LUTO

Nobel da Paz, ativista antiapartheid Desmond Tutu morre aos 90 anos

Tutu é um símbolo da luta contra o apartheid na África do Sul

Desmond TutuDesmond Tutu - Foto: Rodger Bosch / AFP

O arcebispo anglicano Desmond Tutu, um símbolo da luta contra o apartheid na África do Sul, vencedor do Prêmio Nobel da Paz, morreu neste domingo (26) aos 90 anos, o que provocou uma série de homenagens a um dos últimos ícones de sua geração.

"O falecimento do arcebispo emérito Desmond Tutu é outro capítulo de luto na despedida de nossa nação a uma geração de sul-africanos excepcionais que nos deixou uma África do Sul liberta", afirmou o presidente Cyril Ramaphosa em um comunicado.

Ramaphosa expressou "em nome de todos os sul-africanos" sua "profunda tristeza com a morte" de uma figura essencial da história sul-africana, pouco mais de um mês depois do falecimento de Frederik de Klerk, o último presidente branco do país. 

"Desmond Tutu era um patriota sem igual; um líder de princípios e pragmatismo que deu sentido à compreensão bíblica de que a fé sem obras está morta", completou.

"Um homem de intelecto extraordinário, integridade e invencibilidade contra as forças do apartheid, ele também era terno e vulnerável em sua compaixão por aqueles que sofreram opressão, a injustiça e a violência sob o apartheid, e pelas pessoas oprimidas ao redor do mundo", recordou Ramaphosa.
 

Após a chegada da democracia em 1994 e da eleição de seu amigo Nelson Mandela como presidente, Desmond Tutu, que criou o termo "Nação Arco-Íris" para a África do Sul, presidiu a Comissão da Verdade e da Reconciliação (CVR), criada com a esperança de virar a página do ódio racial.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, expressou "profunda tristeza" pela morte do arcebispo sul-africano, de quem elogiou a "liderança intelectual".

"Foi uma figura chave na luta contra o apartheid e na luta para criar uma nova África do Sul. E será lembrado por sua liderança espiritual e bom humor irreprimível", escreveu Johnson no Twitter.

O "Arch", diminutivo de arcebispo em inglês, tinha problemas de saúde por um câncer de próstata diagnosticado em 1997 e não falava mais em público, mas nunca esquecia de acenar para as câmeras durante suas aparições. 

Ele faleceu tranquilamente às 7h (2h de Brasília), de acordo com várias pessoas próximas à família entrevistadas pela AFP.

Com seu sorriso famoso ou com um olhar curioso por trás da máscara, ele ainda chamava a atenção do público, como quando foi vacinado contra a covid-19 ou durante uma cerimônia religiosa para celebrar os seus 90 anos.

Em sua antiga paróquia, a Catedral de St George, uma oração foi celebrada em sua memória. E várias pessoas começaram a se reunir com flores diante de sua casa. 

"Sua morte é tão triste, era um homem profundamente bom", disse Diane Heard, uma aposentada. 

Perda "incomensurável"

A Fundação Mandela afirmou que a morte de Tutu é uma "perda incomensurável". 

"Para tantas pessoas na África do Sul e no mundo inteiro, sua vida foi uma bênção", afirmou a fundação, que o chamou de pensador, líder e pastor. 

As homenagens também vieram do grupo de personalidades conhecido como "The Elders", uma organização criada em 2007 por Mandela e da qual Tutu foi o primeiro presidente. 

Em um comunicado, a instituição - que tem a presença de Ban Ki Moon, Kofi Annan, Jimmy Carter, entre outros - criada para resolver problemas aparentemente sem solução, elogiou Tutu como uma "inspiração".

"The Elders perderam um amigo querido, com um sorriso contagioso e senso de humor travesso que encantaram a todos. O mundo perdeu uma inspiração - mas uma cujas realizações nunca serão esquecidas".

Desmond Tutu ganhou fama nos momentos mais complicados do apartheid quando, como líder religioso, comandou passeatas pacíficas contra a segregação e para pedir sanções contra o regime de supremacia branca. 

Ao contrário de outros ativistas da época, sua posição o salvou de ser preso e sua luta pacífica foi reconhecida com o Prêmio Nobel da Paz em 1984.

Fiel a seus compromissos, Desmond Tutu foi um duro crítico dos sucessivos governos do Congresso Nacional Africano (ANC na sigla em inglês), movimento e partido que lutou contra o apartheid antes de chegar ao poder. Também criticou o ex-presidente Thabo Mbeki, assim como a corrupção e as falhas na luta contra a aids. 

Em todas as áreas criticou o 'status quo' em temas como raça, direitos dos homossexuais e, inclusive, expressou apoio ao movimento a favor da morte assistida. E encarou a morte de frente. "Eu me preparei para minha morte e deixei claro que não desejo ser mantido vivo a qualquer custo", afirmou em um artigo publicado no jornal The Washington Post em 2016.

"Espero ser tratado com compaixão e ter permissão para passar à próxima fase da jornada da vida da maneira que escolhi", completou. 

Desmond Tutu deixa uma viúva, Nomalizo Leah Shenxane, e quatro filhos.

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