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Lançados mais dois volumes de "Contos de Kolimá", de Varlam Chalámov

Escritor soviético foi preso por criticar regime stalinista

O coro do STBNB na Capela David MeinO coro do STBNB na Capela David Mein - Foto: Reprodução/Divulgação

A Editora 34 lançou mais dois volumes dos “Contos de Kolimá”, a obra mais conhecida do dissidente soviético Varlam Chalámov (1907-1982). Crítico do regime stalinista, Chalámov sobreviveu quase 20 anos na prisão, a maior parte do tempo em campos de trabalho na Sibéria. Libertado em 1951, Chalámov só retornou a Moscou após a morte de Stálin, em 1953, e começou então a redigir seus contos e poemas.

Reabilitado em 1956, viveu o suficiente para ver suas obras publicadas no exterior. Conquistou admiradores fervorosos, como o escritor Roberto Saviano (“Gomorra”), que assina o prefácio de “A Margem Esquerda”, e Svetlana Aleksiévitch, Nobel de Literatura em 2015.

Assim como o primeiro tomo dos “Contos de Kolimá”, os dois novos livros encerram escritos notáveis, com destaque para “Lida”, no segundo volume, e “A Cruz”, no terceiro. Mas o texto mais impressionante é “Sobre a Rosa”, o posfácio de “O Artista da Pá”.

Chalámov sustenta que “o romance morreu” pois o leitor perdeu a confiança na ficção: tramas artificiais o exasperam.

Na escola secundária, as pessoas se familiarizam com todos esses truques para construir um enredo ficcional: o leitor exige uma “solução para as questões de vital importância, procura respostas sobre o sentido da vida”, mas “perdeu a esperança de encontrá-la na literatura de ficção”.

“O homem de hoje”, diz Chalámov, avalia “seus atos não pelos atos de Julien Sorel [de ‘O Vermelho e O Negro’], Rastignac [de Balzac] ou Andrei Bolkonski [de ‘Guerra e Paz’], mas pelos acontecimentos e pelas pessoas da vida real”. É preciso que o autor tenha participado do “drama da vida” para oferecer seu testemunho.

A verossimilhança deixou de ser suficiente, o presente exige a verdade: “Foi o meu próprio sangue que cimentou as frases de ‘Contos de Kolimá’”. A literatura deve se ater ao realismo da fotografia: a arte é uma forma de ver o mundo. Cabe ao escritor selecionar, dentre tudo o que ele testemunhou, o que é mais relevante para a história.

O escritor trabalha por subtração. Como ele não deve “inventar” algo que não existe, só lhe cabe remover da matéria-prima fornecida pela realidade tudo o que não é essencial. Por isso, algumas histórias parecem não ter coesão: sua obra abriga “contos com e sem enredo, mas ninguém vai dizer que os segundos são menos importantes”.

Dessa perspectiva, a “forma” artística é algo secundário diante do “conteúdo”: “Nos ‘Contos de Kolimá’ não existe uma linha, uma frase, que seja literária”.

A verdade está na origem: a primeira ideia que vem à cabeça é sempre a melhor. Por isso o trabalho de elaboração formal deve ser reduzido ao mínimo, para que a autenticidade do conteúdo não seja destruída pelas tentativas de embelezar o texto.

O acabamento posterior é “uma violência do pensamento sobre o sentimento”: “Todas as repetições, todos os lapsos, sobre os quais os leitores me acusam, foram feitos por mim, não por acaso, não por descuido, não por pressa”. Foram feitos porque a estética deve se subordinar à ética.

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