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Mulheres cada vez mais fortes no cinema pernambucano

Cineastas ganham destaque em festivais e recebem prêmios por longas e curtas-metragens. Confira lista de produções recentes

Teatro Bonecartes apresenta hoje “Bumba Meu Boi...”Teatro Bonecartes apresenta hoje “Bumba Meu Boi...” - Foto: Divulgação

Já virou até clichê dizer que “o cinema pernambucano está vivendo uma ótima fase”, mas tal afirmação é inegável quando se observa os lançamentos cinematográficos do Estado nos últimos seis anos. Só nesse período, vieram filmes como "O Som Ao Redor" (2013), "Ventos de Agosto" (2014), "Aquarius" (2016), "Permanência" (2015) e "Boi Neon" (2016), todos premiados em festivais nacionais e internacionais como Roterdã, Locarno, Veneza e Toronto, além da indicação de "Aquarius" à disputada Palma de Ouro em Cannes.

Mas além destes filmes, há também uma movimentação cada vez maior de produções comandadas por mulheres ganhando destaque em premiações importantes. Só neste ano, pelo menos dezoito produções assinadas por cineastas mulheres - a grande maioria pernambucanas - estão disputando prêmios em festivais como o de Brasília e a mostra Goiânia de Curtas, em Goiás. Entre os nomes estão Joana Gatis, com o curta "Soledad"; Dea Ferraz, disputando Brasília com o longa “Câmara de Espelhos”, e Mariana Lacerda.

No ano passado, o grande destaque nacional foi "Que Horas Ela Volta?", da paulista Anna Muylaert, responsável também por “Durval Discos” (2002) e “É Proibido Fumar” (2009). O filme protagonizado por Regina Casé foi um dos destaques do Festival de Sundance, mas um infeliz episódio no Cinema do Museu (na Fundação Joaquim Nabuco de Casa Forte) levantou debate importante sobre a questão do machismo e preconceito no audiovisual nacional.

Na ocasião, em agosto de 2015, Muylaert foi interrompida pelos cineastas pernambucanos Claudio Assis e Lírio Ferreira durante debate de lançamento do filme. O caso gerou comentários revoltados nas redes sociais, que culminaram com penalização da Fundaj aos cineastas, que tiveram presença no cinema vetada por um ano.

Um dos pontos levantados por vários dos que saíram em defesa de Muylaert é a cultura machista do estranhamento que infelizmente, ainda existe ao se ver uma figura feminina em posição de destaque e comando. “É complicado isso, você ter uma mulher no set, em posição de comando, aquilo incomoda certas pessoas”, destaca a cineasta Dea Ferraz.
“Estou no meio audiovisual há pelo menos 15 anos. Quando eu comecei, sentia como se houvesse uma certa barreira entre o que eu estava fazendo e o cinema nacional mais mainstream. De início eu achava que era uma coisa pessoal, mas o problema é coletivo. O cinema feito por mulheres ainda é algo feito à margem do padrão. Felizmente, isso está mudando. Eu posso garantir que não foi uma mudança natural. Foi algo conquistado, lutado”, diz Dea.

Diretora do curta “Baleia Magic Park”, em competição em Goiânia, Mariana Lacerda opina que a questão é mais profunda: “Não é que nós, mulheres, não temos voz, sempre tivemos, a questão agora é ter quem escute. É difícil viver em uma sociedade patriarcal, esses conceitos acabam sendo reproduzidos mesmo que inconscientemente”.

A representatividade feminina não deixa de estar presente também na frente das câmeras. O maior destaque de “Aquarius”, por exemplo, é a atuação magistral de Sonia Braga, no papel da jornalista Clara. O filme, vale lembrar, é produzido pela francesa Emilie Lesclaux, esposa do diretor Kleber Mendonça Filho. Clara tem 65 anos, é viúva e sobreviveu a um câncer de mama. Ela tem vida social ativa, fala de sexo com as amigas e é vista não só como figura desejada, mas também desejante, chegando ao ponto de contratar os serviços de um michê, em determinado ponto da trama.

Em “Boi Neon”, de Gabriel Mascaro, Maeve Jinkings vive a caminhoneira Galega, personagem tratada de igual para igual pelos companheiros de vaquejada, incluindo Iremar (Juliano Cazarré).

Confira lista de produções comandadas por mulheres em destaque nos festivais nacionais:

Na 27a. Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo, temos 15 curtas, 8 com direção de mulheres, 3 de homens e 4 da mostra especial de Kleber Mendonça.
Já em Goiânia são 6 filmes pernambucanos, dos quais 3 tem direção de mulheres.

Em Brasília temos 2 longas, um com direção de Dea Ferraz e o outro com colaboração de Tita; de curtas temos 2 sendo um de mulher (Abigail) .

No Cachoeira Doc temos um encontro com curadoras com a presença de Maria Cardozo e Mari Porto com nosso filme Corpos Políticos , além de TODOS os filmes pernambucanos de mulheres: Abigail, Exília e Dia de Pagamento. O documentário Dia de Pagamento foi o vencedor do Pirenópolis DOC e era o único filme pernambucano no Festival.

"Maria", de Carol Correia está circulando, já esteve no Festival Cine PE, Curta Taquary, Mostra Internacional Audiovisual do Curta O Gênero, Cine Jardim

"De Profundis", de Isabela Cribari, já circulou bastante. Ganhou o É Tudo Verdade do ano passado e agora está concorrendo ao Grande Prêmio Canal Brasil de Curtas

"Exília", de Renata Claus, ganhou 2º lugar em Triunfo, além do troféu ABD

"Soledad", de Joana Gatis, ganhou em Triunfo e participa da Mostra Goiânia de Curtas

"Painho e o Trem", de Mery Lemos, vai começar a circular no Festival Internacional do Filme Etnográfico

"Não tem só Mandacaru", de Tauana Uchôa, está circulando, foi para o Cine PE, onde recebeu prêmio de melhor direção de curta pernambucano, foi ainda para o Encontro Nacional de cinema e vídeo dos sertões, Mostra Pajeú de cinema, Cine Jardim

"Estás Vendo Coisas", de Barbara Wagner, fez sua estreia na 32ª Bienal de São Paulo.

"Baleia Magic Park", de Mariana Lacerda, participou da Mostra Goiânia de Curtas e no Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo.

"Abigail", de Isabel Penoni e Valentina Edgard Homem, concorreu no Festival de Cannes (Quinzena dos Realizadores) e participa da Mostra Goiânia de Curtas. Também está no Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo e no Festival de Brasília.

Além dos já citados, na 27a. Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo, também figuram as produções:

"Dia Estrelado", de Nara Normande

"Entre Andares", de Marina Moura Maciel, Aline van der Linden

"Fotográfrica", de Tila Chitunda

"Iluminadas", de Gabi Saegesser

"Mãe e Filho", de Paolo Gregori, João Paulo Gonçalves, Maria do Rosário Gonçalves

"Quinha", de Caroline Isabel Oliveira

No Festival de Brasília deste ano, participaram os filmes "Câmara de Espelhos", de Dea Ferraz, fora de competição "Martírio", de Vincent Carelli, em colaboração com Ernesto de Carvalho e Tita, que ganhou o Prêmio Especial do Júri.

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