Mulheres do território Xucuru participam de vivência em artes visuais no projeto Troca de Saberes
O projeto resultará também na realização de um mini documentário com registros da vivência, vídeo que contará com acessibilidades (audiodescrição, LSE e Libras).
O projeto Troca de Saberes, patrocinado pelo Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura), proporcionará a mulheres da Aldeia Pedra D’àgua, no território Xukuru do Ororubá, em Pesqueira, no Agreste Central pernambucano, três dias de vivência em artes visuais. O projeto aconteceu também, entre 30/06 e 02/07, com mulheres indígenas das Aldeias Saco dos Barros e Brejo dos Padres, no território Pankararu, Jatobá, no Sertão de Itaparica.
A vivência pretende promover espaço de interação, no qual as mulheres possam trocar saberes e experiências, refletindo sobre o ser mulher, as relações de afetos individuais, entre mulheres, familiares e comunitárias e demais temas transversais trazidos pelos grupos.
Para as artistas Bruna Pedrosa e Amandine Goisbault, idealizadoras do projeto, essas experiências representam, além da apresentação da ferramenta dos mapas afetivos às mulheres dos territórios, o aprender com elas, reconhecendo a criatividade que pulsa nesses lugares e a potência das mulheres locais.
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A integração da arteterapeuta Morgana Maria ao projeto para integrar essa equipe de facilitadoras, reforça o lugar de cuidado, sensibilização e escuta terapêutica, garantindo à todas um espaço de voz e acolhimento.
A vivência e as trocas serão base para a construção coletiva de um produto artístico – o mapa afetivo, utilizando técnicas como desenho, mosaico e bordado livre sobre tecido.
O projeto resultará também na realização de um mini documentário com registros da vivência, vídeo que contará com acessibilidades (audiodescrição, LSE e Libras).
“Temos a certeza que sairemos destas vivências com a criação de mapas potentes, carregados de uma força ancestral e de uma identidade muito própria”, afirmaram Amandine, Bruna e Morgana.
Oficinas
Entre os dias 30/06 e 02/07, 20 mulheres do território Pankararu receberam a oficina Troca de Saberes, promovida pelas artistas-educadoras Bruna Pedrosa e Amandine Goisbault e a arteterapeuta Morgana Maria. O encontro se deu em torno de uma oficina de mapas afetivos e troca de conhecimentos entre todas elas.
Bruna e Amandine apresentaram o seu Mapa Afetivo da Maternidade (arte têxtil, 2019) e a metodologia de criação coletiva de mapas afetivos que elas vêm desenvolvendo nas suas oficinas. Houve uma roda de apresentações, rodas de conversa e partilha de experiências.
Em cada encontro, a arteterapeuta Morgana facilitou momentos de sensibilização para promover uma maior integração e ajudar na concentração e no estado de presença do grupo, estando também disponível na escuta terapêutica e no acolhimento das mulheres.
Juntas, as mulheres escolheram para a realização do seu mapa o tema "A mulher Pankararu", representado visualmente pela árvore sagrada Imbuzeiro. Elencaram aspectos da vida da mulher Pankararu, ilustrados no mapa com lugares afetivos como o "território-raízes", o "tronco da identidade", a "oca das parteiras, benzedeiras e curandeiras", a "Cachoeira da independência financeira", a "rama da tradição", a "serra do
trabalho", o "serrote da missão", a "vareda dos anciões", entre outros.
Juntas, aprenderam a bordar e dialogaram sobre diversos temas, em especial as evoluções que elas observam na vida da mulher Pankararu. Ficaram satisfeitas com o resultado do trabalho, e animadas para realizar
outros mapas afetivos sobre temas específicos como o das parteiras Pankararu.
Mapas afetivos
Em agosto/2019, a dupla de artistas Bruna Pedrosa e Amandine Goisbault criou a obra têxtil “Mapa Afetivo da Maternidade”, uma cartografia afetiva sobre suas experiências maternas em forma de uma grande colcha de retalhos de tecidos impregnados de memórias afetivas.
Com a exibição do trabalho em exposições e nas redes sociais, as artistas perceberam a demanda das pessoas em debaterem sobre o tema e em expressarem suas experiências e emoções pessoais.
A partir dessas interações, desenvolveram a Oficina de Mapas Afetivos, que ministraram em Goiana (Nov/2019) – Zona da Mata, Paudalho (Julho/2021) – Zona da Mata, Caruaru (Maio/2022)- Agreste, Recife (Junho/2022) - Litoral e agora no Território Pankararu - Jatobá (Julho/2023) - Sertão e no Território Xukuru do Ororubá (Julho/2023) - Agreste.
A dupla também aprovou recentemente mais quatro edições da Oficina de Mapas Afetivos através de edital, previstas para acontecerem nos próximos meses, na cidade do Recife, ampliando o mapeamento nas quatro macrorregiões do estado de Pernambuco.
SERVIÇO:
Troca de Saberes – Mapas Afetivos | Terrítório Indígena Xukuru do Ororubá
Datas: 14, 15 e 16/07/ 2023
Local: Casa de Sementes Mãe Zenilda, Aldeia Boa Vista, Território Indígena Xucuru do Ororubá (Pesqueira - PE).
Sobre as oficineitas
Amandine Goisbault é documentarista, montadora e produtora audiovisual. Coordena o projeto de vivência e formação FERA - Feminismo e Equidade para Reinventar o Audiovisual. Mais recentemente está se aventurando também nas artes visuais, com vídeo artes, obras em arte têxtil e linoleogravuras.
Desenvolve com Bruna Pedrosa o projeto RAMA - Rede Afetiva de Mães Artistas, e juntas elas ministram também a Oficina de Mapas Afetivos em diversos territórios. É mãe de duas crianças e a maternidade ocupa um lugar importante na sua vida e na sua arte, como nas obras em arte têxtil “Mapa Afetivo da Maternidade”, “Colo” e “Lembretes Urgentes” realizados coletivamente em 2019 no contexto da residência artística Confluências (SESC/PE), "Ser mãe ou Meu corpo-casa" (2021) e “Utérus” (2021) e nos documentários “Uma força extraordinária” (24 min, 2019) e “Vídeo-poema sobre maternidade” (9 min, 2020).
Bruna Pedrosa é mãe de Benício, artista e gestora de projetos culturais na Algazarra Produções Artísticas, no Recife. Arte-educadora e mestra em Artes Visuais pela UFPE/UFPB, tem pesquisas acerca da relação entre arte, educação e espaço público e entre arte e maternidade.
Em 2022, concluiu o Curso de Formação de Audiodescritores para Museus: Construindo acesso para pessoas com deficiência visual, promovido pela COM Acessibilidade Comunicacional.
Atua nas áreas de produção cultural e curadoria desde 2006, em lugares como o Instituto Tomie Ohtake (SP) e MAMAM (PE). Como gestora pública, foi diretora do Museu Murillo La Greca, de 2011 a 2013, e Coordenadora de Artes Visuais da Fundação Joaquim Nabuco, de 2013 a 2016.
É produtora executiva do Coletivo Propágulo. É integrante/fundadora do coletivo Praias do Capibaribe. Em 2016, tornou-se mãe e empreendedora, passando a atuar também como doula. Bruna materna, dança, performa, escreve, cria, produz e faz contas.
Morgana Maria é Arte Educadora com especialização em Arteterapia; Terapeuta floral, herbalista (estudo e prática de saberes com plantas e preparados medicinais), argiloterapeuta e mestre em Reiki. Também é colaboradora/bolsista no Projeto Narrativas Indígenas do Nordeste “Promoção emancipatória da saúde em territórios indígenas no semiárido como estratégia de enfrentamento às mudanças climáticas”, (Lasat/Fiocruz-PE - Neepes/ENSP/Fiocruz-RJ) e na Residência de Saúde Coletiva com Ênfase em Agroecologia (UPE).