Insatisfação sobre os rumos da cultura
Classe artística se queixa da falta de ações públicas por parte da Prefeitura do Recife, apesar do aumento de verbas
A reportagem procurou a secretária Lêda Alves para tratar da recondução da pasta, mas foi informada pela assessoria de Imprensa que o secretariado está “reorganizando suas estruturas” a pedido do prefeito, cumprindo um cronograma de 90 dias de readequações organizacionais, fazendo “diagnósticos com base no monitoramento dos últimos anos para, só então, ocorrer a discussão do orçamento para cada pasta e o acordo das metas a serem cumpridas”.
A nota justifica que, “sendo assim, não há agora como antecipar quais as possíveis ações ou prioridades da nova gestão para os próximos quatro anos”. A principal queixa entre artistas e produtores culturais que atuam no Recife é justamente a falta de políticas públicas consistentes, explícita na inexistência de planos claros para a gestão reeleita. “Eu não tenho nada contra Lêda, ela já tem muito serviço prestado à Cultura à frente do Teatro de Santa Isabel e da Cepe (Companhia Editora de Pernambuco).
Minha crítica tem a ver com os resultados quase nulos da gestão dela. O orçamento do primeiro mandato de Geraldo para a Cultura foi maior que o do governo de João da Costa e mesmo com quase R$ 30 milhões a mais, se fez muito pouco. De forma prática, mostra que essa gestão tem outras prioridades: enquanto a Fundação de Cultura gastou muito com shows, o Teatro do Parque, cuja obra estava orçada em R$ 10 milhões, continua fechado”, disparou o consultor para área cultural, Leonardo Salazar.
O cálculo do consultor se explica porque durante os quatro anos do primeiro mandato de Geraldo Julio, a Secretaria de Cultura dispôs de R$ 90,616 milhões (acima do valor da gestão petista, de R$ 62,333 milhões, com o secretário Renato L.).
Outras vozes do setor reforçaram a falta de uma política pública cultural. “Até hoje a gente não sabe quais eram os planos do primeiro mandato. No teatro, nada foi feito. Os equipamentos estão fechados ou mal estruturados, não recebem incentivo, o SIC (Sistema de Incentivo à Cultura) não saiu, o fomento é uma piada.
Uma coisa simples que poderia ser feita de fato é a ocupação dos teatros, que deu super certo do Rio de Janeiro. Falta criatividade e equipe de fato, que Lêda não dispõe para pensar em saídas diante da crise. Ali dentro, as pessoas não têm muito conhecimento em gestão, de economia criativa”, disparou um dos agentes, que pediu anonimato.
Também questionado sobre a continuação de Lêda Alves como secretária de Cultura do Recife, o produtor cultural Jarmeson de Lima disse que não espera qualquer mudança daqui pra frente. “A Cultura foi a área mais desprezada dentro da gestão Geraldo Julio. Ter a permanência da atual secretária na pasta só demonstra que nada mais vai mudar”, disse. Na mesma linha, o servidor da Fundação de Cultura da Cidade do Recife (FCCR), Manoel Constantino, disse que a Cultura no Recife está relegada a terceiro plano, “quando deveria ser vista como um dos pilares da economia, como já acontece em outras partes do mundo”.
“Com todo respeito que tenho a Lêda, espero que a Cultura volte a ter um peso político e financeiro maior e que ela consiga realmente realizar uma política pública mais contundente”, comentou.
Para a produtora Paula de Renor, a continuidade de Lêda à frente da Secult é uma resposta do prefeito: “não adiantou a classe gritar e espernear, vai continuar tudo como está! A Cultura continuará sempre não sendo prioridade”.
“Admiro muito Lêda por ser uma mulher forte, corajosa, que sempre lutou e fez do teatro sua vida. Por isso, não podemos deixar que ela continue servindo de escudo para o prefeito por mais quatro anos. Não entendo porque Lêda aceitou continuar em uma secretaria sem verbas e sem força, servindo de apoio à poderosa Secretaria de Turismo”.
Respostas
A nota enviada pela assessoria de Imprensa da Prefeitura ressalta, entre as ações da primeira gestão, a implantação de um sistema de informática que agilizou os processos de contratações e a criação da Gerência Geral de Arquitetura e Engenharia, responsável pela manutenção dos equipamentos culturais.
“Garantimos a primeira etapa de requalificação do Teatro do Parque, sobre o qual, depois de um estudo minucioso realizado pelo Centro de Estudos Avançados de Conservação Integrada, foi feito um projeto que devolverá ao equipamento cultural as características de 1929”, ressalta, em nota, o presidente da FCCR, Diego Rocha.
Já a implantação da Rádio Frei Caneca, posta como “prioridade absoluta” no plano de governo apresentado na campanha de 2012, para ter operações iniciadas de imediato, entrou no ar apenas no fim de 2016 e está, até hoje, transmitindo a programação experimental, apenas musical.