ESPECIAL FREVO

Frevo: Tradição em Movimento

O mais pernambucano e potente dos ritmos, o frevo - tom que embala a mais democrática das nossas festas, o Carnaval - registra a história popular através dos tempos

Frevo Frevo  - Foto: Alfeu Tavares/Folha de Pernambuco

"O Frevo está muito forte" é enunciado dos mais sonoros para um folião que se digna em ser de Pernambuco e, portanto, do nascedouro do "(...) Carnaval melhor do meu Brasil".

Porque é "só aqui que tem, é só aqui que há" o gênero Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro (Iphan, 2007) e Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade (Unesco, 2012). 

A afirmação, enfaticamente expressa pelo jornalista e crítico de música José Teles, deu início à conversa sobre uma das manifestações culturais mais complexas (e completas) que pairam mundo afora, e que na efeméride de fevereiro celebra no dia 9 um dos seus dias. Consta que foi nesta data, em 1907, que foi citado pela primeira vez por um veículo de imprensa, o Jornal Pequeno, do Recife. 

 

E lá se vão pelo menos 115 anos em que o dançar, tocar, compor e colorir a Folia de Momo ganhou forma, literalmente, em um pedaço de papel, assim como a canção "Borboleta Não é Ave", de Nelson Ferreira, completa neste 2022 cem anos como o primeiro frevo gravado que se tem notícia.

"Ele (o frevo) não tem mais aquela coisa de tocar no rádio, de ser o grande sucesso do Carnaval. Não é mais o sucesso popular que ficou até o final da década de 1960, com a Rozemblit - a falência da gravadora fez com que o frevo fosse deixando de ter espaço. O frevo hoje é muito de nicho, né? Mas mesmo assim estão fazendo muito frevo por aí, não aquele ortodoxo, o que tem que saber ler a música, fazer arranjo. Esse está indo", complementou Teles, culminando, desta feita, no contrassenso de que o gênero segue "muito forte".

Mas quer saber? Parece que segue sim. Ao menos é o que garante o historiador e analista de pesquisa do Paço do Frevo - espaço localizado no Bairro do Recife e que salvaguarda o gênero de janeiro a janeiro - Luiz Vinicius Maciel, quando assevera que "O frevo é motivado e construído através de mudanças". 

"Porque se a gente passar os gêneros musicais, os que existiam ali no final do século XIX que vão juntos desaguar no frevo, muitos deles a gente não ouve mais com constância como o maxixe, por exemplo. São gêneros que dialogam junto com a marcha, com o dobrado, para desaguar no novo mundo que é o frevo", explica Luiz, complementando que "o frevo é fruto dessas mudanças que até os dias de hoje o mantém vivo, sempre puxando o que tem no passado, dialogando com o que a gente chama de tradicional mas também reinventando".

Frevo, enquanto conceito
Pensado pelo viés de que mudanças no frevo são necessárias e, para além disso, funcionam como um motor de entendimento entre o que se tem e o que pode ser (re)construído - a partir de toda uma sonoridade, regida por notáveis como Antonio Maria e Nelson Ferreira, passando pelo maior compositor do ritmo, Capiba, pela dança de Nascimento do Passo e por um dos criadores do frevo, em seus primórdios, o Capitão Zuzinha, não há o que temer quanto aos 'descaminhos' do gênero, tomados por nomes novos que não deixam de tutelar o frevo quando imprimem boas-novas ao gênero.

"Tem muitos maestros vivos hoje que a gente dialoga, que tiveram atuação grande nas décadas de 1970/1980/1990 e que para nós, hoje, são clássicos. Mas eles tinham também os seus clássicos, os grandes maestros do passado. A mudança está muito presente na história do frevo", reforça Luiz Vinicius, que integraliza a sua fala remetendo-se ao frevo, centenário que é, mas passível e aberto a novas possibilidades.

"Essa força do frevo, como uma manifestação que é capaz de há 130 anos surgir e até hoje ter pessoas modificando, brincando, buscando novas possibilidades, e ainda assim ele está ativo, vivo e conquistando novas gerações".

Frevo fora da ortodoxia
Ainda sobre a evolução (e revolução) do ritmo, e aqui fala-se do Frevo de Bloco, do Frevo Canção e do Frevo de Rua em meio a dobradiças, tesouras, ferrolhos e ponta dos pés - alguns dos passos elementares do ritmo - nomes como Nelson Ferreira, como bem lembrou José Teles, já se mostravam fora da "caixinha" do rigor tradicional. Vale ressaltar que essa realidade já se fazia presente em plena década de 1950.

"O frevo está sempre evoluindo. Tem a Limusine 99, banda underground que ficou na frente de Capiba e de Nelson Ferreira em um concurso de frevo na década de 1970. E antes disso, Nelson, em 1950 fez 'Esquenta Mulher', que é um frevo que começa com baião, totalmente fora da ortodoxia. Essa evolução é permanente", arremata Teles, sobre a força que o frevo tem de seguir perene, em meio a toda uma carga inesgotável e histórica que carrega, mas que, no entanto, não o exime de manter-se atento a mudanças (necessárias) e atemporais, estrategicamente pensadas nas gerações que se avizinham a cada ciclo.

"Ser de Recife, com orgulho e com saudade", portanto, é ter o frevo de outrora impregnado por letras saudosistas dos frevos de bloco, por exemplo, e que sim, permitem a exceção da intangibilidade a canções que invadem o imaginário popular e o fechar os olhos em emoção de cantá-los como se fosse a primeira vez, que o digam o "Último Regresso" de Getúlio Cavalcanti, e "Evocação" de Nelson Ferreira - esta, foi/é a mais tocada dos carnavais de 1957, 1958, 1960 (...) 1990, 2000, 2019 e, quiçá, será a de 2023, entoada por foliões que enquanto perambulam pelas ruas do Bairro do Recife, indagam Felinto, Pedro Salgado, Guilherme e Fenelon, sobre os seus blocos famosos.

Maestro SpokMaestro Spok

O bulir o corpo peculiar de um "Vassourinhas" no sobe e desce das ladeiras de Olinda, sob trombones e clarinetes, também pode integrar o rol dos frevos infindos, entre tantos outros 'arrasta-multidões' pernambucanamente maiorais - bons exemplos são o "Avec Elegance" de Spok ou as mungangas de um Maestro Forró, ambos, que dia desses ostentados como revolucionários do frevo, precisam ser (re)lembrados, e tocados, e cantados, e dançados, sempre e para sempre.

Mas quer saber de novo? O frevo é "Madeira que Cupim não Rói", e por mais que caiba o cuidado com a tradição, enveredar por novos acessos possibilitados pela liberdade intrínseca à manifestação popular que é o frevo, é também "de fazer chorar" de alegria e de brio. Bora, então, "cair no passo e a vida gozar".

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