Foi Lô Borges quem 'criou' o Clube da Esquina; entenda
Termo se refere a um cruzamento de Belo Horizonte onde o músico juntava os amigos do bairro para brincar, papear e tocar violão nos idos dos anos 1960
Morto neste domingo (2), aos 73 anos, Lô Borges foi o verdadeiro “criador” do Clube da Esquina. O termo surgiu porque era no cruzamento entre as ruas Paraisópolis e Divinópolis, no bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte, onde vivia a família Borges, que Lô juntava a molecada do bairro para brincar, papear e tocar violão nos idos dos anos 1960.
A turma que se reunia ali inspirou a canção “Clube da Esquina”, presente no quarto álbum de Milton Nascimento, “Milton” (1970). A música virou disco e o disco virou movimento. Um jeito de se fazer música, um estado de espírito. Não há nada parecido com o Clube da Esquina. As referências vinham, às vezes, de fora para dentro, como os Beatles, pilar fundamental da estética encontrada pelo grupo, fortemente marcada por Minas Gerais, pela cultura e pela geografia montanhosa do estado, por suas janelas, vielas e das ladeiras íngremes. Não à toa, eles cantavam orgulhosos: “Sou do mundo, eu sou Minas Gerais”, disseram na canção-carta “Para Lennon e McCartney”.
Lô era um dos 11 filhos do jornalista Salomão Borges e da professora Maria Fragoso Borges, a Dona Maricota, que moravam na Divinópolis, numa casa que está de pé até hoje e que ainda pertence à família. Como um personagem vivo, a tal casa foi fundamental não só para o movimento que se estabeleceria mais tarde, servindo de abrigo para diversos encontros da turma que orbitava os Borges, entre eles Toninho Horta, Wagner Tiso, Tavito, Flávio Venturini e Beto Guedes.
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Antes disso, por um problema na fundação, a residência entrou em obra. Salomão, Dona Maricota e a prole se mudaram para o Edifício Levy, no Centro de BH. Por acaso, na escada do Edifício Levy, Lô conheceu uma voz incomum. O encontro mudaria de vez a música popular brasileira.
"Uma semana depois que chegamos no Levy, minha mãe pediu que eu fosse comprar café, leite e pão. Como todo garoto, preferia escada ao elevador", contou Lô Borges ao Globo em entrevista publicada em 2022. "Morávamos no décimo sétimo andar. Descendo os degraus, de repente me deparo com um som divino, que ficava mais alto conforme eu descia. Eram uns falsetes de voz acompanhados de violão. Quando cheguei no quarto andar, estava lá o Bituca. Eu era uma criança de 10 anos e o Milton um cara de 20, mas não fez a menor diferença, rolou uma empatia forte. Fiquei totalmente seduzido, abduzido pela voz e pelo violão dele".
Lô estava internado no Hospital Unimed, em Belo Horizonte, desde 18 de outubro, para tratar um quadro de intoxicação medicamentosa. Ele morreu por falência múltipla de órgãos, segundo boletim divulgado pela assessoria de imprensa da Unimed.

