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Filme 'A grande jogada' fica muito vinculado ao livro

Roteiro muito preso à linguagem literária que inspirou a produção e excesso de narração prejudicam a trama

Jessica Chastain interpreta Molly Bloom, protagonista e narradora da históriaJessica Chastain interpreta Molly Bloom, protagonista e narradora da história - Foto: Diamond Film/Divulgação

A história de "A grande jogada" é baseada em fatos reais: a vida turbulenta de Molly Bloom, esquiadora profissional até o dia em que, enquanto disputava uma vaga nas olimpíadas de inverno, sofreu uma grave lesão depois de um acidente. A partir daí, ela se muda de Colorado para a Los Angeles, trocando a carreira de esportista por um emprego como secretária de um agente desprezível de Hollywood. Tudo muda quando ela começa a ajudar esse empresário a organizar um jogo de pôquer para pessoas ricas - estrelas da música, do cinema. O filme estreia nesta quinta-feira no circuito nacional.

O roteiro é baseado no livro biográfico escrito por Molly (interpretada por Jessica Chastain) - o roteiro adaptado é a única categoria que o filme disputa no Oscar. A história é empolgante: enquanto trabalhou nesse jogo, Molly se tornou milionária e conheceu os bastidores sem censuras de Hollywood, fatos da intimidade de gente poderosa, situações que caso fossem expostas poderiam arrasar famílias e carreiras. No livro, assim como no filme, Molly não revela boa parte dos nomes, embora já existam teorias - a principal sendo a identidade de Jogador X, personagem fundamental para o declínio de Molly.



O filme é a estreia de Aaron Sorkin na direção, que baseia o roteiro exclusivamente no ponto de vista da protagonista/narradora. Dessa forma, o filme tende a uma perspectiva favorável a Molly, que foi presa em 2013, acusada de lavagem de dinheiro e de operar um jogo de apostas ilegal. A montagem alterna entre o período atual, que corresponde ao julgamento, em que foi defendida por Charlie Jaffey (Idris Elba), e os dias de luxúria de Molly, que, com uma grande quantidade de dinheiro e poder, se rendeu às drogas e às crises existenciais.

Parece esse um dos problemas fundamentais do filme: a maneira em geral positiva como a personagem narradora se enxerga, sem o devido distanciamento crítico para revisar tantos anos e situações dramáticas. Molly revela certos momentos de crise - física, familiar e existencial -, mas o tom é em geral favorável - o que parece especialmente problemático em uma história que se move através de personagens que cometem algum tipo desvio moral e ético.

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A história tem alta velocidade, uma edição que privilegia a rapidez e uma certa dose de humor ao relatar a transição de Molly - de uma vida pacata e interiorana, em uma família tradicional e também disfuncional, até a embriaguez do sucesso. Embora a montagem mantenha um ritmo interessante, o filme não foge de sua herança literária: assim como outras adaptações, "A grande jogada" usa o recurso da narração em excesso, com uma grande quantidade de palavras retiradas do livro para explicar o enredo e as motivações dos personagens.

Embora o texto represente as aflições de uma personagem irônica e nisso haja certo humor e curiosidade, é um artifício que, pelo excesso, se torna cansativo e acaba restringindo a fascinante capacidade sugestiva e emocional das imagens. Parece um filme que não atinge o potencial da grande história que tenta contar, por evitar confrontar certos abismos da protagonista e por um roteiro que teima em seguir com fidelidade o livro.

Cotação: regular

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