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Livro de Ana Farache expõe a luz natural do Vivencial
Imagens de ensaios e apresentações de espetáculos do grupo teatral clicadas são reunidas em livro lançado hoje na Arte Plural
Nascido em meio à opressão da Ditadura Militar e sob a influência do Tropicalismo, o Vivencial foi um marco para Pernambuco. Tanto é que, vira e mexe, o nome do grupo teatral volta à tona através de alguma homenagem, seja no teatro, na literatura ou no cinema. O livro “Vivencial: imagens do afeto em tempos de ousadia” (Editora Massangana, 104 páginas, R$ 40), da fotógrafa e jornalista Ana Farache, é mais uma iniciativa que promete reascender o espírito transgressor das “vivecas”. O lançamento ocorre nesta quinta-feira (17), às 19h, na Arte Plural Galeria.
Ana Farache conviveu com a trupe entre 1979 e 1983. Neste período, ela acompanhou ensaios e apresentações de espetáculos, produzindo centenas de registros fotográficos dos artistas dentro e fora de cena. “Morei em Olinda entre 1976 e 2000. Foi onde eu conheci o pessoal do Vivencial. Eu também fazia teatro e, nessa época, era repórter e fotógrafa de jornal. Então, fazia algumas imagens para divulgar as peças. Eu tinha com eles uma relação de amizade”, relembra a fotógrafa.
A publicação, que conta com incentivo do Funcultura, reúne parte desse acervo. No total, são 105 fotos realizadas em película preto e branco, com utilizando apenas luz natural. Além de imagens dos palcos e dos bastidores, há ensaios produzidos em cenários a céu aberto. “Era um trabalho bem natural. Nós aproveitávamos muito os ambientes da vizinhança, como as fachadas das igrejas e o meu próprio quintal. Eles vestiam os figurinos e encenavam alguma coisa que remetesse ao conteúdo do espetáculo. A revelação eu fazia no laboratório que eu tinha em casa”, revela. A curadoria ficou por conta de Renata Victor, coordenadora do curso de Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).
O livro possui textos assinados pelo escritor Jomard Muniz de Britto e pela crítica de fotografia Simonetta Persichetti, que trabalha na Faculdade Cásper Líbero, de São Paulo. Também há espaço para depoimentos de ex-integrantes do grupo, que relatam suas experiências junto ao Vivencial. O grupo foi criado em 1974, em Olinda, ligado à Associação dos Rapazes e Moças do Amparo (Arma). “Eles trabalhavam contra todo tipo de censura. Até aqueles que se diziam de esquerda eram ridicularizados por causa da caretice deles. As ‘vivecas’ conseguiram fazer sua revolução com muito humor e leveza”, afirma.
Evento
O lançamento da obra será festejado com várias atrações. A primeira delas é uma exposição com 30 imagens, em formato 30x40 e impressas em papel algodão, selecionadas entre as fotos contidas na publicação. Na mesma noite, o escritor Jomard Muniz de Britto faz leitura de poemas. Um dos filmes dirigidos por ele, no início do Vivencial, ganha projeção. Já o ator Henrique Celibi revive algumas cenas que fizeram parte do repertório do coletivo olindense.