Novo "Branca de neve", com Rachel Zegler e Gal Gadot, é alvo na guerra cultural da extrema-direita
Filme estreia no Brasil no dia 20 de março; pré-estreia em Los Angeles não terá repórteres
Era para ser uma versão live-action de uma das mais populares princesas da Disney, mas acabou se tornando uma maçã difícil de o estúdio digerir.
"Branca de Neve", que estreia no Brasil no dia 20 de março, tem trazido tantos problemas para a empresa que até a pré-estreia, no próximo sábado (15), em Hollywood, promete ser menos badalada do que o usual.
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Segundo a revista Variety, repórteres não poderão participar do tapete vermelho para entrevistar atores e membros da equipe criativa— um hábito tradicional em todo e qualquer grande lançamento.
Só alguns fotógrafos e pessoas do staff estarão na porta do El Capitan Theatre, onde passarão as atrizes Rachel Zegler, intérprete da Branca de Neve, e Gal Gadot, escolhida para viver a Bruxa Má.
Essas medidas — que a Disney preferiu qualificar como um evento mais intimista, para "amigos e família", como o próprio filme — parecem ser uma estratégia para proteger a imagem das estrelas e, em última instância, da próprio produção, que, desde o princípio, virou alvo de uma guerra cultural da extrema-direita e de grupos conservadores.
O primeiro tema a mobilizar discursos de ódio nas redes sociais foi a escalação de Rachel Zegler, uma jovem atriz de 23 anos, com ascendência colombiana.
Grupos contra pautas ligadas a representatividade racial, de gênero ou geográfica (os chamados anti-woke) rechaçaram a ideia de uma moça de fenótipo latino para viver a princesa imaginada pelos estúdios de Walt Disney em 1937, de pele alvíssima e cabelos negros.
O discurso progressista de Zegler também não contribuiu para sua imagem, num momento de emergência do conservadorismo impulsionado pelas redes sociais e que culminou com a eleição de Donald Trump.
Ela disse, numa entrevista, que o filme original era datado porque o príncipe "literalmente perseguia a Branca de Neve".
"Ela não vai sonhar em ser salva pelo príncipe, não vai sonhar com amor verdadeiro", disse a atriz, que fez sua estreia no cinema em "Amor, sublime amor", de Steven Spielberg, em 2021. "Ela vai sonhar em ser a líder que ela sabe que pode ser".
Até o ator com nanismo Peter Dinklage, famoso por "Game of thrones", não poupou a Disney de críticas, não só pela escalação, mas por trazer o filme novamente aos holofotes.
“Sem querer ofender ninguém, mas fiquei um pouco surpreso quando eles estavam muito orgulhosos de escalar uma atriz latina como Branca de Neve, mas ainda assim estão contando a história de ‘Branca de Neve e os Sete Anões’”, disse ele em janeiro de 2022.
Em entrevista à Vogue mexicana neste mês, ela disse entender que as críticas vinham da paixão pelo filme original. "Que honra fazer parte de algo pelo qual as pessoas são tão apaixonadas.
A gente nem sempre vai concordar com todo mundo que nos cerca e só podemos fazer nosso melhor". Nessa altura do campeonato, no entanto, há pouco ser feito.
Até a guerra do Oriente Médio entre Israel e o grupo terrorista Hamas acabou respingando no conto de fadas. As posições das duas grandes estrelas do filme foram constantemente justapostas nas redes sociais.
Rachel Zegler e seus apoios à “Palestina livre” eram colocados ao lado dos da israelense Gal Gadot, que se tornou mais enfática no tema política depois dos atentados de 7 de outubro, quando o Hamas invadiu Israel e fez reféns na Faixa de Gaza.
"Nunca imaginei que, nas ruas dos Estados Unidos e em diferentes cidades do mundo, nós veríamos as pessoas não condenando o Hamas, mas celebrando, justificando e torcendo pelo massacre de judeus", disse a atriz num evento em Nova York no início do mês.
Segundo fontes ouvidas pela revista The Hollywood Reporter, o marketing da Disney tem tido uma atuação tímida em relação a "Branca de Neve".
As pré-vendas de ingressos nos Estados Unidos começaram apenas na última segunda-feira, com menos de duas semanas para a estreia, algo pouco usual, se comparado a "Mufasa: O rei leão" e ao live-action de "A pequena sereia", cujas vendas se iniciaram um mês antes.
“Eles têm feito tudo no automático, praticamente dizendo: ‘precisamos nos livrar disso’”, disse uma fonte do setor de exibição a THR.
“Um ciclo de vendas antecipadas de menos de duas semanas grita ‘não temos nenhuma fé nisso’”.
A revista diz que fontes internas do estúdio refutam essa tese ao afirmar que a ideia sempre foi intensificar os planos de marketing a partir do Oscar, quando Rachel Zegler e Gal Gadot subissem juntas o palco do Dolby Theatre.
De fato, elas apresentaram o prêmio de melhor efeitos especiais no último dia 2.
Apesar das polêmicas, aparentemente o lançamento deve ir bem em seu primeiro fim de semana.
Um dos principais serviços de rastreamento consultados pela The Hollywood Reporter, projeta uma estreia de "Branca de Neve" com bilheteria nos EUA entre US$ 50 milhões e US$ 56 milhões.
"Se atingir a faixa mais alta, ficará relativamente próxima do remake de 'Cinderela', que arrecadou US$ 67 milhões em sua estreia em 2015", escreveu a revista.