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Nesta quarta, Belchior completa 70 anos

Com suas canções de letras poético-filosóficas e voz grave, o cantor cearense é lembrado em tributos

Porto de SuapePorto de Suape - Foto: Divulgação

 

Há exatos 70 anos, no município cearense de Sobral, nascia apenas um rapaz latino-americano chamado Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes. Belchior, nome que assumiu na carreira musical, deixou o Cea­rá para tentar a sorte nos grandes festivais musicais do Sudeste já nos anos 1970, ostentando seu violão, bigode e voz característica (e grave). A partir daí, se desta­cou com composições pa­ra nomes como Fagner e Elis Regina, além do estron­doso sucesso em caminho solo. O resto é história.
Belchior hoje é talvez mais conhecido pelo mito de ter sumido dos holofotes há pelo menos sete anos. Nem mesmo seus parentes próximos dão notícia do compositor.

A última aparição pública foi uma entrevista exibida em rede nacional pelo “Fantástico”, em 2009. Na conversa, o músico, residindo no Uruguai, chegou a declarar que estava preparando um álbum em espanhol, que nunca foi lançado. Desde então, silêncio total. A história ganha contornos ainda mais curiosos quando se descobre que Belchior abandonou não só família, mas também amigos, produtores e dívidas, que se acumulam desde o desaparecimento.
O mistério do paradeiro do cantor, no entanto, não deveria se sobrepor à trajetória marcada por clássicos, incluindo algumas das mais belas composições da Música Popular Brasileira (MPB) setentista, como “À Palo Seco” e “Como Nossos Pais”. “É genial um homem fazer o próprio mito ainda vivo. Ele sumiu porque quis, sem dúvida.

Muita gente já tentou fazer isso e eu admiro a coragem. Eu espero que ele esteja bem, e se um dia quiser voltar, que volte!” opina o músico pernambucano Juvenil Silva. No Recife, as sete décadas do cearense serão comemoradas com show-tributo da Banda dos Corações Selvagens, liderada por Juvenil, no espaço Mundo Novo (rua Velha, 307, Boa Vista), às 22h. Ingressos: R$ 10 (único).
Belchior faz parte da “turma do Ceará” que inclui ainda músicos como Ednardo e Raimundo Fagner. Sua música traz certo lado poético e filósofo para a MPB. “A minha alucinação é suportar o dia a dia. E meu delírio é a experiência com coisas reais”, diz, na letra de “Alucinação”. “Acredito que ele será um artista sempre redescoberto a cada geração. Belchior possui uma obra ímpar no cancioneiro popular brasileiro”, diz o pernambucano Bruno Souto.
O interesse pela obra de Belchior ainda é nitidamente crescente nas gerações atuais. Segundo levantamento do Ecad, a composição “Como Nossos Pais”, na voz de Elis Regina, é a música mais regravada da cantora, no período de 2010 a 2014. Foi neste ano, inclusive, que o jornalista Marcelo Costa, do portal Scream & Yell, lançou o tributo “Ainda Somos os Mesmos”, com músicas de Belchior regravadas por artistas da cena indie. “Fui mergulhar na obra nos anos 1990, quando muitos de seus discos foram relançados em CDs. Daí eu me apaixonei pela poesia dele. Foi um prazer imenso ter lançado o ‘Ainda Somos os Mesmos’, que se tornou um trabalho primoroso” diz Marcelo. O registro já bateu a marca de 15 mil downloads, provando que mesmo longe dos holofotes, o fascínio pela obra de Belchior “ainda é o mesmo, e continua como nossos pais”.

 

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