Grand Palais vira baile de carnaval com alegorias dos carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad
Dupla foi responsável pela cenografia do Grand Bal BrasilBrésil, mais uma ação da Temporada Brasil-França em Paris
No último sábado, dia 5 de julho, o Brasil foi tema de um grande baile com cenografia dos carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad, no Grand Palais, um dos pontos turísticos mais famosos de Paris, na França. Atualmente na Escola de Samba Unidos de Vila Isabel.
A dupla recém-premiada com o PIPA 2025, levou as alegorias infláveis inspiradas no fundo do mar — uma releitura do abre-alas da Acadêmicos do Grande Rio deste ano — ao salão principal do museu francês. Batizado de Grand Bal BrasilBrésil (Grande Baile Brasil, ou Grande Baile Brasil-França em tradução livre), além do trabalho da dupla, o evento reuniu diversos elementos culturais brasileiros.
Com clima de carnaval, sabores brasileiros e ingressos esgotados, o Grande Baile marcou mais uma agenda da Temporada cultural Brasil-França, uma iniciativa para impulsionar a relação bilateral, firmada após o encontro dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Emmanuel Macron, há dois anos, em Paris. A festa contou com comidas típicas, apresentações de frevo, axé e sambistas como Jorge Aragão e Karla da Silva. Mas o destaque ficou para exposição de elementos do desfile da Acadêmicos do Grande Rio no Carnaval 2025.
As águas-vivas do abre-alas da escola de Duque de Caxias, criadas por Leonardo Bora e Gabriel Haddad, apareceram flutuando no salão do Grand Palais e chamaram atenção do público. Inspiradas no fundo do mar, as alegorias infláveis marcaram o trabalho da dupla no Sambódromo este ano e garantiu a eles o Prêmio PIPA 2025, um dia antes do evento na França.
Aliás, assim como encantou o Comitê do PIPA 2025, o trabalho tirou o fôlego de Didier Fusillier, Presidente do Grand Palais. Segundo os carnavalescos, o convite para participação no Grand Bal BrasilBrésil ocorreu em outubro de 2024 e a dupla realizou uma visita técnica em novembro. Foi quando começaram a idealizar projetos cênicos que tiveram que ser deixados de lado uma semana antes do desfile da Acadêmicos do Grande Rio no carnaval 2025.
"A visão do carro impressionou Fusillier pelo cuidado trabalho em mosaicos, temas marinhos das esculturas e principalmente, pela utilização de tons de verde água, a cor original do Grand Palais. Ele propôs, então, que elementos do carro fossem expostos no baile" explicaram Bora e Haddad.
Além dos elementos infláveis gigantescos e de oito jogos escultóricos, 250 fantasias do desfile atravessaram o Atlântico e foram utilizadas, de diversas formas, para construção do evento que coloriu Paris.
Originalmente, os infláveis compuseram a cenografia submarina do carro abre-alas "Os Portais da Encantaria". Ajudavam a contar o processo de encantamento das princesas turcas Mariana, Herodina e Jarina, que segundo as narrativas dos terreiros de Tambor de Mina do Pará, não morreram durante o naufrágio do navio em que estavam. Na verdade, eles se transformaram em entidades. Assim, os artistas foram buscar em Istambul, capital da Turquia, a inspiração para realização dos elementos.
"Como a abertura do cortejo evocava o imaginário de fausto dos palácios turcos, a inspiração para o conceito gráfico dos peixes e das águas-vivas veio de lanternas, mandalas, mosaicos, azulejos e joias que puder ver durante uma visita a Istambul, em março de 2024" compartilharam os carnavalescos.
Os padrões dos balões foram pintados a mão, com técnica mista, pelo carnavalesco Leonardo Bora. Mas foi o designer Pedro Padilha o responsável pela finalização dos desenhos dos balões, que receberam iluminação interna e um trabalho de adereçaria que só foi concluído na noite do desfile.
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Encantamento do público
Nas redes sociais, diversas postagens do público que esteve presente na festa mostram a dimensão do maravilhamento proporcionado pelos elementos.
"Que coisa mais linda, fiquei encantado" comentou um internauta.
"Uma verdadeira festa brasileira no meio de Paris, incrível" postou outra.
Além de atrair a atenção dos parisienses, o evento também serviu para fazer os brasileiros que moram longe do país, matarem um pouco da saudade da terra natal. O Grand Bal também contou com apresentação de grupos de percussão, grupos de maracatu, além de promover a experiência de dançar uma grande quadrilha de festa julina.
Conheça a dupla Leonardo Bora e Gabriel Haddad
Bora e Haddad são os carnavalescos da Unidos de Vila Isabel para o Carnaval 2026. Nomes da nova geração de narradores do Sambódromo, a dupla já fez história na principal passarela do samba, ao assinarem o desfile que consagrou o primeiro título da Grande Rio, em 2022, com enredo sobre Exu. Em 2025, bateram na trave, conquistando o vice-campeonato com a tricolor de Caxias.
Os dois chegaram ao Grupo Especial em 2020, um ano depois do vice-campeonato do grupo de acesso, pela Acadêmicos do Cubango. Antes disso, já tinham passagens pela Mocidade Unida do Santa Marta e Acadêmicos do Sossego. Em entrevista para o GLOBO, fazem questão de lembrar a trajetória e enaltecem os nomes que servem como "referências permanentes" ao trabalho.
"Fernando Pinto, Rosa Magalhães e Joãosinho Trinta, são três artistas que narraram múltiplos e contraditórios brasis, que ocuparam diversos espaços de arte mundo afora e são referências permanente"
Carregando essas referências em seus trabalhos, em 2026, eles assinarão o desfile da Unidos de Vila Isabel, por isso, têm a missão de levar para Avenida "Macumbembê, Samborembá: Sonhei que um Sambista Sonhou a África".
Prêmio PIPA 2025
O Prêmio PIPA é uma iniciativa do Instituto PIPA e celebra quatro vencedores por edição. Foi criado em 2010 para ser o principal prêmio brasileiro de artes visuais, acontece anualmente e busca descobrir novos talentos totalmente desconhecidos no universo das artes visuais. Assim, é uma premiação onde não há inscrições para concorrer, porque os artistas são indicados pelo Comitê de Indicação.
Neste ano, os quatro finalistas foram Darks Miranda, André Hygino e os carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad. Segundo o Conselho formado por nove representantes, três do Instituto PIPA e seis convidados, a dupla mereceu a colocação porque misturam Carnaval e artes visuais, criando obras que desafiam e transformam o espaço da arte contemporânea, aproximando cultura popular, saberes tradicionais e arte experimental.
Nas redes sociais, Haddad e Bora expressaram felicidade pela conquista, lembraram que o trabalho que realizam é feito em parceria com outras mãos e exaltaram a maior manifestação cultural do Rio.
"Esse Prêmio também celebra o trabalho artístico de quem nos ensinou e ensina, fazendo Carnaval e recriando o mundo há mais tempo, desde que Samba é Samba. Porque as artes produzidas por e para as instituições Escolas de Samba sempre foram contemporâneas", postaram.
Segundo o curador Luiz Camillo Osorio, já fazem alguns anos que os trabalhos ligados ao carnaval chamam atenção do Instituto. Nomes ligados aos barracões das grandes escolas já apareceram anteriormente entre os indicados, entre eles, o de Leandro Vieira, três vezes campeão do Grupo Especial. No entanto, Haddad e Bora roubaram a cena em 2025.
"Bora e Haddad levam intensidade crítica das artes para dentro da produção popular, sem perda da exuberância e do encantamento. Merecem atenção pelo deslumbre provocado, não só peça força visual, como pela sofisticação da construção narrativa, reconfigurando toda uma maneira de pensar as relações entre imaginação histórica, crítica cultural e fabulação poética" disse o curados do Instituto PIPA.
Temporada Brasil-França
O Grand Bal BrasilBrésil foi organizado pela celebração da temporada cultural Brasil-França, uma tentativa de impulso à relação bilateral, que celebra 200 anos em 2025, além de fortalecer ações conjuntas diante dos desafios políticos, sociais e ecológicos atuais.
A temporada está dividida em duas partes, uma primeira com participação brasileira na França, esta começou em abril e se estende até setembro, e uma segunda francesa no Brasil, de agosto até dezembro.
Vale ressaltar que a Temporada é implementada pelo Instituto Guimarães Rosa e pelo Instituto Francês, com colaboração da Embaixada do Brasil na França e da Embaixada da França no Brasil sob a coordenação dos Ministérios das Relações Exteriores e da Cultura de ambos os países.

