Literatura

Livro debruça sobre discurso de ódio no ambiente digital

Cepe lança nesta terça "Eu versus eles", que destaca sobre o discurso de ódio na internet nos últimos anos

Discurso de ódio é tema de livroDiscurso de ódio é tema de livro - Foto: Freepik

Enquanto acontecia o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016, uma força misógina crescia nas redes sociais. Para além do crime de responsabilidade fiscal que ela estava respondendo, uma série de acusações machistas era feita por um tribunal digital composto majoritariamente por homens. Situações semelhantes foram descritas pela jornalista Patrícia Campos Mello no livro “A Máquina do ódio”, que traz informações de como ela foi atacada por Bolsonaro e seus seguidores nas redes após uma publicação da reportagem que revelava esquema de disparo em massa nas eleições de 2018.

Esses casos revelam como o discurso de ódio tem crescido à medida que as possibilidades de diálogo diminuem no ambiente virtual. É o que mostra a escritora, professora e doutora em Linguística, a recifense Mércia Regina Santana Flannery, no livro “Nós Versus eles”, que será lançado pela Companha Editora de Pernambuco (Cepe), hoje, em live às 19h no canal da editora no Youtube (youtube.com/cepeoficial). Ela traz uma análise aprofundada dos discursos carregados de machismo, racismo, xenofobia, polarizações políticas, intolerância religiosa e homofobia em fóruns e comentários de usuários nas plataformas digitais.

Narrativa sobre discriminação

A princípio, ela defendeu sua tese do doutorado sobre narrativas de discriminação racial no Brasil. Ela passou um ano escrevendo um livro, que se transformou em 304 páginas divididas em 13 capítulos. Ao longo da produção, o leitor pode adentrar em comentários de usuários anônimos em torno de vários eixos políticos na Internet, como por exemplo: “Essas mulheres vivem parecem que vivem no cio, o cara é um monstro e nada justifica, beleza. Mas a mulher conhece o cara no tinder, bota ele dentro de casa, fala sério viu?”, diz um dos comentários abordados no capítulo sobre linguagem abusiva e insultos contra a mulher.

Linguagem acessível a todos

Os capítulos contam com uma introdução, detalhando o tema abordado, citando autores que dão o embasamento argumentativo ao que a autora apresenta em suas análises seguintes. A estrutura aparenta ser acadêmica, como o próprio ambiente em que a Mércia escreve, mas a linguagem utilizada no livro é acessível a um público mais amplo. Talvez esse seja um dos seus trunfos. O material analisado é de interesse público, mexe com as esferas políticas e de comunicação no Brasil, sobretudo aos grupos minoritários que são atacados diariamente.

Entre alguns paradigmas quebrados por Mércia Flannery está o mito da cordialidade brasileira. Em um país tão grande e diverso, naturalmente os discursos seriam de disputas narrativas. Isso aparece, por exemplo, quando Marielle Franco morre, em 2018, executada em um crime sem solução após três anos. Apesar de usuários lamentarem a morte da vereadora, grande parte dos comentários nas redes sociais associou seu assassinato pelo fato do seu trabalho ser em defesa das comunidades no Rio de Janeiro.

“Parece que as pessoas esqueceram que precisamos ter as mesmas opiniões e que dialogar sobre as diferenças é algo muito saudável. Dialogar, porém, envolve a noção de troca, o que não ocorre, se a priori, as partes já sabem - ou acreditam - que estão certas”, comenta Mércia. E, de fato, ela detalha com cuidado como esse processo acontece durante todos os capítulos. “Nós versus eles” é um material que engrandece campos de pesquisas da sociolinguística, da comunicação e tecnologia, entretanto é uma exemplificação para quem quer empenhar uma comunicação menos agressiva no ambiente das redes.

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