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Morre Lô Borges, ícone do Clube da Esquina e um dos grandes nomes da MPB, aos 73 anos

Músico era referência da Música Popular Brasileira

Lô Borges passou por uma traqueostomia no último sábado (25) Lô Borges passou por uma traqueostomia no último sábado (25)  - Foto: Bárbara Dutra/Divulgação

Morreu na noite deste domingo (2), aos 73 anos, o cantor e compositor Lô Borges, um dos fundadores do histórico movimento Clube da Esquina e referência da MPB. Ele estava internado no Hospital Unimed, em Belo Horizonte, desde 18 de outubro, para tratar um quadro de intoxicação medicamentosa.

Ícone de um movimento
A esquina, o clube, tudo passa por Salomão Borges Filho, nascido em 10 de janeiro de 1952, em Belo Horizonte. Lô Borges construiu uma das trajetórias mais marcantes da MPB. Ao lado de Milton Nascimento e Beto Guedes, foi peça fundamental no movimento que revolucionou a música brasileira nos anos 1970, unindo rock, jazz, bossa nova e sonoridades latino-americanas.

Foi Lô quem organizava, nos anos 1960, o encontro da molecada no cruzamento das ruas Divinópolis e Paraisópolis, no bairro de Santa Tereza, região leste de BH. Aquela turma, que inicialmente se reunia para papear, jogar bola e tocar violão, inspirou a canção “Clube da Esquina”, presente no quarto álbum de Milton Nascimento, “Milton” (1970), e que acabou batizando também um discos mais celebrados no Brasil: “Clube da Esquina”, de Milton Nascimento e Lô Borges, de 1972.

A música virou disco e o disco virou movimento. Um jeito de se fazer música, um estado de espírito — não há nada parecido com o Clube da Esquina. As referências vinham, às vezes, de fora pra dentro, como os Beatles, pilar fundamental da estética encontrada pelo grupo. Mas também dali mesmo, de Minas Gerais, da geografia montanhosa do estado, das janelas, vielas e das ladeiras íngremes, toda sua cultura própria, da qual Lô e companhia sempre cantavam orgulhosos: "Sou do mundo, eu sou Minas Gerais", disseram na canção-carta "Para Lennon e McCartney".

Lô era um dos 11 filhos do jornalista Salomão Borges e da professora Maria Fragoso Borges, a Dona Maricota, que moravam na Divinópolis, numa casa que está de pé até hoje e que ainda pertence à família. Como um personagem vivo, a tal casa foi fundamental não só para o movimento que se estabeleceria mais tarde, servindo de abrigo para diversos encontros da turma que orbitava os Borges, entre eles Toninho Horta, Wagner Tiso, Tavito, Flávio Venturini e Beto Guedes.

O encontro com Milton
Antes disso, por um problema na fundação, a residência entrou em obra. Salomão, Dona Maricota e a prole se mudaram para o Edifício Levy, no Centro de BH. Por acaso, na escada do Edifício Levy, Lô conheceu uma voz incomum. O encontro mudaria de vez a música popular brasileira.

— Uma semana depois que chegamos no Levy, minha mãe pediu que eu fosse comprar café, leite e pão. Como todo garoto, preferia escada ao elevador —contou Lô Borges ao GLOBO em entrevista publicada em 2022. — Morávamos no décimo sétimo andar. Descendo os degraus, de repente me deparo com um som divino, que ficava mais alto conforme eu descia. Eram uns falsetes de voz acompanhados de violão. Quando cheguei no quarto andar, estava lá o Bituca. Eu era uma criança de 10 anos e o Milton um cara de 20, mas não fez a menor diferença, rolou uma empatia forte. Fiquei totalmente seduzido, abduzido pela voz e pelo violão dele.

 

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