Mestre de cerimônias da Alepe abraça a carreira musical no São João
Hildebrando Marques, de 71 anos, atua no cerimonial da Assembleia Legislativa de Pernambuco e, nas horas vagas, se dedica à sanfona
A voz marcante de Hildebrando Marques acompanha todas as sessões solenes da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). Mas quando chega o período junino, o mestre de cerimônias de 71 anos abre mão da formalidade do plenário, tira o paletó e abraça a sanfona. Ao lado da banda de forró pé de serra Xamêgo do Amor, ele revela a sua veia artística nos palcos de diversas cidades pernambucanas, mantendo viva uma paixão cultivada desde a infância.
Natural de Carpina, Hildebrando iniciou sua relação com a música inspirado no pai, que era barbeiro e tocava acordeon nas horas vagas. "Quando ele saía para trabalhar, eu aproveitava e mexia na sanfona de oito baixos. Fazia escondido, porque sabia que ele tinha um ciúme danado", revela. Certo dia, o menino acabou flagrado pelo pai, que viu talento no filho e resolveu incentivá-lo. Já familiarizado com o instrumento, passou a tocar nas festas de casamento e batizado da região.
Apesar da aptidão para a música, o carpinense encara a carreira artística como secundária em sua vida. "De segunda a sexta-feira, estou na assembleia. Há dias que largo só depois das 22h, por conta das sessões. Isso não me atrapalha, porque a música é só um hobby para mim. Dou prioridade à Alepe, que é meu ganha-pão", comenta.
Só quando os festejos juninos começam é que a sanfona ganha destaque. Nessa época do ano, Hildebrando encara uma agenda de apresentações nos finais de semana. Em cidades do Interior, como Carpina e Paudalho, o público que o acompanha nos shows nem desconfia da sua rotina diária.
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Funcionário público concursado da Alepe há 35 anos, o irmão do finado jornalista e político Paulo Marques (1948-2006) ocupa atualmente o cargo de gerente do sistema de som. Sua experiência pregressa como comunicador o fez ser nomeado também para a função de apresentar os eventos especiais realizados na casa.
"Entrei na comunicação nos anos 1970, trabalhando na Rádio Planalto, em Carpina, minha terra natal. Quando me mudei para o Recife, passei por várias emissoras. Por isso, quando virei mestre de cerimônias, já tinha familiaridade com o microfone. Mas é diferente estar no meio de tantas autoridades e se manter sereno, sem se impressionar com a patente de ninguém", conta.
Além de coletâneas e participações em discos de outros artistas, Hildebrando possui três álbuns lançados. O mais recente, "Um forrozeiro no pé de serra", possui 14 faixas, incluindo três músicas autorais e sucessos de compositores como Dominguinhos, Aciolly Neto e Beto Hortis.
Como compositor, ele já teve canções gravadas por nomes como Paulinho do Acordeon e Aracílio Araújo. Durante cinco anos, também atuou como apresentador do programa "Mosaico Cultural", exibido aos sábados pela TV Nova Nordeste, no qual recebia representantes da cultura popular, como cordelistas, forrozeiros e cantadores de viola.
Seja como cantor ou como mestre de cerimônias, Hildebrando tem na voz a sua principal ferramenta de trabalho. Especialmente no período de shows, ele procura seguir o conselho recebido de Luiz Gonzaga, ainda na juventude. "Ele me disse que quem trabalha com a voz não deve tomar bebida gelada. Confesso que negligenciei um pouco isso, mas de uns tempos para cá tenho sido mais cuidadoso", confessa.