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Filme “Mate-me por favor”, em cartaz, no Cinema do Museu
É o primeiro longa-metragem da cineasta carioca Anita Rocha da Silveira
A primeira cena de “Mate-me por favor” (em cartaz no Cinema do Museu, em Casa Forte) sugere o tom geral deste que é o primeiro longa-metragem da cineasta carioca Anita Rocha da Silveira: uma jovem, solitária e talvez entediada, numa noite na cidade, é perseguida por uma pessoa não identificada e assassinada em um terreno onde será construído um conjunto de prédios. O enredo passa então a apresentar os efeitos desse crime nos adolescentes do colégio da vítima, a maneira como o cotidiano deles é afetado por uma sequência de ações absurdas e perigosas.
O filme se dedica aos dilemas de uma juventude que cresceu na cultura digital, mas aos poucos se transforma em algo diferente, sugerindo, através de certa medida de suspense e horror, uma ideia excêntrica e intrigante de amadurecimento e experiências que moldam personalidades. “Todos os meus curtas têm elementos de uma vida até então normal sendo tomada por elementos estranhos. Essa é minha a principal marca: tratar aquele espaço do filme como um universo alternativo. A vida como ela é, mas aos poucos você percebe que não, é uma alteração”, explica a cineasta.
“É um filme que, apesar dos elementos fantásticos, tem muitas emoções que passavam por mim quando tinha 15 anos. Experiências que eu vivi ou amigas viveram”, diz Anita.
“Quando comecei a escrever o roteiro tinha 25 anos. Por ser meu primeiro longa, foi mais fácil voltar para a vida que eu vivi, na cidade onde eu cresci, com personagens da minha classe social. Queria resgatar certas lembranças. Queria tentar fazer um filme que falasse sobre os dias de hoje, ser jovem, os medos, um bairro como certo modelo de vida que a classe média almeja”, detalha.
O enredo cresce através de insinuações, cenas em que a cineasta indica alegorias para compreender a complexidade de um caráter ainda em formação. São nesses momentos em que há uma pesquisa de estilo, o interesse por experimentar através de metáforas e imagens que parecem misturar pesadelo e cultura pop. “É um modo de exagerar, mostrar essa ideia de contaminação, algo que passa para outros jovens. São cenas abertas a outras interpretações, momentos estranhos feitos com uma razão clara de roteiro”, ressalta.
Elenco
O ponto forte do filme é o elenco, as adolescentes Valentina Herszage (Bia, a protagonista), Dora Freind (Renata), Julia Roliz (Michele) e Mariana Oliveira (Mariana). “Foi fácil trabalhar com atores jovens. Eles vêm com coração aberto, confiam mais no diretor”, diz Anita. “O que mais gostei foi isso: depositaram confiança na gente, enquanto alguém que tem experiência pode ficar ressabiado, não confia que você está enquadrando da melhor maneira possível. Com jovens há mais entrega e abertura, além de poucos vícios de atuação formados”, ressalta.
“Foi muito difícil escolher o elenco. Tivemos muitos testes, chamamos as atrizes mais de uma vez, algumas vezes com as mães. Quando escolhemos as quatro meninas, metade do caminho foi andando. A segunda parte do processo era sentar com elas e ver muitos filmes, fora do modelo de atuação de ‘Malhação’ e ‘Glee’, por exemplo.
Modelos mais naturalistas. Isso mudou o modo como elas atuavam. Ver as cenas, conversar sobre cinema e coisas da vida”, detalha.
Modelos mais naturalistas. Isso mudou o modo como elas atuavam. Ver as cenas, conversar sobre cinema e coisas da vida”, detalha.
Trajetória
Antes do longa-metragem, Anita dirigiu três curtas: “O vampiro do meio-dia” (2008), “Handebol” (2010) e “Os mortos-vivos” (2012). “Nos curtas que dirigi também fui a produtora. Eram filmes feitos no improviso, na rua, sem autorização. Eram processos rápidos: escrevia o roteiro, tinha grana de algum prêmio guardada. Com o longa não.
Era preciso aplicar em edital. Foi extremamente demorado, e com uma equipe muito maior”, ressalta.
Era preciso aplicar em edital. Foi extremamente demorado, e com uma equipe muito maior”, ressalta.