, armaduras, vermes que saem de dentro da terra, seres zoomórficos, soldados. Em grande número, as obras despontam em uma paisagem de galpões e mata do Engenho Santos Cosme e Damião, que pode ser visitado (o ingresso custa R$ 20).
Durante toda a trajetória do espaço e dos trabalhos que iam sendo acumulados ali, Brennand recebia o público ele mesmo. Era comum vê-lo transitando pelo espaço, recebendo os visitantes para conversas. Nas pinturas, ele se valia de fábulas e mitologias populares, não só do Nordeste, mas do mundo.
A história de Chapeuzinho Vermelho, simbologia das forças masculina e feminina, eram uma espécie de obsessão. Deu origem a séries fantásticas, em sua maioria protagonizada por uma mulher ou uma menina, e costumava passar ao fundo a figura misteriosa de um lobo, ou de um homem que usa a máscara de lobo. Obras que se relacionavam com ideias feministas que Brennand viu ganhar volumes na mesma época em que criou a oficina no Recife. Os mesmo motivos se desdobram em outras pinturas e produções de gravuras, onde o erotismo e as formas do corpo da mulher ganham destaque.
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Ele trouxe do modernismo ainda, em sintonia com a última fase do movimento iniciado nos anos 1920, a figuração de temas e representações populares. Entram para o vocabulário do artista as formas da natureza que observava em solo nordestino. Os pássaros, os insetos, as frutas da região.
Quando abriu a Oficina Brennand, em 1971, o artista, cuja família é de origem britânica, já se dedicava à produção artística havia mais de vinte anos. Ele começou sua trajetória em 1942, quando conheceu o artista plástico pernambucano Abelardo da Hora, também eclético em relação aos suportes que utiliza, com temas que revelam a influência direta de Cândido Portinari.
Brennand foi contemporâneo de Ariano Suassuna, com quem produzia um jornal literário. As viagens nos anos 1940 e 1950 para a Europa alimentaram sua bagagem
de influências, principalmente entre modernistas, e especialmente da obra do arquiteto catalão Antoni Gaudí.
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