Marcus Accioly, um marco da poesia regional contemporânea
Nos 45 anos de publicação da obra, “Nordestinados” ganha relançamento nesta segunda-feira (24), na Academia Pernambucana de Letras
“Esse foi meu segundo livro lançado, o primeiro premiado pelo Recife das Humanidades e também o primeiro a ser lançado fora do Recife (no Rio, pela editora Tempo Brasileiro). É um livro que vende bem e estava fora de comércio há algum tempo, daí a importância desta quarta edição”, comenta Marcus Accioly. As histórias ocorrem na Mata-Seca e na Mata Úmida, nos engenhos Laureano e Jaguabara. “Se vê na Mata-Úmida/ Casas-canavieiras:/ De barro-massapê/ E folhas de palmeiras”, canta o poeta na obra que traz Agreste e Sertão. “Faz parte de um mundo que eu quis, contraditoriamente, preservar e destruir: preservar através do menino-particular e destruir diante do homem-plural que, à semelhança da cana-de-açúcar, vem sendo espremido de todo sangue, até seu bagaço humano, pela tradição”.
O CD, também relançado pela Bagaço, traz 12 faixas, todas compostas por Accioly e César Barreto: “Cego Aderaldo”, “Pedra sobre pedra”, “Meninos-caranguejos”, “O Sertão”, “Gemedeira”, entre outras. No evento, Marcus Accioly será saudado pelo também poeta gaúcho Carlos Nejar, integrante da Academia Brasileira de Letras. “Meu encontro aconteceu primeiro com a poesia, depois com o poeta. Quando ‘Nordestinados’ chegou às minhas mãos, no Ceará, já musiquei alguns poemas e depois mandei para Marcus. Isso foi em 1980”, relembra o compositor.
“Pertencendo ao grupo de escritores e artistas nordestinos que, dos anos 1960 para cá, têm mergulhado nas raízes populares, de origem íbero-lusitana, latentes nos Romanceiros e Cancioneiros, na Literatura de Cordel e nas Cantorias, na Música, nas Gravuras e Esculturas primitivas, Marcus Accioly é dos poetas que hoje tentam recuperar a poesia em sua natureza primitiva: a palavra que nasceu do canto e se perpetua na voz popular”, escreve Nelly Novaes Coelho, ensaísta, crítica literária e professora, no prefácio de “Nordestinados”. Este livro se destaca, mais de 40 após seu lançamento, como uma das mais importantes diretrizes da poesia regional contemporânea, e não oferece só paisagem, mas o homem e sua realidade.