Morto aos 89 anos, Mario Vargas Llosa cumpre pacto com Gabriel García Márquez
Autores concordaram em manter sob sigilo motivo de briga em 1976
Tia Julia, prima Patricia, a hispano-filipina Isabel Preysler e até mesmo o rompimento, com direito a soco, com um amigo supostamente por causa de uma mulher.
Mario Vargas Llosa, o gênio literário peruano que morreu neste domingo em Lima aos 89 anos, viveu uma longa e intensa vida amorosa tão exposta quanto sua obra.
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Em 12 de fevereiro de 1976, o Palácio de Belas Artes da Cidade do México foi palco de um dos "socos mais famosos da literatura".
Naquele dia, Vargas Llosa deu um soco no rosto de Gabriel García Márquez, não só deixando seu olho direito roxo, mas também acabando com a amizade entre o peruano e o colombiano.
"O que você fez com Patrícia não deveria ser feito" é a frase atribuída a Vargas Llosa no calor do momento, que foi interpretada como uma alusão a um conflito entre casais.
Em abril de 2014, após a morte do autor de "Cem Anos de Solidão", o peruano declarou que os dois haviam feito um "acordo de cavalheiros" para manter em segredo o motivo da agressão.
"García Márquez e eu fizemos um pacto de que não incentivaríamos fofocas sobre nosso relacionamento, então ele morreu cumprindo o pacto, e eu vou morrer cumprindo o pacto" disse Vargas Llosa.
Tia Júlia e sobrinha
A escritora boliviana Julia Urquidi Illanes, sua tia-avó, foi o primeiro grande amor do autor. Na época, ela tinha 29 anos e havia se divorciado recentemente, e ele tinha 19.
O próprio Vargas Llosa descreveu essa relação como "bizarra" em suas memórias, em 1993.
O caso causou um escândalo familiar que azedou ainda mais o relacionamento já problemático do escritor com seu pai, Ernesto Vargas.
Vargas Llosa e Julia viveram o relacionamento furtivamente até se casarem em 1955, em segredo, no distrito de Grocio Prado, 180 km ao sul de Lima.
O casamento durou nove anos, não gerou filhos e terminou em Paris, em 1964, quando Vargas Llosa a abandonou por sua prima Patricia Llosa Urquidi, sobrinha da tia Julia.
O escritor trouxe seu casamento para a literatura em 1977, em "Tia Júlia e o Roteirista".
O romance teria repercussões inesperadas, já que ela respondeu em 1983 com o livro "O que Varguitas Não Disse", um texto amargo em que o descreve como mulherengo e infiel.
Patrícia, a mãe dos seus filhos
Em 1965, 10 anos após seu primeiro casamento, o autor casou-se com sua prima, Patricia Llosa, de 19 anos, que nasceu em Cochabamba, assim como tia Julia.
A controvérsia familiar também não foi alheia a esse relacionamento, que começou em Paris durante uma estadia do primo.
Patricia Llosa era mãe de seus três filhos (Álvaro, 1966; Gonzalo, 1967; Morgana, 1974), mas também sua metódica secretária executiva, que desempenharia um papel organizador em sua carreira.
"Peru é Patricia, a prima de narizinho arrebitado e caráter indomável com quem tive a sorte de me casar há 45 anos e que ainda suporta as manias, neuroses e birras que me ajudam a escrever. Sem ela, minha vida já teria se dissolvido há muito tempo em um turbilhão caótico (...)", disse ele sobre sua esposa perante a Academia Sueca em 2010, quando recebeu o Prêmio Nobel.
O relacionamento terminou em um escândalo de grande repercussão em 2015, quando as comemorações do 50º aniversário de casamento da família em Nova York ainda não haviam terminado.
A "socialite" Isabel Preysler
"Este foi o ano mais feliz da minha vida", disse o ganhador do Nobel à revista espanhola ¡Hola! resumindo a intensidade de seu relacionamento com Isabel Preysler.
O casal durou até o final de 2022. Eles nunca se casaram. A ex-esposa do cantor espanhol Julio Iglesias conhecia Vargas Llosa desde 1986, quando o entrevistou para o programa ¡Hola!.
O romance com a celebridade madrilena encantou os tabloides.
"Já faz algum tempo que venho despertando a curiosidade de alguns jornalistas sobre a mulher por quem estou apaixonado. Se esse é o preço que tenho que pagar para estar com a mulher por quem estou apaixonado, eu pago. Com resignação, não com entusiasmo", disse o escritor na época.

